A crise está instalada há seis meses e o quadro permanece inalterado. A disparada nos preços dos principais insumos (soja e milho) encareceu fortemente a produção de carnes de aves e suínos no Brasil e ameaça derrubar a competitividade do setor neste ano. O presidente do Sindicado das Indústrias da Carne e Derivados de Santa Catarina (Sindicarne), Clever Pirola Ávila, revelou que, em face do forte encarecimento do preço da soja nos mercados nacional e mundial, as previsões para 2013 são de redução da produção ou crescimento vegetativo, com inevitável aumento do preço dos alimentos cárneos no mercado doméstico e exportação.
Em razão da escassez de insumos, há forte pressão para aumento de preço dos grãos até a próxima safra. Santa Catarina tem mais de 17.000 suinocultores e avicultores integrados às agroindústrias produzindo num setor que emprega diretamente 105 mil pessoas e, indiretamente, mais de 220 mil trabalhadores. O setor no País se desenvolveu copiando o modelo de parceria produtor/indústria implantado em Santa Catarina a partir do início dos anos 70.
Como o Sr. avalia a crise dos insumos?
Clever Pirola Ávila – O alto custo do milho impacta o resultado final da produção rural. Santa Catarina cultiva 540.000 hectares e produz cerca de 3 milhões de toneladas, mas consome 6 milhões, importando do exterior ou do Mato Grosso e Paraná o volume necessário para suprir o déficit de 3 milhões de toneladas. Criadores e indústrias são os mais prejudicados. Mas não há dúvidas que o produtor independente, aquele que não participa do sistema de integração, está em situação dramática porque não tem a cobertura de nenhuma agroindústria.
De que forma e com que intensidade a conjugação desses dois insumos em processo de alta (milho e soja) repercutirá nos custos totais de produção de carne de frango?
Clever – Se os custos de matéria-prima continuarem subindo teremos impacto no custo total do frango de forma direta, sem dúvida. Não há outro caminho senão repassar os custos para os preços. O consumidor pode esperar um inevitável encarecimento do preço do frango? É uma grande possibilidade, porém o mercado define os preços não somente pelos custos, mas também pela lei da oferta e procura.
Como a cadeia produtiva da avicultura poderia evitar ou minimizar esse problema?
Clever – Através da gestão de estoques e estratégias de aquisição, com controle das exportações.
Qual o impacto desses insumos na produção de aves e suínos?
Clever – O aumento das exportações de milho e farelo de soja causou desbalanceamento de abastecimento no Sul do Brasil, perda momentânea de competitividade em todos os mercados e aumento do uso de capital de giro. As cotações de milho e soja estão elevadas, acima dos níveis médios dos últimos anos. O milho e a soja são os principais componentes da nutrição de aves e suínos e representam 70% do custo de produção. Enquanto os sojicultores comemoram, avicultores, suinocultores e agroindústrias sofrem. Os preços elevados da soja e do milho encarecem verticalmente os custos das cadeias produtivas de aves, suínos e leite, afetando os criadores e as agroindústrias. Santa Catarina é autossuficiente em soja, mas importa todo ano mais de 3 milhões de toneladas de milho, com altíssimo dispêndio em transporte.
Quais foram as principais consequências para o setor com a elevação dos custos e as principais dificuldades que o setor vem enfrentando?
Clever – As consequências foram a elevação dos preços para os mercados interno e externo e diminuição momentânea da produção para a busca do equilíbrio de custos. As dificuldades residem na falta de crédito para capital de giro, regularidade de abastecimento de matérias-primas, além das consequências das greves dos diversos serviços públicos essenciais ao nosso setor, como Anvisa, Dipoa, SIF, Vigiagro, Receita Federal e Polícia Federal.
Em qual mercado os impactos foram maiores, no interno ou externo?
Clever – O impacto de preços foi instantâneo no mercado interno e, sequencialmente, no mercado externo, pois tivemos que cumprir os contratos fechados anteriormente.
Houve queda na produção e nas vendas por conta do aumento de custos?
Clever – A queda momentânea da produção ocorre pela dificuldade de obtenção de crédito para capital de giro. As vendas foram mantidas através dos contratos já efetuados e estoques regulares, porém num novo patamar de preços.
Diante desse cenário complicado, as metas de crescimento previstas para 2012 em termos de produção, demanda interna e exportação serão comprometidas?
Clever – Na realidade, conforme planejado, o crescimento será vegetativo, uma vez que não houve abertura de nenhum mercado de grandes volumes em 2012.
Quais as soluções para a superação desse quadro de dificuldades?
Clever – A curto prazo precisamos canalizar via dispositivos do Governo Federal a disponibilidade dessas matérias-primas em Santa Catarina. A médio e longo prazo precisamos aumentar urgentemente a produção de milho. Precisamos unir todos os elos da cadeia produtiva para propor ao Governo Federal a criação de um vigoroso programa para o aumento da produtividade catarinense e nacional mediante o aporte de tecnologia avançada em termos de sementes, manejo, preparação de solos e tratos culturais. O ponto-chave desse programa deve ser a concessão de benefícios e incentivos que o governo central daria para os produtores ampliarem o uso da tecnologia. Outra estratégia é a transferência para a cultura do milho das áreas atualmente cultivadas com soja (cerca de 400.000 hectares em território barriga-verde). Nesse aspecto serão necessárias garantias de comercialização e liquidez para convencer os plantadores de soja a optarem pelo milho.
Qual é a expectativa do setor para o ano de 2013?
Clever – Trabalhar com o novo patamar de custos para Commodities; continuar repassando este aumento de custos para os preços de venda; aproveitar a oportunidade de potenciais aberturas de Santa Catarina para suínos, como Japão e Coréia do Sul, além dos mercados já abertos: USA e China.