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Economia

Commodities em ritmo de acomodação

Tendência de acomodação dos preços internacionais das commodities agrícolas em patamares mais baixos ganha força no primeiro trimestre.

Commodities em ritmo de acomodação

A grande maioria das principais commodities agrícolas negociadas pelo Brasil no exterior vai encerrar o primeiro trimestre de 2013 com cotações médias inferiores às do quarto trimestre de 2012 no mercado internacional, conforme cálculos do Valor Data baseados nos contratos futuros de segunda posição de entrega comprados e vendidos nas bolsas de Nova York (açúcar, café, cacau, suco de laranja e algodão) e Chicago (soja, milho e trigo).

As exceções são algodão e suco, cujos preços ensaiaram recuperações nos últimos meses depois dos tombos do ano passado. Mas, como todos os demais produtos referenciados no mercado nova-iorquino, ambos também não escaparam de encerrar o período com médias inferiores às do intervalo entre janeiro e março do ano passado, comparação que só apresenta resultados positivos para os grãos de Chicago – “amparados” que foram pela estiagem que prejudicou severamente a produção nos EUA na safra 2012/13, já colhida no Hemisfério Norte.
 
De uma maneira geral, assim, as variações observadas em março e seus reflexos sobre as médias do primeiro trimestre corroboraram a tendência de acomodação dos preços das commodities agrícolas em patamares inferiores ou, no máximo, semelhantes aos praticados no ano passado. Em parte porque a demanda internacional ainda provoca incertezas, dadas as fragilidades que insistem em cercar as economias de países desenvolvidos, mas também em virtude de recomposição de ofertas, notadamente no caso dos grãos.

Estes, por sinal, sentiram o peso do Brasil neste mês, já que os gargalos logísticos do país prejudicam o atual escoamento da produção da safra 2012/13 do país e colaboram para oferecer sustentação sobretudo às cotações da soja, carro-chefe do agronegócio nacional. Com a “ajuda” das filas de caminhões em estradas do Centro-Oeste e dos grandes congestionamentos no porto de Santos (SP) – que levaram uma grande trading chinesa a cancelar embarques -, a soja encerra março (o balanço foi fechado no dia 27) com preço médio apenas 0,6% menor que o de fevereiro.

Em relação a dezembro de 2012, a média deste mês é 0,9% inferior, mas na comparação com março do ano passado ainda há valorização de 6,1%. Mesmo com a quebra da safra argentina, muitos analistas esperavam que a entrada da safra sul-americana fosse exercer uma pressão maior no mercado e preparar o terreno para quedas maiores depois de confirmadas as perspectivas de aumento da colheita nos EUA na safra 2013/14, que começará a ser semeada nos próximos meses. Nessa trilha, a média do primeiro trimestre é 3,3% menor que a do quarto trimestre de 2012, mas 11,9% superior à média de janeiro a março do ano passado.

Considerado quase uma “barbada” depois que uma severa estiagem afetou o ciclo 2012/13 no país, o crescimento da produção de soja nos EUA ainda poderá ser evitado pelo risco de nova estiagem em áreas produtivas do Meio-Oeste na próxima temporada, mas até agora não há grandes danos previstos pelos radares meteorológicos. As perspectivas de recuperação da produção nos EUA também já influenciam as direções do milho em Chicago, e para o segundo semestre a maior parte das projeções sinaliza queda das cotações, mesmo com estoques apertados.

Em março, a cotação média do milho manteve-se firme, com a demanda pelo produto americano influenciada pela grande oferta brasileira – fruto da safrinha recorde de 2011/12 e do início do escoamento da atual safra de verão -, mas ainda forte. Na comparação com fevereiro, há alta de 0,7%, e o ganho sobe para 9,5% em relação a março do ano passado. Em relação a dezembro, entretanto, há retração de 1,9%. Como no caso da soja, a média do milho no primeiro trimestre é menor que a do quarto trimestre de 2012 (4,1%) e maior que a do primeiro do ano passado (10,3%), o que comprova que a estiagem de 2012/13 nos EUA de fato bateu de frente nas cotações.

O trigo, por sua vez, navegou ao sabor do clima nas Grandes Planícies americanas, e como as condições melhoraram as cotações caíram. Segundo o Valor Data, a média de março é 3,6% mais baixa que a de fevereiro e 12,9% inferior a de dezembro, mas ainda 9,1% maior que a de março de 2012. E, como nos casos de soja e milho, a média do trigo neste primeiro trimestre é mais baixa que a do quarto trimestre de 2012 (13,3%), mas maior que a do primeiro trimestre do ano passado (14,1%).

Entre as “soft commodities” transacionadas em Nova York, houve poucas mudanças ligadas aos fundamentos de oferta e demanda. A expectativa de aumento da oferta brasileira continua a pressionar açúcar e café, e a situação favorável no oeste da África faz o mesmo sobre o cacau. Suco e algodão, as exceções “altistas” de março e do primeiro trimestre, foram suportadas, respectivamente, pelas ameaças climáticas aos pomares da fruta na Flórida e pelo aumento da demanda após a queda livre das cotações em 2012.

Nesse cenário, apenas suco e algodão não fecham o primeiro trimestre com quedas em relação ao intervalo entre outubro e dezembro do ano passado no mercado nova-iorquino – as altas nesta comparação chegam a 3,5% e 13,5%, respectivamente. O ranking das quedas é liderado pelo cacau (9,7%), seguido por café (7,6%) e açúcar (6,1%). Em relação às médias do primeiro trimestre de 2012, apenas baixas. A maior ainda é a do suco (32,4%), seguida por café (29,7%), açúcar (22,3%), algodão (10,6%) e cacau (9,7%).