Redação SI (22/06/2006) – Depois de afirmar que espera para as próximas semanas a chegada de uma missão técnica russa, que poderá, ou não, liberar parcialmente o embargo de exportação de carne suína, o Ministro da Agricultura, Rodrigues, reunido na terça-feira com lideranças do setor, em Brasília, foi muito claro: não devemos nos iludir essa negociação vai ser difícil, longa e ainda não conseguimos enxergar seu resultado final. Falando de maneira clara e franca, Rodrigues transmitiu um recado do seu colega russo da pasta da agricultura, com quem se reuniu por duas horas, no Aeroporto de Moscou, quando priorizou o pedido de liberação das exportações provenientes de Santa Catarina: quem sou eu para dar conselho ao senhor, mas os brasileiros deveriam ter procurado outras alternativas para Santa Catarina.
Essa frase possivelmente confirma a propriedade da análise feita por fontes privadas que atuam no mercado de carnes russo, que também se reuniram com Rodrigues em Moscou. Essas fontes consideram que o preço da carne suína praticado pelo Brasil na Rússia inviabiliza totalmente a produção local. Elas lembram que as eleições nacionais serão realizadas no ano que vem e um dos projetos políticos do governo seria exatamente o de criar condições para desenvolvimento de uma suinocultura forte na Rússia.
Ainda ontem (21/06), pela manhã, problema semelhante foi detectado com relação a Argentina. O Ministro da Agricultura daquele país, Milton Campos, ligou para Roberto Rodrigues reclamando que empresas de Santa Catarina estavam colocando carne suína em Buenos Aires a US$1.500,00 a tonelada, contra US$3.000,00 dólares do mesmo produto oriundo do Rio Grande do Sul, por exemplo. Campos reclamou duramente do forte impacto que aqueles preços provocam junto aos produtores argentinos.
Estavam presentes à reunião, o Presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS), Rubens Valentini; o Presidente da Cooperativa Aurora, José Zeferino Pedroso, o Deputado Odacir Zonta(PP-SC), o Presidente da Associação Catarinense dos Criadores de Suínos (ACCS), Wolmir de Souza, além de mais uma dezena de lideranças políticas regionais provenientes de Santa Catarina.
Roberto Rodrigues foi direto ao ponto que considera central: vocês precisam se organizar, pegar um avião amanhã para Buenos Aires e outro para Moscou e debater os assuntos pendentes na área empresarial.
Alternativas reais – O Presidente da ABCS, Rubens Valentini, aproveitou a oportunidade para defender uma das principais idéias colhidas durante o Fórum Legislativo realizado na Câmara dos Deputados e que também faz parte do Posicionamento Estratégico editado pela entidade no ano passado. Ele acha que devemos realmente priorizar o desenvolvimento do mercado interno. Se conseguirmos aumentar apenas dois quilos no consumo per capita interno, esse problemas estarão totalmente superados, lembrou Valentini. Mas, temos que sair do discurso e caminhar decisivamente em direção a ações práticas, aproveitando especialmente o clima de entendimento que estamos conseguindo produzir na cadeia produtiva, acrescentou.
Rubens disse a Rodrigues que a ABCS está preparando uma proposta destinada a organizar o financiamento de uma campanha nacional de promoção da carne suína, atendendo ao mesmo tempo as necessidades de recursos para as áreas de pesquisa e ações concretas voltadas para a qualidade do controle sanitário do plantel suíno brasileiro. Ainda que essa proposta não resolva as questões mais imediatas, como o represamento de animais nas granjas em conseqüência do embargo russo, Valentini acredita que esse momento de crise talvez represente a grande oportunidade de um entendimento entre todos os elos da cadeia produtiva.
A solução está aqui mesmo no mercado brasileiro, afirma Valentini, sem deixar de considerar que a ampliação do mercado internacional, e particularmente a diversificação do leque de países compradores, sejam questões importantes e de ordem estratégica para o setor. Ao final do encontro, Roberto Rodrigues disse que aguardará as sugestões da ABCS, já que para ele ações alternativas concretas são não só desejáveis, como indispensáveis neste momento.
O Presidente da Cooperativa Aurora, José Pedroso, concordou com as ponderações do Ministro e disse que levará o tema para ser debatido em reunião da ABIPECS, a ser realizada hoje ainda, em São Paulo. De antemão, Pedroso adiantou que devemos ter muito cuidado com o mercado argentino, que não é representativo em termos de volume, mas pode ter um significado emblemático em caso de um embargo.
O Presidente da ACCS, Wolmir de Souza, apresentou uma lista de reivindicações ao Ministro Roberto Rodrigues, incluindo preço mínimo e um posicionamento do governo favorável a um entendimento com entidades como a Associação dos Supermercados (ABRAS). O Ministro prometeu analisar as sugestões da ACCS.