A turbulência provocada nos mercados globais pelo início da crise da gripe “A/H1N1” na última semana de abril não evitou que as oito principais commodities agrícolas negociadas pelo Brasil no mercado internacional encerrassem o mês com preços médios superiores aos registrados em março.
Cálculos do Valor Data baseados nas médias mensais nos contratos futuros de segunda posição de entrega (normalmente os de maior liquidez) negociados nas bolsas de Chicago (grãos) e Nova York (“soft commodities”) mostram que, em relação a dezembro, soja, milho, açúcar, café, cacau, suco de laranja e algodão também apresentam alta. A exceção, neste caso, é o trigo.
Analistas dos diferentes mercados consultados pelo Valor afirmam que, na maioria dos casos, os fundamentos de oferta e demanda justificam o comportamento das cotações, mesmo diante das incertezas derivadas do aprofundamento da crise financeira irradiada a partir dos EUA em setembro de 2008.
Mas eles também realçam que, em virtude das medidas de reação aos efeitos da crise que se multiplicaram em países desenvolvidos e emergentes, as commodities mantiveram-se atraentes aos olhos dos investidores. E, obviamente, os produtos com fundamentos mais “altistas” tornaram-se mais interessantes.
“Em diversos países, a economia está trabalhando com juros muito próximos de zero. Nesse cenário, os investidores têm de procurar alternativas, e de uma maneira geral essa migração tem favorecido as commodities agrícolas”, afirma Paulo Molinari, da Safras&Mercado. São movimentos que pressionam o dólar, e normalmente os valores das moeda americana e as commodities caminham em direções opostas.
O movimento é mais perceptível na bolsa de Chicago, onde são negociados milho, soja e trigo, as agrícolas de maior liquidez. Para soja e milho, as previsões mais baixas para a demanda – devido à desaceleração econômica global – foi compensado por quebras de safra na América do Sul, especialmente na Argentina, e pelas primeiras projeções de área plantada nos EUA em 2009/10.
Nessas, o aumento de área previsto para a soja ficou aquém das expectativas dos analistas, enquanto para o milho houve queda. No caso do trigo, apesar da quebra argentina da queda da área americana em 2009/10, a última safra dos EUA foi “cheia” e a Austrália recuperou espaço na oferta, fatores que justificam ganhos mais tímidos nos preços.
Segundo o Valor Data, o bushel da soja encerrou abril com cotação média de US$ 10,1370, altas de 12,43% em relação a março e de 16,15% no ano. O milho foi negociado, em média, por US$ 3,9654, 2,69% mais que em março e com salto de 5,71% no ano. No trigo, cujo preço médio atingiu 5,3813%, a variação positiva sobre o mês anterior foi de 1%, mas no ano a queda ainda ficou em 2,07%.
Também impulsionados pela recuperação das importações chinesas, os preços da soja, para alguns especialistas, pode estar inflado por um maior apetite dos fundos. E esta “bolhinha”, se de fato ela existir, pode estourar. Mas o estrago não seria grande por causa dos fundamentos.
É preciso observar que milho e soja, bases importantes para a produção de rações, são mais suscetíveis aos efeitos de uma eventual queda significativa no consumo de carne suína – a preferida na China, por exemplo – por conta da gripe “A/H1N1”. Mas o setor de carnes descarta um cenário mais sombrio.
Em Nova York, algumas altas surpreenderam. Foi o caso do algodão, cuja cotação média subiu 14,77% sobre fevereiro, para 50,12 centavos de dólar por libra-peso e passou a apresentar ganho de 9,88% no ano. “Os preços caíram muito nos últimos meses. Por isso, tem atraído agora interesse de compra”, afirmou Fernando Martins, da corretora Newedge. Os bons volumes da pluma exportados pelos EUA colaboraram.
Até o suco de laranja, golpeado nos últimos anos por incertezas profundas em relação à demanda global, teve valorização de 11,75% em relação à média de março, para 83,58 cents por libra-peso, e passou a acumular ganho de 11,56% no ano. A estiagem na Flórida, segundo principal polo produtor, ofereceu suporte pelo lado dos fundamentos.
O açúcar manteve-se firme, ainda como reflexo da quebra da safra da Índia, segundo maior produtor global, atrás do Brasil A quebra da safra de cana indiana tem sido o principal fator de suporte aos preços. Em abril, a cotação média da commodity negociada em Nova York foi de 13,55 cents por libra-peso, 1,46% mais que no mês anterior e 14,27% acima da média de dezembro de 2008.
No café, a menor safra da Colômbia e do Brasil, por conta da bianulidade da cultura, seguem a oferecer sustentação. Nas últimas semanas, o mercado começou a pagar prêmio aos grãos de qualidade da Colômbia, uma vez que há forte escassez de produtos especiais no mercado global. Em abril, o café alcançou a média de US$ 1,1734 por libra-peso, altas de 4,43% sobre março e de 6,04% no ano.
E o cacau, finalmente, não fugiu ao script, aproveitou a onda favorável às commodities e subiu 2,63% na comparação com a média de março, para US$ 2.498 a tonelada. Em 2009, a alta chega a 2,24%.