Redação (06/04/2009)- A Bioagência, companhia que comercializa a produção de álcool de 26 usinas do Centro-Sul do país, negocia a adesão de outras três unidades para engordar o volume de combustível vendido nos mercados interno e externo. Responsável pela comercialização de 10% do álcool produzido no país, a Bioagência faz parte de um seleto grupo de companhias que se consolida cada vez mais no Brasil para fazer frente às distribuidoras de combustíveis.
Altamente concentrada, a distribuição de combustíveis está nas mãos de seis grandes grupos – BR Distribuidora (da Petrobras), Shell, Ipiranga, Texaco, Esso (do grupo Cosan) e Alesat. Esses grupos, juntos, representam 80% do mercado de distribuição de combustíveis automotivos no Brasil.
Nesse cenário, a ponta vendedora começou se organizar para ficar mais coesa e ganhar poder de barganha na hora de negociar o álcool no país. Hoje, cinco grupos comercializadores de etanol – Copersucar, Allicom, SCA, CPA e Bioagência – já respondem por 60% da venda de álcool no mercado interno, segundo Tarcilo Rodrigues, presidente da Bioagência. A paulista SCA reúne as vendas de 54 unidades produtoras; a paranaense CPA, outras 16.
Destes cinco grupo, somente a Copersucar tem mais de 30 anos de experiência na área. Bioagência, SCA e CPA foram criadas no início dos anos 2000 com o movimento de retomada das vendas de álcool combustível no país. A Allicom é a mais nova integrante, criada em setembro do ano passado, a partir da aliança entre os grupos paulistas São Martinho, São João (USJ) e Santa Cruz. No início dos anos 2000, a concentração na comercialização era bem menor, da ordem de 25% do total negociado no país.
Ainda pulverizada, a frente vendedora englobal, no total, soma cerca de 400 usinas. O mercado de álcool combustível no Brasil movimenta cerca de 22 bilhões de litros de álcool – dos quais 6,5 bilhões são de anidro, misturado à gasolina. Esse volume já supera o de gasolina, que totalizou cerca de 21 bilhões de litros em 2008.
O movimento de concentração na distribuição de combustíveis é mais antigo e ficou agitado a partir dos anos 70, com a entrada da BR Distribuidora, criada em novembro de 1971 pela Petrobras. Nesse mesmo período, a multinacional Shell também adotou uma estratégia agressiva de expansão no país. No início dos anos 90, a Ipiranga ganhou musculatura com a compra da Atlantic. E, mais recentemente, o mercado ganhou novos contornos com as aquisições da Esso pelo grupo Cosan, da Texaco pelo Ultra e da Repsol pelo Alesat.
Com o mercado externo ainda incerto, as apostas das usinas no país continuam firmes. As exportações brasileiras de álcool nesta nova safra, a 2009/10, devem somar cerca de 3,5 bilhões de litros, com um recuo de 25% sobre o ciclo 2008/09. E a forte queda dos preços do álcool no país reforça a necessidade das usinas se unirem para garantirem preços melhores.
Os preços do álcool combustível acumulam retração de 25% este ano, em plena entressafra. Na sexta-feira, o litro do anidro encerrou a R$ 0,6514 (sem impostos), com baixa de 4,3%. O hidratado encerrou a R$ 0,5654 (sem impostos), com recuo de 4,6%, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Os custos de produção do álcool no país estão em torno de R$ 0,70 (o litro).
Como os embarques diretos aos EUA deverão cair por conta do desaquecimento da demanda americana, as vendas via Caribe deverão ser o melhor caminho para atingir os EUA. A Bioagência arrendou uma planta de desidratação na Jamaica e deverá exportar por meio do Caribe cerca de 240 milhões de litros na safra 2009/10. Os primeiros embarques serão feitos a partir de maio.
"A expectativa é de que as cotações do álcool fiquem mais firmes, uma vez que as usinas deverão produzir mais açúcar, e o governo anunciou o programa de ”warrants”. O mais importante seria reduzir a volatilidade dos preços do combustível", disse Rodrigues.