Os preços das principais commodities agrícolas negociadas pelo Brasil no exterior confirmaram as expectativas e permaneceram em patamares elevados em janeiro, ainda sustentados por demandas em geral firmes, restrições ou ameaças às ofertas, dólar fraco e forte interesse de grandes fundos de investimentos nesses mercados.
Cálculos do Valor Data baseados nas médias mensais dos contratos futuros de segunda posição de entrega – normalmente a de maior liquidez – de produtos referenciados ou na bolsa de Chicago (soja, milho e trigo) ou em Nova York (açúcar, algodão, cacau, café e suco de laranja) mostram que todos eles encerraram janeiro com ganhos em relação a dezembro – entre 3,57% (cacau) e 9,51% (algodão) – e que quase todos, exceto o cacau, apresentam valorizações em relação às médias de janeiro do ano passado, entre 9,69% (açúcar) e 100,17% (algodão).
Nesse contexto, aumentaram o temor de que o encarecimento mundial dos alimentos provoque uma nova crise permeada por protestos em países mais pobres, como em 2008, e a pressão internacional para a adoção de mecanismos que contenham a especulação e a volatilidade na bolsas (ver matéria acima).
No que depender dos fundamentos de oferta e demanda, lembram especialistas, os sinais mais fortes ainda são de cotações bem acima das médias nos próximos meses, ainda que o provável incremento da produção sobretudo de algodão e grãos no Hemisfério Norte na safra 2011/12 sejam mais concretos em virtude dos atuais preços remuneradores. O problema é que esses aumentos terão de ser expressivos, e para isso será preciso investimento nas lavouras e clima favorável.
No Fórum Global de Commodities da Agência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad, na sigla em inglês), realizado ontem em Genebra, Etsuo Kitahara, diretor executivo do Conselho Internacional de Grãos (IGC), projetou que os preços dos grãos continuarão elevados porque os estoques totais caíram 36% no ano passado, em larga medida em decorrência dos estragos provocados pelo clima adverso na produção do Hemisfério Norte na safra 2010/11. Os estoques de trigo declinaram 24%, e os de milho tombaram 50%.
Além da redução da produção, a sustentação dos preços é ajudada pela restrição às exportações em alguns países. Em 2010/11, Rússia, Ucrânia e Cazaquistão deixaram de exportar 29,1 milhões de toneladas de grãos. Uma parte disso poderá ser compensada por maiores embarques dos EUA (11 milhões de toneladas), Argentina (5,3 milhões), UE (3,9 milhões) e Austrália (2,5 milhões). Em 2011/12, Kitahara reforça o coro dos que acreditam em “disputas” de terras nos EUA por parte de produtores de milho e de soja.
Hoje a balança parece pender para milho, já que a demanda pelo produto dos EUA, que tem vocação histórica para o plantio do grão, está aquecida, apesar da queda apurada pelo governo do país na semana passada. E os preços, estão próximos ao recorde histórico de 2008, mesma situação observada no Brasil, conforme a consultoria Céleres.
Não é positivo, porém, o cenário para as cotações de algodão, que rondam máximas nunca antes vistas. Terry Townsend, diretor executivo do International Cotton Advisory Committee, estimou em Genebra, com “alto grau de confiança”, que os preços poderão cair pela metade até o fim do ano por causa do aumento da oferta. Segundo ele, a tendência de forte baixa pode ser comprovada pelo comportamento dos contratos futuros com prazo mais longo de entrega na bolsa de Xangai, na China, que é um grande país produtor mas que também importa muito. Mas, ainda que a libra-peso passe de US$ 2 para US$ 1 em Xangai, como apontam os papéis para dezembro, nos últimos cinco anos as médias foram inferiores, entre 50 e 90 centavos. A crise no Egito passou a dar fôlego extra às cotações do algodão nos últimos dias – o mesmo vale para o trigo -, mas trata-se de uma influência que, espera-se, dure pouco.
Para os cafeicultores exportadores, José Sette, diretor executivo interino da Organização Internacional do Café (OIC), traçou um cenário positivo no fórum da Unctad. Estimou que a tendência altista perdurará até o fim do ano, já que a demanda é constante e o mercado vive um choque de oferta. A Colômbia, segundo maior produtor de café arábica, vem de três safras com problemas e a próxima safra do líder Brasil, disse, ainda gera controvérsias. “Não estou dizendo que os preços vão subir mais, mas o nível atual é muito atraente”.
Outro que deverá seguir valorizado é o açúcar, conforme Lindsay Jolly, economista da Organização Internacional do Açúcar (OIA). Pelo menos até que o mercado saiba quanto a Índia será autorizada a exportar e tenha mais informações sobre o quanto o Brasil destinará de sua próxima safra de cana à produção do adoçante. Em 2010, os preços subiram, baixaram e depois subiram de novo. Mas a oscilação em forma de “V”, diz, não levará a um “crash” mais tarde. A OIA projeta alta das produções de açúcar e etanol em 2011/12 no Brasil.