O Banco do Brasil ampliou a proteção de sua carteira de crédito rural ao “blindar” essas operações com mecanismos de mitigação contra riscos climáticos e oscilações de preços (“hedge”) em 518,3 mil contratos.
Mesmo sem uma medida oficial do governo, que ainda discute a substituição do tradicional subsídio à produção por mecanismos de proteção de mercado, o banco está próximo do “risco zero” na agricultura familiar e tem avançado para reduzir a exposição da carteira no segmento empresarial. No geral, 25% das operações de crédito rural do BB estão cobertas por instrumentos de mitigação contra prejuízos financeiros e 55,5% contra perdas climáticas.
O avanço do BB na proteção dos empréstimos rurais é liderado pelos produtores familiares. Até novembro, 95,5% dos 391,5 mil contratos tiveram proteção de clima e 91,15% adotaram um “hedge” de preço. Isso equivale a R$ 2,8 bilhões em proteção. Apenas 13,8 mil contratos não usaram esses mecanismos de mercado.
“O papel fundamental do banco é demonstrar o lado positivo, difundir e formar essa consciência de proteção”, afirma o vice-presidente de Agronegócios do BB, Luís Carlos Guedes Pinto.
Na agricultura empresarial, o ritmo é mais lento. A carteira de 126,8 mil contratos tem 45% da safra protegida de catástrofes climáticas e 7% das oscilações de preço. Na soma, esse expediente resguarda R$ 4,65 bilhões. “Hoje, o produtor já tem custos e preços favoráveis para ampliar essa fatia”, diz.
A tendência de massificação do seguro de clima e renda tem levado o banco a melhorar a performance de sua carteira rural, estimada em R$ 75,5 bilhões. No atual ano-safra 2010/2011, os empréstimos ao setor rural financiaram uma área 7% maior no milho e 7,3% superior na soja quando comparado ao ciclo anterior.
“E não temos recebido queixas ou reclamações. Não há demanda reprimida”, afirma o executivo. Todas as operações de custeio no Rio Grande do Sul, por exemplo, tiveram o amparo de mitigadores de risco. Nesses casos, o crédito só é liberado acompanhado da proteção.
Em safras anteriores, a partir da forte crise climática de 2006, o BB teve que assumir R$ 4 bilhões em perdas geradas pela carteira rural. Mas as prorrogações de crédito caíram de R$ 16 bilhões para R$ 9 bilhões nesse período. “Passamos de 30% para 12% da carteira. As provisões são menores e houve queda na inadimplência. Nossa carteira é mais saudável”, diz Guedes.
A boa aceitação dos instrumentos de mitigação pelo setor levam o BB a projetar uma alteração de médio prazo no modelo de crédito rural. O banco acredita que os subsídios da Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM) deve ser concentrado no segmento familiar. “O produtor sempre quer mais PGPM. Mas tem que restringir isso à agricultura familiar. A empresarial precisa ir ao mercado com um subsídio pontual do governo ao ‘hedge’. Se o preço for melhor no futuro, ele devolve ao Tesouro”, defende Guedes. No México, onde o modelo foi adotado com sucesso, os produtores “devolvem” ao governo 40% dos subsídios ao “hedge” de preços, segundo o executivo. “Lá, eles gastam US$ 900 milhões por safra com o milho”, afirma o vice-presidente.
O Banco do Brasil também projeta um bom cenário para a comercialização da nova safra, a partir de janeiro. “As margens são positivas para todos os segmentos de forma bastante significativa”, avalia Guedes. O clima favorável e a boa produtividade devem ser somados à redução de custos e à alta dos preços internacionais. “A conjugação do câmbio atual com os picos de preços é positiva. Vamos para a quinta safra de margens boas”, projeta o executivo do BB.
Mas, mesmo em meio à euforia, há interrogações: “Há um ‘La Niña’ moderado, que traz algum risco ao Rio Grande do Sul e as regiões oeste de Santa Catarina e Paraná. Ainda temos três meses de evolução, mas a safra é boa e deve ser similar a 2010”, avalia o vice-presidente do banco.