A severa crise que castiga a suinocultura catarinense dominou as discussões do seminário e da assembleia geral anual da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc), em São José, na grande Florianópolis, convocada para discutir os novos desafios do agronegócio e prestação de contas.
“O que era no passado uma crise cíclica tornou-se uma crise permanente”, resumiu o presidente da Faesc, José Zeferino Pedrozo. Essa crise está caracterizada pela excessiva oferta de carne no mercado interno e a elevação dos custos – especialmente, soja e milho – principais insumos nutricionais da produção pecuária.
Os números essenciais da crise são retumbantes. Em 1970 havia em Santa Catarina 60.000 suinocultores. Hoje esse número baixou para 11.000, sendo 7.000 criadores integrados as agroindústrias e 4.000 independentes. Essa força de trabalho gera 800.000 toneladas de carne por ano, cuja destinação é a seguinte: 150.000 toneladas são exportadas, 200.000 toneladas são consumidas em território catarinense e as outras 450.000 toneladas são enviadas aos demais Estados, especialmente São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Nesse estágio da crise, o alto custo do milho está impactando o resultado final dos produtores rurais. Santa Catarina cultiva 540.000 hectares e produz cerca de 3 milhões de toneladas, mas consome 6 milhões, importando do exterior ou de Mato Grosso e Paraná o volume necessário para suprir o déficit de 3 milhões de toneladas.
“Aumentar urgentemente a produção de milho é questão de vida ou morte para a perpetuação do parque agroindustrial catarinense”, sentencia o vice-presidente da Faesc, Enori Barbieri. A Federação está se associando a Abramilho (Associação Brasileira de Produtores de Milho) para propor ao governo federal a criação de um vigoroso programa para o aumento da produtividade nacional mediante o aporte de tecnologia avançada em termos de sementes, manejo, preparação de solos e tratos culturais.
O ponto-chave do programa seriam os benefícios e incentivos que o governo central daria para os produtores ampliarem o uso da tecnologia. Outra estratégia é a transferência para a cultura do milho das áreas atualmente cultivadas com soja (cerca de 400.000 hectares em território barriga-verde). Nesse aspecto serão necessárias garantias de comercialização e liquidez para convencer os plantadores de soja a optarem pelo milho.
Barbieri pede atenção para o comportamento do mercado mundial. O Brasil deve produzir 73 milhões de toneladas de milho e consumir 53 milhões. Do superávit nacional de 20 milhões de toneladas, 12 milhões já estão negociadas no mercado externo. “Os preços internacionais estão aquecidos e, se o governo não monitorar, esse aparente excesso pode parar no exterior e aumentar a escassez interna de milho”, recomenda.
O custo de produção foi calculado em R$ 2,50 por quilograma de suíno vivo, mas o mercado comprador está pagando em torno de R$ 1,80. Por que, apesar desses números desestimulantes, a produção não baixa? O motivo da alta oferta de carne são os megaempreendimentos em granjas de grande porte e alta produção financiados pelo próprio Governo federal no centro-oeste que elevam a produção e a oferta e, assim, não deixam o preço subir. Comprovam essa avaliação os crescentes números das exportações: o País vendeu no exterior 550 mil toneladas em 2010, 2011 e 2012, mas produziu 3,3 milhões de toneladas de carne suína em 2010, 3,460 milhões em 2011 e deve fechar 2012 com 3,6 milhões.
CRISE NÃO É GERAL
O dirigente mostra que, ao contrário do que se pensa, a crise não é geral. Menciona o caso do Frigorífico Marfrig, em Seara, que abate 4.500 suínos/dia para o mercado russo: os criadores que atendem essa planta industrial têm um resultado econômico e financeiro muito bom. Outro segmento que está lucrando em plena crise são as unidades que compram a matéria-prima em forma de carcaças e cortes de suínos e as processam, gerando centenas de produtos industrializados com alto valor agregado. Das cerca de 500 empresas do setor controladas pelo Sistema de Inspeção Estadual (SIE), 180 abatem e vendem a carne para outras 320 que se dedicam a industrialização.
“Torna-se evidente que ficam no prejuízo os criadores e as indústrias produtoras que apenas abatem, mas não industrializam”, enfatiza Barbieri.
PROGRAMAÇÃO
Participaram da programação da Faesc, em São José, cerca de 100 presidentes de Sindicatos rurais de todas as regiões do território catarinense. Na primeira parte da programação, o assessor de planejamento da Companhia de Habitação do Estado de Santa Catarina (Cohab), Júlio César Pereira de Souza, palestrou sobre o programa nacional de habitação rural. Em seguida, o professor João Roberto Gretz palestrou sobre energização, entusiasmo e qualidade de vida.
O programa explicitado por Pereira de Souza resulta de convênio firmado entre a Faesc e a Cohab/SC e prevê a viabilização de 5.000 moradias no campo até 2014, de forma a reduzir o déficit habitacional rural, estimado em 17.000 habitações. Os agricultores familiares e trabalhadores rurais serão atendidos sob a forma coletiva, distribuídos em agrovilas ou unidades dispersas no território rural, por intermédio de entidades organizadoras de natureza pública ou privada, representativa do grupo de beneficiários, que serão de no mínimo quatro e de no máximo 50 participantes. Todas as unidades habitacionais vinculadas ao projeto devem estar localizadas no mesmo Município ou, no máximo, em três municípios distintos, desde que limítrofes.
Na etapa final foi realizada a assembleia geral anual da Faesc para apreciação de relatório, prestação de contas e balanço patrimonial do exercício de 2011. Todos os assuntos da ordem do dia foram aprovados. Fundada em 24 de março de 1948, a Faesc completou 64 anos em 2012. Atualmente, a instituição congrega uma centena de Sindicatos filiados que reúnem 42.420 associados.