A União Europeia (UE) sinalizou ao Mercosul que só poderia dar a metade das cotas para três produtos de especial interesse do bloco: carnes bovina e de frango e também alho. A outra metade ficaria para as negociações da Rodada Doha, na Organização Mundial do Comércio (OMC).
Em março de 2006, o Mercosul tinha pedido cota, com tarifa menor, de 300 mil toneladas de carne bovina, 250 mil toneladas para carne de frango e 20 mil toneladas para alho. E a posição europeia de insistir em combinar concessões nas rodadas birregional e multilateral, pagando à prestação o que vai ganhar em retorno, deixou frustrados certos negociadores.
O setor privado brasileiro advertiu ontem o Itamaraty para cobrar mais concessões dos europeus. Ele estima que hoje o acesso ao mercado brasileiro, em plena expansão econômica, vale bem mais que o combalido mercado europeu. O maior interesse hoje é de empresas europeias em fechar um acordo. O mercado automotivo brasileiro, por exemplo, é um dos maiores do mundo e os europeus só têm a ganhar com a abertura, avaliam representantes do setor privado.
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, passou a cobrar publicamente ofertas boas da UE, argumentando que o Mercosul melhorou sua oferta.
Representantes de segmentos industriais que acompanham a negociação não acreditam em uma proposta imediata da UE que possa ser considerada interessante para o Mercosul.
O assunto foi discutido ontem, em São Paulo, em reunião da Coalização Empresarial Brasileira (CEB). No encontro, representantes de vários segmentos ouviram o relato sobre o andamento das negociações do chefe do Departamento de Negociações Internacionais do Itamaraty, Evandro Didonet.
“O que há de novo é que o Brasil está mais interessante politicamente e que o Brasil e a Argentina estão muito mais alinhados com o objetivo de fazer um acordo”, diz um dos participantes da reunião. “O lado europeu ainda continua difícil. Pelo que estamos acompanhando, a UE não sinaliza com mais ofertas ou não está sendo mais positiva talvez em função da situação economicamente difícil de seus países”.
Segundo a fonte, as entidades que representam os diversos segmentos industriais têm dado apoio ao acordo, mesmo com o impacto que a eliminação de tarifas pode ter na produção nacional de bens. A preocupação, diz, é que a oferta da União Europeia em relação às barreiras para produtos agrícolas não seja boa o suficiente para retribuir as facilidades propostas pelo Mercosul. “Há uma sensação de que já passamos por um estágio de negociação muito parecido com esse. O aspecto positivo é que os europeus nunca deixaram essa negociação apagar de vez”, conclui.
Para outro participante da reunião, a reação da União Europeia não gera expectativa de um acordo a ser fechado até o fim deste ano. “A UE continua com a mesma posição de 2004, quando as negociações pararam: ou demandando mais ou oferecendo menos.” A mudança pela qual o Brasil passou, diz um representante do setor privado, não está sendo levada em consideração pelos europeus. “A sensação generalizada é que hoje o país é mais interessante do que era em 2004, com crescimento praticamente constante, entre os maiores produtores de veículos do mundo. O mesmo não aconteceu com a União Europeia, que está sofrendo com o enfraquecimento de algumas economias e o problema fiscal da Grécia, por exemplo. Isso, porém, parece que não está sendo levado em consideração na elaboração de uma proposta pela outra parte”, diz.