Redação AI (27/03/06)- Sem o registro de novos casos mais graves na região (leia-se: mortes nos países fronteiriços à Europa), a Influenza Aviária começou a sair da pauta dos meios de comunicação europeus, o que faz com que embora de forma ainda heterogênea o consumo de carne de frango comece a se estabilizar. Ou seja: não são vistos, por enquanto, sinais claros de recuperação, mas já não há mais queda no consumo.
É inegável, entretanto, que as vendas permanecem extremamente baixas em várias regiões. E como existe o temor de, com a chegada da primavera no Hemisfério Norte, aves migratórias vindas da África reintroduzirem o vírus na região, nenhum especialista ousa fazer qualquer previsão quanto à normalização de consumo e das vendas de produtos avícolas.
De sua parte, a Comissão Européia insiste em que os avicultores locais reduzam urgentemente o volume produzido, para poderem enfrentar a fase de baixas vendas. Mas até agora não definiu qualquer contrapartida financeira para apoiar uma ação do gênero. Algumas semanas atrás, especialistas afirmavam que o setor estava perdendo, mensalmente, 300 milhões de euros (quase R$800 milhões).
Na França cuja indústria avícola, avaliada em seis bilhões de euros (R$15 bilhões), é a maior da União Européia as vendas se encontram agora entre 7% e 10% abaixo do nível registrado há um ano. Estamos percebendo uma reversão de situação que deve se intensificar no decorrer das duas próximas semanas, projeta porta-voz da FCD, federação do comércio varejista francês. Na semana retrasada, a FCD ainda reportava queda de 10%-15% no setor.
É interessante considerar, no entanto, que nessa recuperação a avicultura francesa vem sendo beneficiada de forma indireta por um outro acontecimento as manifestações sociais contra a modificação das leis trabalhistas (a chamada lei do primeiro emprego, cujos protestos repercutem mundialmente) que tirou de vez a Influenza Aviária das manchetes locais. Assim, se agora as vendas de frango são 7%-10% inferiores às de um ano, algumas semanas atrás haviam retrocedido mais de 30%, situação que se agravou após a detecção de infecção pelo H5N1 em granja de perus, ocorrência que levou mais de 50 países a embargar os produtos avícolas franceses (obs.: até agora a França vinha sendo o único país da comunidade européia a registrar a presença da Influenza Aviária em aves domésticas; mas, na última sexta-feira, a Sérvia anunciou a detecção do vírus da doença em um galo).
Na Alemanha as vendas de frango também vêm apresentando ligeira recuperação, afirma a entidade dos avicultores locais, identificada pela sigla ZDG. Detectamos um ligeiro aumento de vendas ou, pelo menos, uma estabilização, afirma Siegfried Hart, diretor executivo da entidade, acrescentando que nos primeiros dias de março as vendas do setor haviam retrocedido mais de 20%.
Já na Holanda, as vendas domésticas de aves e ovos não foram afetadas pelo noticiário envolvendo a Influenza Aviária, inclusive porque o país passa, até agora, incólume pelo problema que afetou vários de seus vizinhos. Mesmo assim, os exportadores holandeses, principalmente os de carne de frango, enfrentam substancial queda nos negócios intra e extra União Européia. Não porque tenham sofrido algum tipo de embargo, como ocorreu com a França, mas porque além do consumo ter se reduzido na maioria dos países importadores, os estoques mundiais de carne de frango permanecem elevados, com pequena ou nenhuma perspectiva de se equilibrar no curto prazo.
Falando à Reuters, Dre van de Riet, porta-voz da principal entidade holandesa de criadores, afirmou que nosso grande desafio se concentra na Alemanha o maior importador da carne de frango da Holanda onde as compras vêm apresentando queda de 20% a 25%. Não é pouco, já que cerca de 70% das exportações avícolas holandesas, estimadas em 1,5 bilhão de euros anuais (quase R$4 bilhões) têm como destino a Alemanha.
A exemplo da Holanda, também o Reino Unido se mantém, pelo menos por enquanto, isento do vírus da Influenza Aviária. Assim, vendas e consumo permanecem dentro do que é considerado normal. Houve um momento em que, devido ao amplo noticiário em todos os meios de comunicação, sentimos que as vendas iriam refluir. Imediatamente procuramos manter os consumidores informados da realidade dos fatos e conseguimos, com isso, manter as compras inalteradas, ressalta Richard Griffiths, diretor executivo do Conselho Britânico de Avicultura.
Em outros países do bloco comunitário europeu as situações se repetem, em maior ou menor escala. Mas, na maioria deles, há queda nas vendas, redução da produção e, inclusive, paralisação de granjas e abatedouros, com perda de milhares de postos de trabalho exatamente como ocorre agora no Brasil.
Esse é diz-se um quadro temporário. Mas ninguém se aventura a dizer quando começará a registrar efetiva reversão. Porque não está ligado apenas à redução da produção, depende (muito mais) da estabilização (ou da não-ocorrência) da Influenza Aviária e, também, da absorção dos estoques mundiais de carne de frango, hoje em nível jamais registrado na história do setor.