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Criadores tentam barrar compras nos EUA

<p>Associação americana mobilizou governadores e senadores de vários Estados americanos para reforçar a pressão contra o grupo JBS em Washington.</p>

Redação (27/08/2008)- Disposta a fazer tudo que estiver ao seu alcance para frear a expansão da JBS no mercado americano, uma associação de criadores de gado ameaça recorrer à Justiça se as autoridades aprovarem os planos do grupo brasileiro, gerando complicações que podem atrapalhar por algum tempo os seus negócios. 

Conhecida pela sigla R-Calf USA, a associação apresentou nos últimos meses seis petições à Divisão Antitruste do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, pedindo que as aquisições da National Beef e da Smithfield Beef pela JBS não sejam aprovadas. Ela também mobilizou governadores e senadores de vários Estados americanos para reforçar a pressão contra o grupo em Washington. 

"O aumento da concentração da indústria tem sido prejudicial para os criadores, e a fusão proposta pela JBS seria a mudança mais radical na estrutura competitiva dessa indústria em muitas décadas", diz o presidente da R-Calf USA, Bill Bullard, um ex-fazendeiro do Estado de Dakota do Sul que hoje se dedica à associação em tempo integral.

O Departamento de Justiça não tem prazo para concluir sua análise sobre as aquisições feitas pela JBS. Os executivos do grupo esperam que tudo esteja resolvido em setembro, mas analistas que acompanham a indústria de perto nos EUA afirmam que não ficariam surpresos se a novela só acabasse perto do fim do ano. 

Com quase um terço do mercado americano sob seu controle, a JBS terá muito mais força na hora de negociar preços com os pecuaristas se as duas transações receberem o sinal verde. Em algumas regiões onde os fazendeiros hoje têm três ou mais indústrias para vender seus bois, haveria apenas a JBS e um concorrente do outro lado da porteira. 

Isso preocupa os fazendeiros, mas a maioria parece resignada diante do que os analistas consideram uma tendência irreversível de concentração da indústria. Além disso, muitos criadores preferem apostar nas vantagens oferecidas pela entrada de um grupo novo e agressivo como a JBS num mercado que estava estagnado há muitos anos. 

"Estamos um pouco nervosos porque não gostamos de ver uma companhia sozinha com o poder de definir os preços do setor", diz o fazendeiro Philip Ellis, que cria gado no Estado de Wyoming. "Mas acho atraente a proposta que eles estão fazendo de criar um grupo global e trazer valor para todos na indústria." 

Se a aquisição da Smithfield for aprovada, a JBS também terá o controle de uma empresa chamada Five Rivers, dona de dez fazendas de confinamento de gado. Isso aumenta a apreensão entre os fazendeiros. Em algumas regiões, a JBS teria condições de abater os bois disponíveis nas suas fazendas e sair do mercado nas semanas em que achasse os preços sugeridos pelos criadores muito elevados. 

Senadores que têm colaborado com a causa da R-Calf USA em Washington sugeriram ao Departamento de Justiça que obrigue a JBS a abrir mão da Five Rivers se quiser que a aquisição da Smithfield seja aprovada, ou pelo menos restrinja a capacidade que o grupo teria de usar as fazendas de confinamento para se proteger contra as oscilações de preços no mercado de gado. 

A JBS tem se esforçado para convencer os políticos de que nada de ruim vai acontecer. Wesley Batista e outros executivos do grupo vão a Washington quase todo mês. Apesar das dificuldades que ainda tem com o inglês, Wesley participou de uma audiência pública no Senado que durou mais de duas horas e reuniu-se pessoalmente com pelo menos vinte senadores para defender seus planos.