Rússia está oferecendo uma cota de importação de 530 mil toneladas de carne bovina a partir do momento em que entrar na Organização Mundial do Comércio (OMC), mas em condições julgadas insatisfatórias pelo Brasil e outros exportadores.
O Brasil se prepara para dizer a Moscou, em reunião bilateral em Genebra, que sua nova oferta de cotas para as carnes em geral não está em linha com a expectativa brasileira e causa prejuízos.
Para 2011, as cotas já estão definidas. A negociação agora é sobre o regime de importação no momento em que Moscou for aceita na OMC. Os russos querem entrar em 2011, e o novo regime entraria em vigor em 2012. Só que oferecem volumes bem menores para os exportadores. Ou seja, Moscou quer acelerar sua entrada na OMC indo na direção contrária da política de liberalização da entidade.
Os russos querem restringir o acesso a seu mercado mesmo em áreas onde seu plano de substituição de importações avança menos, como no caso de produção de carne bovina.
Primeiro, reduziu significativamente sua própria oferta para importações de carnes de frango e de suíno, limitando as cotas a 250 mil toneladas nos dois casos. Depois, manteve o montante para carne bovina, mas deixando abertos vários detalhes que causam insegurança nos exportadores.
Para a carne de frango, a cota seria permanente, mas o volume tende a baixar, porque a Rússia diz estar produzindo cada vez mais e seus avicultores resistem ao produto estrangeiro.
No caso de suínos e bovinos, a ideia é de cotas por dez anos e apenas tarifa de importação a partir de 2020. As cotas começam sendo divididas em três grupos, na prática assegurando o maior volume para os Estados Unidos e União Europeia e deixando o resto para “outros”. O Brasil exporta muita carne porque ocupa grande parte da cota destinada à União Europeia, que não consegue preenchê-la.
Além disso, Moscou não indica como ocorrerá a transição de cotas específicas para global, na qual a competitividade de cada um é que vai pesar, como é a demanda feita pelo Brasil.
A Rússia concluiu acordos bilaterais com os Estados Unidos e a União Europeia, dentro da velha percepção de que o essencial é se acertar com os dois elefantes do comércio mundial. Só que a realidade está mudando. Negociar com Washington e Bruxelas facilita, mas hoje não é decisivo. Os russos estão sendo pressionados a pagar o preço pelas concessões que terão em troca nos outros mercados, uma vez dentro da OMC.
A questão agora é se a insatisfação do governo e da indústria brasileira se transformará em decisão política de bloquear a entrada russa na OMC, caso as demandas brasileiras não sejam atendidas. A resposta virá no governo de Dilma Rousseff.