Não há uma fórmula para amenizar os efeitos da crise econômica internacional na América Latina. Mas, em um ponto, há consenso entre os altos executivos e representantes de governos e instituições multilaterais que participam do Fórum Econômico Mundial da América Latina: a atual crise é diferente das vivenciadas em décadas anteriores pela região e a América Latina precisa encontrar as próprias respostas.
Para o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, a América Latina não pode ir atrás das mesmas soluções adotadas pelo G7 (grupo das sete economias mais desenvolvidas do mundo). “Não é como as [crises com] que estamos acostumados. Não é uma crise política, de balança de pagamentos, de inadimplência ou de inflação. Também não temos o tipo de bolha de alavancagem que vemos noutras regiões e, por isso, não podemos buscar as mesmas soluções adotadas pelo G7”, disse ele, ao debater sobre o cenário econômico regional para 2009.
No entender de Ricardo Marino, diretor do Itaú/Unibanco, não é uma questão de crise estrutural na região, mas uma “contração cíclica exportada de fora”. Para Marino, a América Latina está menos vulnerável, devido aos ajustes macroeconômicos da década passada. Mas nem por isso não corre riscos. Entre os temores manifestados no encontro está o crescimento do desemprego.
“Estamos vendo, ou veremos logo, taxas de desemprego de dois dígitos”, alertou Felipe Lorrain Bascuñán, professor de economia da Universidade Católica do Chile. Bascuñán destacou o papel do Estado, não apenas na criação de novas vagas, mas também na capacitação dos trabalhadores para preservação do emprego. E defendeu a importância de subsídios para a criação de novas vagas de trabalho.
Os processos eleitorais deste ano na região também preocupam os participantes do Fórum Econômico Mundial da América Latina, que integra o calendário do Fórum de Davos, na Suíça. Há receios sobre o que definem como “retrocessos políticos”. “Estamos iniciando uma nova rodada de eleições, e isso aumenta as chances da volta do populismo e a adoção de medidas sem sustentabilidade”, alertou Maurício Cárdenas, diretor da Iniciativa para a América Latina do Brooking Institute, dos Estados Unidos.
Mais cedo, ao divulgar relatório da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) sobre as perspectivas econômicas da América Latina para 2009, o economista-chefe do Departamento de Desenvolvimento da OCDE, Javier Santiso, também manifestou preocupação com as eleições latino-americanas. “Seja qual for a saída para essa crise, mais rápida ou mais lenta, o ruído dos ciclos eleitorais também vai permear os mercados financeiros”. O relatório mostra que os mercados financeiros se tornam mais nervosos em períodos eleitorais.
Cárdenas disse ainda que os incentivos públicos são bem-vindos, mas que é preciso tomar cuidado com as políticas de subsídios a determinados grupos ou setores. “Temos que tomar cuidado para que em um segundo momento esses setores ou grupos possam se manter com suas próprias pernas”, alertou.
Já Alícia Bárcena Ibarra, secretária executiva da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), considerou importante a proteção aos investimentos na região. “Apesar de estarmos perdendo um pouco de receita, temos que proteger os investimentos”. Ela também defendeu maior diálogo entre o governo e a iniciativa privada para que o impacto da crise seja uniforme sobre todos os segmentos. “É muito importante a coordenação entre o que os governos pretendem fazer, o setor produtivo e o privado. Estamos vendo governos anunciando medidas sem ouvir o setor privado”, disse.