Para Pat MacGuire, produtor de frutas do norte de Michigan, o símbolo mais eloquente da discussão sobre imigração nos EUA não são as imagens de televisão de pessoas atravessando furtivamente a fronteira com o México. Para ele, emblemática é a visão de cerejas e maçãs caindo dos pés e apodrecendo no chão por não haver trabalhadores suficientes para colhê-las – um cenário que poderá se tornar realidade nos próximos dois meses.
No cinturão dos pomares de Michigan, cerejeiras já se dobram ao peso de cachos de um vermelho vivo, mas, mesmo assim, muitos trailers e casas de madeira que deveriam estar ocupados por famílias de migrantes continuam vazios. E McGuire não sabe se haverá trabalhadores para a colheita, na metade do mês.
“Estamos ficando sem tempo”, diz ele enquanto inspeciona as frutas que amadurecem nas colinas próximas do Lago Michigan. De plantadores de árvores de natal dos montes Apalaches aos pecuaristas de leite de Wisconsin, passando pelos produtores de frutas e legumes da Califórnia, o setor agropecuário americano pressiona o Congresso por uma lei de imigração mais leniente e menos complicada para a contração de trabalhadores rurais.
Uma medida aprovada recentemente pelo Senado, liderado pelos democratas, contém cláusulas que, segundo o lobby agrícola, são promissoras. A Câmara dos Representantes, controlada pelos republicanos, deverá analisar a questão em breve. Mas, com a outrora poderosa influência política da agricultura em declínio, depois que sua força de trabalho caiu para 2% da população, não se sabe como o setor se sairá.
As reclamações dos produtores sobre o encolhimento da mão de obra estão ofuscadas pelas questões ideológicas que envolvem a segurança da fronteira e a concessão de status legal para os imigrantes que estão ilegalmente no país. McGuire, de 42 anos, que se descreve como conservador e vota nos republicanos, estava entre os representantes da American Farm Bureau Federation que defenderam sua causa no Congresso na semana passada.
Seu grupo de Michigan visitou os gabinetes de oito legisladores e foi ao plenário do Senado, abordando congressistas. “Cada gabinete tinha um discurso pronto”, diz McGuire, lembrando do que disse um funcionário sobre segurança na fronteira.
Os agricultores de Michigan contratam cerca de 45 mil trabalhadores sazonais em um ano típico, muitos deles imigrantes. Na primavera americana (segundo trimestre), parte da safra de aspargo ficou nos campos porque o número de pessoas disponíveis para a colheita foi pequeno. No Estado vizinho de Wisconsin, os trabalhadores imigrantes representam mais de 40% da mão de obra contratada por operações de laticínios cada vez maiores, segundo mostra um estudo feito pela Universidade de Wisconsin em 2008.
Kevin Krentz, que ordenha 500 vacas perto, diz que encontrar mão de obra local em número suficiente é uma luta constante. “Não se trata de um trabalho que vai das 9h às 17h. É um trabalho que é feito quando as vacas são alimentadas, quando são ordenhadas e quando as safras são colhidas”, afirma. A situação representa um teste para a maioria republicana na Câmara dos Representantes (GOP, na sigla em inglês), diz Tom Nassif, presidente da Western Growers, organização de classe que representa os produtores de hortifrutícolas de Califórnia e Arizona.
Nassif, um republicano que ocupou cargos na administração Reagan, afirma que há pessoas no partido tão preocupadas com a imigração ilegal que tentam sabotar qualquer chance de reforma. Mas, se a Câmara não aprovar logo algo nesse sentido, diz, os eleitores “perderão toda confiança na capacidade do partido de legislar. As estatísticas mostram que os americanos acreditam na reforma da imigração”.
O setor insiste que a falta crônica de mão de obra não é uma questão de remuneração baixa, e sim de haver pouquíssimos americanos dispostos a enfrentar longas horas de trabalho, sol inclemente e outras dificuldades do trabalho no campo, numa realidade que não estimula os trabalhadores agrícolas a educarem os filhos para seguirem seus passos.
O projeto de lei aprovado pelo Senado permite que trabalhadores agrícolas experientes obtenham “blue cards”, o que os qualificaria a morar nos EUA por um ano. Os requerentes que entraram ilegalmente no país terão de pagar uma multa, os impostos devidos e passar por um levantamento de antecedentes. Outro programa novo permitiria que os produtores agrícolas contratassem “trabalhadores estrangeiros convidados”, que receberiam vistos de permanência de três anos.
Mas poderá ser difícil vender essas políticas para os conservadores da Câmara dos Representantes, que classificam a ideia de “anistia”. O representante Justin Amash, cujo distrito, no oeste de Michigan, inclui a cidade de Grand Rapids e áreas agrícolas remotas, é um exemplo típico de um republicano que sofre pressões dos dois lados. Agricultores de seu Estado natal estiveram em seu gabinete em Washington duas vezes recentemente. Mark Youngquist, produtor de maçãs do distrito de Amash, levou posteriormente um dos assessores do representante para uma volta por seus pomares.
Nesse dia, em uma reunião pública, o republicano, que está no segundo mandato, descreveu a falta de mão de obra no campo como “um problema que devemos enfrentar” e pediu empenho na questão da imigração. Mas seu comentário de que a deportação não é um modo realista de lidar com todas as 11 milhões de pessoas que estão ilegalmente no país provocou protestos irados.
Youngquist, 53, outro republicano convicto, afirma que gostaria que seus colegas conservadores fossem mais simpáticos com os imigrantes que preenchem vagas de trabalho que ninguém quer. Mas a fiscalização mais intensa na fronteira com o México parece cobrar seu preço, diz.