O consumo da carne de frango no Brasil deixou de ser influenciado pela precificação das demais carnes e caminha para o nível per capita de 50 kg/habitante/ano, igualando-se aos países desenvolvidos. A avaliação é do presidente da Associação Catarinense de Avicultura (Acav), Clever Pirola Ávila, que também prevê a conquista, neste ano, de novos mercados, como Malásia e alguns países africanos.
Em 2011, o Brasil produziu 13,058 milhões de toneladas de carne de frango, sendo que 9,1 milhões foram destinadas ao mercado brasileiro. Santa Catarina rivaliza com o Paraná na posição de maior produtor e exportador nacional de carne de frango, tem mais de 10.000 avicultores produzindo num setor que emprega diretamente 40 mil pessoas e, indiretamente, mais de 80 mil trabalhadores. A avicultura catarinense produz 2,5% da produção mundial e detém 8% dos negócios mundiais de frangos, com destaque para Europa, Oriente Médio e Japão. A produção de Santa Catarina é referência estratégica para a avicultura mundial, nacional e do Mercosul.
O setor se desenvolveu copiando o modelo de parceria produtor/indústria implantado em Santa Catarina a partir do início dos anos 70. Com uma produção planejada, as empresas com matriz em Santa Catarina atendem 60% do mercado interno e participam com 70% das exportações brasileiras.
Qual o atual status da carne de frango na dieta das famílias brasileiras?
Clever Ávila – Uma pesquisa encomendada pela União Brasileira de Avicultura constatou que em 100% dos domicílios consome-se carne de frango. O produto tornou-se definitivamente um hábito alimentar do brasileiro por ser não apenas uma proteína animal barata, mas, principalmente, por representar um alimento saudável e nutritivo. O consumo per capita chegou a 47 quilos ano passado, superando o dos Estados Unidos. Diante de tamanha aceitação do produto, pode-se ampliar ainda mais a presença da carne de frango na mesa dos brasileiros.
Como está se comportando o mercado de aves neste ano?
Clever Pirola Ávila – Entendemos que o mercado está um pouco irregular sob os aspectos oscilantes de resultados: em um momento impactado pela relação cambial real/dólar; em outro momento pelos custos das matérias-primas e, em outro, pela oferta de produtos.
Depois dos bons resultados de 2010 e 2011, 2012 era para ser promissor para a avicultura. Por quê não está sendo?
Clever Ávila – Dependendo do posicionamento de cada empresa, sob estratégia de estoques de matérias-primas e sob a relação mercado interno/externo pode haver influências específicas nos resultados das empresas. Estes são neste momento os grandes influenciadores nos resultados setoriais.
Na sua opinião, SC e o Brasil deveriam reduzir a produção de aves para adequá-la à demanda?
Clever Ávila – A entidade setorial apoia as empresas no sentido de viabilizar a produção e comercialização dos produtos catarinenses, entretanto não influencia na estratégia de cada empresa – que é uma decisão exclusiva dos seus empresários.
Quais as perspectivas de abertura de novos mercados para a carne de aves, neste ano?
Clever Ávila – Existe a perspectiva de abertura da Indonésia, Malásia e alguns países da África, entretanto, mesmo que esses mercados sejam conquistados não impactarão de forma significativa no curto prazo.
Estados Unidos e China abriram seus mercados para a carne de SC. Por quê poucos negócios foram fechados até agora?
Clever Ávila – Os acordos bilaterais sob os aspectos de sanidade animal e saúde humana foram celebrados, porém o trâmite de liberações de licenças de importação e a introdução de novos clientes acontecem de forma gradativa.
O que a indústria pode fazer para aumentar o consumo interno de carne de aves e desatrelá-la da carne bovina?
Clever Ávila – Esta interação com a carne bovina sob os aspectos de consumo não existe mais, uma vez que a carne de frango é consumida quase duas vezes mais que a carne bovina pelos Brasileiros. Já estamos próximos a 50 kg/habitante/ano – semelhante aos grandes consumidores internacionais. O que precisamos fazer é melhorar a percepção de valor pelo consumidor, sob a linha intrínseca da carne de frango: saudabilidade e sabor.
Os adidos agrícolas criados nas embaixadas do Brasil estão cooperando com a expansão do agronegócio brasileiro no exterior?
Clever Ávila – Sem dúvida é o caminho mais inteligente de apoio ao agronegócio brasileiro. Precisamos apenas intensificar as ações num formato de parceria efetiva com os mesmos e numa visão de longo prazo.
Melhorou a competitividade da carne de ave nesse novo quadro de política cambial – com real relativamente desvalorizado?
Clever Ávila – Não podemos negar que a relação cambial próximo a dois reais o dólar – o que chamamos de câmbio realístico – é fator decisivo de competitividade do Brasil e entendemos como patamar ideal de equilíbrio nas relações internacionais.
Não estaria na hora do Brasil ter uma agência de inteligência agrícola mista (privada e governamental) para orientar o mercado e evitar esses períodos de escassez alternados por períodos de excesso de carnes, grãos etc?
Clever Ávila – Acreditamos que este é um processo de maturidade setorial que vem sendo obtido através da experiência prática e muitas vezes pagando a conta. Por isso a nossa insistência num delineamento de planejamento estratégico de longo prazo, apoiado por um processo político multipartidário, focando em resultados consistentes e confiança mútua.