Os preços da maior parte das commodities agrícolas negociadas pelo Brasil no exterior acusaram os reflexos da crise na zona do euro e da valorização do dólar e recuaram em maio. Segundo levantamento do Valor Data, com base nas médias mensais dos contratos futuros de segunda posição de entrega (normalmente os de maior liquidez) dos produtos referenciados nas bolsas de Chicago (soja, milho e trigo) e Nova York (açúcar, algodão, cacau, café e suco de laranja), apenas cacau e trigo escaparam da tendência no mês passado. Mesmo assim, por pouco.
Se as turbulências financeiras turvam o horizonte para o comportamento da demanda global, num contexto em que se destacam os calafrios em relação à desaceleração da economia chinesa, do lado da oferta o quadro é positivo para a maior parte dessas commodities – e, por conseguinte, baixista para as cotações.
Particularmente no mercado de grãos, onde a China ainda se destaca pelo apetite importador, a mudança de polo do “fator oferta” abriu espaço para as quedas da soja e do milho em maio. Após meses sustentados pelas quebras na América do Sul, por conta da seca causada pelo La Niña, os preços já refletiram com mais força, em maio, as até aqui boas perspectivas climáticas para a produção no Hemisfério Norte na safra 2012/13.
É verdade que há regiões dos Estados Unidos com baixa umidade. “A região sul do Meio-Oeste começa a sentir uma queda significativa de umidade do solo, e previsões apontam um clima mais quente do que a média para junho”, disse no dia 30 o vice-presidente da mesa de derivativos para América Latina da Jefferies Bache, Stefan Tomkiw. O plantio de milho, que seguiu em ritmo acelerado no país, já foi concluído, o que ajuda a diluir riscos nesse mercado.
No trigo, o nervosismo é maior, tanto por causa dessa baixa umidade nos Estados Unidos quanto pela expectativa de alguma perda na Rússia e na Austrália, também em decorrência de estiagens.
Dos três principais grãos de Chicago, o trigo foi o único a encerrar maio com cotação média superior à de abril. Com a leve alta de 1,3%, a variação positiva ante a média de dezembro de 2011 chegou a 3,9%. Já o milho caiu 9,3% entre abril e maio, e a variação desde dezembro passou a ser negativa (7,3%).
No caso da soja, o resultado do mês passado foi 2,5% inferior, influenciado pelo enxugamento das posições dos fundos. O La Niña na América do Sul manteve a oleaginosa no radar, mesmo depois que os fundos fugiram de outros produtos agrícolas, mas o esvaziamento desse fator após a colheita em países como Argentina e Brasil abriu espaço para ajustes derivados das turbulências financeiras. Em relação à média de dezembro, a valorização ainda alcança 22,1%.
Em Nova York, o grande protagonista foi o suco de laranja. Como uma bigorna, a cotação média caiu 21,6% em maio em relação a abril e ampliou as perdas sobre dezembro para 30,2%. Com o consumo global em baixa, oferta gorda no Brasil e perspectivas de que a temporada de furacões que se inicia na Flórida será amena para os pomares do Estado, não há motivos para drástica mudança de direção.
“A não ser que algum tipo de ameaça climática surja nos EUA, as valorizações serão limitadas”, disse Jack Scoville, da Price Futures, em 14 de maio. No Brasil, maior exportador mundial, a cadeia produtiva esteve Brasília na quarta-feira em busca de ajuda do governo, mas até o momento teve que se contentar com uma receita à base de vitamina C, que está sobrando.
Outro produto dependente da saúde da China e com oferta ampla, o algodão encerrou maio com preço médio 12,1% inferior ao de abril. Com isso, a variação sobre dezembro ficou negativa em 11%. John Flanagan, da Flanagan Trading, afirmou no dia 16 que o “mercado” tentava desencorajar o plantio em 2012/13. Na Índia, por exemplo, a “tentativa” foi inútil.
No mercado de açúcar, o avanço da colheita de cana no Brasil colaborou para tirar sustentação dos preços. Na média mensal, os futuros recuaram 8,2% ante o mês anterior e a queda sobre dezembro chegou a 10,3%. No dia 29, o banco Morgan Stanley projetou preços mais baixos para o ciclo 2012/13.
Também negativo ficou o café, que recuou 3% ante a média de abril e 22,5% ante dezembro. Relatório do banco alemão Commerzbank no fim do mês informou que, embora seja esperada uma produção elevada no Brasil, um improvável aumento da produção da Colômbia e os estoques baixos no mundo podem dar suporte às cotações e estancar a hemorragia.
Na contramão, o cacau encerrou maio com preço médio 2% mais alto que em abril e 3% superior ao de dezembro. E o banco holandês Rabobank vê espaço para novas valorizações, a depender dos resultados de uma nova política de vendas da Costa do Marfim, maior exportador mundial, e da crescente demanda de países da Ásia.
Ainda que os exportadores brasileiros das commodities que estão em quedas mais acentuadas tenham sido em parte compensados pela alta do dólar, algumas baixas chamam a atenção. Segundo o Valor Data, em maio a cotação média do suco foi a mais baixa desde outubro de 2009, a do algodão foi a menor desde junho de 2010, a do café desceu ao nível de julho de 2010, a do açúcar ao patamar de agosto de 2010 e a do milho caiu ao degrau de novembro de 2010.