Redação (05/09/2008)- Segundo analistas, o freio no ritmo do custo de vida está atrelado a dois principais movimentos da economia: a queda generalizada no preço das commodities (produtos básicos) e o ritmo menor no aumento dos preços dos alimentos. Um índice elaborado pela RC Consultores, que abrange a cotação dos principais produtos básicos exportados pelo Brasil, recuou 4,9% em agosto em relação a julho. Isso aconteceu devido à desvalorização de 8,2% na cotação das commodities agrícolas e de 2,9% na de commodities não-agrícolas.
Os preços que mais caíram foram os de suco de laranja (-17,9%), grão de soja (-17,1%) e farelo de soja (-16,1%).
Investidores fora
Na avaliação do diretor da RC Consultores, Fábio Silveira, as commodities subiram de preço no primeiro semestre porque os investidores ficaram sem opção no mercado global. A renda fixa e a variável não estavam bem, e, por isso, migraram seus investidores para as commodities, elevando a especulação de preços.
"Não dava para investir em títulos do tesouro americano, que é renda fixa, porque eles estavam com rendimento negativo. Na Bolsa, que é renda variável, muita gente não quer arriscar no momento. Então, uma parte do capital foi para a negociação de commodities", diz.
Mas com o risco de recessão nos EUA e na Europa e menor projeção para o crescimento mundial, parte dos investidores resolveu tirar seus recursos das commodities com medo de uma crise financeira. Essa retirada de dinheiro provocou queda nos preços das matérias-primas negociadas em Bolsa, o que ajudou a reduzir a inflação.
A queda no preço das commodities amenizou a variação do IPA (Índice de Preços no Atacado), que representa 60% do IGP-M (Índice Geral de Preços- Mercado), para 0,74% em agosto, contra 2,2% apurados em julho. Em agosto, o IGP-M apresentou deflação de 0,32%.
A economista da Tendências Consultoria Marcela Prada explica que os preços no atacado registraram variação negativa (deflação) por refletirem diretamente a cotação das commodities no mercado internacional. Os preços ao consumidor não mostraram desaceleração tão grande, por considerarem apenas os valores dos derivados das matérias-primas, que não caíram tanto.
Comida desacelera
O segundo movimento que ajudou a reduzir as expectativas para a inflação foi um ritmo menor na alta dos preços da comida.
No primeiro semestre deste ano, a pressão sobre este grupo já era esperada, segundo o professor de Finanças do Ibmec São Paulo Alexandre Jorge Chaia. Problemas climáticos, perda de safras e o crescimento do consumo chinês foram fatores que pressionaram.
"Agora é natural que haja uma redução dessas expectativas devido à entrada de nova safra, redução na atividade econômica mundial e aumento dos juros, que freia o consumo", afirma.
A desaceleração de preços já tem sido observada nos índices de inflação, sendo que em todos eles a maior contribuição para o abrandamento vem do menor ritmo dos preços do grupo alimentos.
O IPC-S (Índice de Preços ao Consumidor Semanal) desacelerou para 0,14% em agosto, após ter ficado em 0,53% em julho. No período, os preços do grupo alimentação recuaram 0,71%. Foi a menor taxa para esta categoria desde a primeira semana de julho de 2006.
O IPC-fipe desacelerou para 0,38% em agosto, contra 0,45% de julho. Foi o menor nível mensal desde março, quando havia alcançado 0,31%. O grupo alimentação fechou o mês com baixa de 0,49% e foi a maior queda desde junho de 2006.
O IPC-C1 (Índice de Preços ao Consumidor-Classe 10, que mede a inflação para consumidores de baixa renda, com renda de um a 2,5 salários mínimos mensais, registrou deflação de 0,32% em agosto e foi o menor resultado desde junho de 2006, quando havia ficado em -0,57%. O grupo alimentação saiu de 0,98% em julho para -1,35% em agosto.