Redação SI (25/09/2006) – O primeiro leilão de crédito de carbono realizado em bolsa de mercadorias no Brasil promete uma disputa acirrada entre as 14 empresas inscritas para participar. O número é superior ao esperado pela Prefeitura de São Paulo, titular dos créditos correspondentes a 808.450 toneladas de dióxido de carbono equivalente (a emissão é de metano, gás ainda mais poluente), provenientes do Aterro Bandeirantes. "Estamos com grande expectativa, pois contávamos com cerca de cinco ou seis participantes, e vimos que a procura foi maior", diz o secretário-adjunto da Secretaria Municipal de Finanças, Walter Aluisio Morais Rodrigues.
A prefeitura não divulga o nomes dos interessados, mas segundo Rodrigues há instituições do mercado financeiro internacional. O leilão será realizado pela Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) amanhã, por via eletrônica. Uma das exigências para participar foi um depósito de 1 milhão de euros como garantia. O prazo para entrega dos documentos encerrou no dia 3.
Também é a primeira vez no Brasil que um ente público realiza a venda desses créditos. O preço inicial do leilão será de cerca de 12 euros a tonelada do carbono, mas a prefeitura pretende arrecadar ao menos R$ 30 milhões, o que corresponde a 14 euros a tonelada de carbono. Mesmo assim, o valor ainda está abaixo da média do preço comercializado mundialmente, hoje em 19 euros a tonelada do carbono e, por isso, segundo o secretário-adjunto, é possível conseguir superar as expectativas iniciais. "Estamos vendendo à vista, ou seja, apenas o crédito que já temos, e em bolsa de valores, o que dá mais transparência. Achamos que é possível conseguir um preço melhor", diz.
A prefeitura obteve permissão de vender os créditos de carbono do Aterro Bandeirantes com a Câmara de Vereadores sem restrições dos meios, mas recorreu ao mercado regulado para dar transparência ao processo, segundo Rodrigues. O dinheiro irá para o Fundo Municipal de Meio Ambiente, gerenciado pela Secretaria do Verde e Meio Ambiente, e dará aporte a investimentos na região do aterro.
Localizado na zona norte, o Aterro Bandeirantes é considerado um dos maiores do mundo, recebendo cerca de 7 mil toneladas diárias de lixo, metade do total produzido em São Paulo. Desde 2006, ele começou a receber os créditos de carbono previstos pelo Protocolo de Kyoto ao adotar um mecanismo que queima o metano liberado na decomposição do lixo. Esse gás é um dos maiores responsáveis pelo aquecimento do planeta, e 80% de sua queima no aterro é utilizada para acionar uma usina termelétrica com capacidade de gerar 175 mil MWh/ano.
A prefeitura aguarda aprovação pela Organização das Nações Unidas (ONU) para obtenção de certificado que a habilite a também vender crédito de carbono do Aterro São João, receptor da outra metade do lixo da cidade. A queima do metano desse aterro, localizado na zona leste da capital, começou em junho desse ano.