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Manejo

Compostagem de aves mortas

<p>Veja aqui algumas dicas de como aplicar esta técnica na granja e tornar a sua propriedade mais econômica e ambientalmente adequada.</p>

A avicultura, com sua tradição de vanguarda, está sempre buscando soluções para adequar e aprimorar a atividade, seja no campo econômico/zootécnico, humano (mão-de-obra) e agora também no ambiental. O destino a ser dado às aves mortas nos sistemas de produção intensivo é um questionamento crescente e bastante pertinente. As práticas adotadas como usuais na produção avícola compreendem desde fossas, alimentação de outras espécies animais (suínos, peixes, cães), incineração e, em alguns casos extremos de falta de informação e de conscientização, descartar as aves mortas em córregos e matas. Estes métodos pouco ou em nada atendem às necessidades de conservação ambiental. Todas as práticas citadas têm desde pequenos a bastante e sérios limitadores para a conservação ambiental.

Ainda muito comum nas produções avícolas, a fossa séptica é a alternativa mais utilizada como o destino das aves mortas. No entanto, esta prática compromete consideravelmente o lençol freático. Outro inconveniente deste método, segundo os especialistas ambientais, é o da construção de uma nova fossa cada vez que a anterior se completa. “Há também riscos de invasão de animais selvagens e de multiplicação de vetores quando estas fossas são mal protegidas”, alertam os especialistas.

Dessa forma, a compostagem de carcaças de aves mortas vem se mostrando uma alternativa mais adequada econômica e ambientalmente para as propriedades avícolas. Este recurso, já empregado na agricultura, consiste em um processo naturalmente controlado pelo qual micro-organismos benéficos (bactérias e fungos) transformam resíduos orgânicos em produtos finais benéficos e úteis.

O site Avicultura Industrial buscou informações detalhadas sobre a técnica da compostagem para aplicação na avicultura com a especialista da Unicamp e doutoranda em Engenharia Agrícola, Karolina Von Züben Augusto. Karolina presta assessoria técnica a um projeto de tratamento de dejetos e de aves mortas em uma grande granja de postura comercial no Estado de Minas Gerais e também em uma granja de frango de corte na Bolívia. Veja a seguir as principais dicas e orientações que a especialista destaca para uma boa prática da compostagem.

AI – Como deve ser feita a compostagem de aves mortas em uma propriedade avícola? Qual é o espaço e os materiais adequados para esta prática?

Karolina Von Züben Augusto – O princípio básico da compostagem, seja ela de dejetos ou de mortalidade, é sempre o mesmo; dar condições aos micro-organismos que irão atuar na decomposição do material orgânico presente. Quando falamos em compostagem de mortalidade, tais condições envolvem, principalmente, o equilíbrio da relação C/N (Carbono/Nitrogênio), com uso de materiais adequados, o equilíbrio da umidade no processo, com adição quando necessária de água e aeração com utilização de materiais que permitam a passagem de ar.

O processo se descreve da seguinte maneira:

– Como primeiro passo, as aves são dispostas numa área de compostagem (baias ou galpões) protegida de chuva e de animais invasores que possam vir procurar as carcaças.

– Sempre se deve começar a montagem da pilha de compostagem de aves mortas com uma camada espessa de algum material seco, de preferência que tenha presente na propriedade. Esta camada deve ser de 15 cm a 25 cm de altura e tem funções de aeração, impedir a ocorrência de chorume e bloquear o contato das aves com o piso, o que atrapalha o processo de compostagem.

– Os materiais podem ser: pasto seco picado, serragem de madeira, palha grossa, bagaço de cana ou qualquer outro material disponível de origem vegetal e seco.

– Acima da primeira camada é espalhado esterco ou cama de frango com baixa umidade (sem aparência de terra encharcada ou com água aparente). A quantidade de esterco/cama de frango é aquela suficiente para cobrir toda a camada anterior.

– As aves devem ser acomodadas na camada de esterco/cama de frango de forma que não se sobreponham e não encostem às paredes ao redor. Outra camada de esterco/cama de frango deve ser colocada acima dos animais até que se cubram todos. Nenhuma parte das aves deve ficar exposta.

– A adição de água em cima da camada de aves e esterco/cama de frango fica a critério do produtor. Só é aconselhada adição quando o esterco/cama de frango estiver seco, não estiver chovendo nos dias da confecção e o manejo for extremamente criterioso e acompanhado.

– O excesso de água pode acarretar em presença de chorume, odor acentuado e atração de moscas. Além disso, o maior problema do excesso de água é a ocorrência de locais de anaerobiose, ou seja, muita umidade pode acarretar em ausência de ar e limitar a decomposição correta.

– A falta de água também pode ser um problema, freando a ação dos micro-organismos e parando o processo. Com isso, ao final têm-se carcaças inteiras e mumificadas.

– Após a camada de aves mortas e esterco/cama de frango é necessário que se faça uma cobertura com o mesmo material palhoso. Esta camada servirá para separar uma camada de aves mortas e esterco/cama de frango da próxima que será feita ou, no caso de não ter mais aves mortas no decorrente dia, para afastar os animais oportunistas, moscas e evitar odores.

– Este processo de camadas é realizado na baia ou galpão até uma altura máxima de 1,2 a 1,6m dependendo da largura. A altura da cobertura do local deve ser calculada com mínimo de 1,0m acima da altura da ultima camada a ser feita. Isto para facilitar o trabalho do funcionário. (Figura)

Quanto aos materiais adequados, são necessários:

– Local fechado, coberto e arejado para confecção das pilhas. A altura da cobertura das baias ou galpões deve respeitar o princípio de que a altura das camadas;

– Materiais com alto teor de carbono, que pode ser pasto seco picado, serragem de madeira, palha grossa, bagaço de cana ou qualquer outro material disponível de origem vegetal e seco;

– Esterco seco ou cama de frango com baixa umidade;

– Água suficiente para umedecer a camada de aves e esterco/cama de frango;

– Mão-de-obra treinada. 

AI – Qualquer granja pode adotar a compostagem?

Karolina – Sim. Granjas de pequeno, médio e grande porte podem adotar a compostagem como tratamento para a mortalidade da sua produção, desde que não tenha como causa nenhuma doença que possa conferir à qualidade do produto final dúvidas quanto à segurança ambiental.

 AI – Quais são os benefícios econômicos para o produtor com a compostagem? E os benefícios ambientais?

Karolina – O produtor que opta pela compostagem como tratamento para aves mortas está ao mesmo tempo escolhendo uma alternativa econômica, pois poderá utilizar o produto final na agricultura, quanto ambiental, porque com esta prática evita que haja contaminação de ar, água e solo através das carcaças mal dispostas ou sob tratamento inadequado, transformando um resíduo com alto potencial poluidor em um composto orgânico de características fertilizantes importantes. Para ser utilizado na agricultura o composto orgânico deve ter características físicas próprias de adubo orgânico, como coloração homogênea e escura, umidade adequada, granulometria homogênea, odor de terra molhada, muitas vezes tendendo a tabaco. Quanto à sanidade, o adubo não deve, em hipótese alguma, apresentar positividade para esporos de bactérias ou vírus de doenças que acometeram os animais quando vivos, ressaltando que não é aconselhável a utilização da compostagem em animais que morreram por motivos sanitários. Também não devem ser encontradas bactérias do grupo dos coliformes, decorrentes de um processo inacabado. A compostagem atende tanto as normas ambientais de tratamento quanto às de reciclagem, quando transforma aves mortas em um produto passível de ser utilizado na agricultura, com benefícios fertilizantes.

 Quer saber mais sobre compostagem de aves mortas? Entre em contato conosco: [email protected]