As dificuldades de obter crédito que os empresários têm, hoje, são as mesmas anteriores à crise, mas se fortaleceram agora. A avaliação é do assessor de projetos da área de crédito do Departamento da Micro, Pequena e Média Indústria da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Flávio Vital.
“Problema de garantias, mostrar para o banco que a empresa tem condições de honrar com seus compromissos, é a principal dificuldade, já era antes e agora só se enfatizou. Como tivemos uma parada na entrada de recursos para as empresas, é natural que o banco tenha receio”.
Ao analisar as demandas da Sala de Crédito, evento que a Fiesp realiza regularmente para reunir diversos bancos em um só local e intermediar as relações entre o empresário e a instituição financeira, Vital diz que já vê sinais de normalização. No entanto, houve problemas relacionados à inadimplência e aos juros.
“É natural que a inadimplência comece a subir porque, sem crédito, a empresa tem dificuldade para pagar. Os bancos já estão começando a reverter isso devagar”.
Vital explicou que, para obter crédito, os empresários precisam melhorar a relação com os bancos, aprender a se comunicar com as instituições, já que os bancos precisam de uma informação qualificada. Eles querem saber mais sobre a empresa, em uma linguagem que o banco entende. “A empresa precisa aprender qual é essa linguagem do banco e a conhecer as linhas de financiamento que o banco tem para saber qual a que combina melhor com sua empresa.”
“Não é o primeiro evento que fazemos. É difícil o empresário sair e visitar cinco bancos. A estrutura aqui é para que o empresário consiga perceber e conhecer uma quantidade de bancos bem maior e, nós, no nosso atendimento, informamos como o empresário deve proceder e o que ele deve pedir para o banco”.
O empresário José Antônio Marcassa, que atua no segmento promocional, disse que tem sentido dificuldade para obter crédito porque os bancos ficaram mais exigentes. Para ele, o fato se deveu a uma queda grande no faturamento, o que acarretou em falta de capital de giro para manter o negócio no mesmo patamar que estava. “Com essa queda do faturamento, houve uma escassez no financiamento e uma exigência maior de garantias. A situação ficou complicada de uma hora para outra e trouxe dificuldade de operar”.
Já para Marco Antônio Aguiar, que atua no setor de equipamentos médicos, a crise econômica global não foi significativa nem influenciou muito a obtenção de crédito, porque o setor da saúde demanda muita evolução, recurso e equipamentos. “Não sentimos muito um problema no mercado em razão da crise. O nosso problema é pontual, demandamos crédito em razão do desenvolvimento de uma nova unidade em outro estado”, disse o empresário.
Segundo ele, sua empresa já havia tentado obter crédito anteriormente, mas não conseguiu por estar partindo do zero e não ter garantias reais para apresentar ao banco.
Outro empresário, que trabalha na área têxtil, reclama da taxa de juros. Para Marcelo Bicudo, esse item é o que mais afeta seu desenvolvimento. De acordo com ele, as taxas não são competitivas e a empresa acaba tendo mais dificuldades em conseguir se enquadrar em linhas maiores.
“Por conta desses juros altos, fica cada vez mais difícil dar garantias, porque a exigência é cada vez maior. Esse é um ponto que dificulta porque temos visões de investimento, buscamos linhas mais competitivas e, quando isso existe, eles exigem muitas garantias e isso acaba dificultando nossas operações”, explicou.