Fonte CEPEA

Carregando cotações...

Ver cotações

Economia

Crise europeia pode contagiar emergentes

Para o Bird, aumento dos juros nos financiamentos é um risco para capital de giro das empresas.

O Banco Mundial (Bird) vê risco de a crise soberana na Europa contagiar países em desenvolvimentos no médio prazo, apesar das tentativas de Bruxelas para resolver o problema da periferia europeia. Bancos comerciais internacionais projetam necessidade substancial de financiamento na Europa, para cobrir déficit e dívidas a vencer, podendo representar de 20% a 25% do Produto Interno Bruto (PIB) de certos países da zona euro nos próximos anos.

Somente a Grécia, Irlanda, Espanha e Portugal precisarão levantar € 300 bilhões este ano, enquanto a relação dívida/PIB crescerá 13%, 8%, 7% e 10% respectivamente em 2012.

Atual bola da vez nos mercados, Portugal enfrenta o desafio de captar € 21 bilhões entre abril e o fim do ano. Já conseguiu € 12 bilhões desde o começo do ano, pagando taxas recordes para um país da zona euro. No total, serão € 33 bilhões de financiamento este ano, equivalente a 19% do PIB. Os spreads dos títulos de dívida portuguesa de 10 anos chegaram a 7,7%, mas a pressão maior tem sido sobre os papéis de cinco anos, com juro de 8,5%, ilustrando desconfiança dos investidores em relação ao país.

Para Carlos Primo Braga, diretor do Banco Mundial na Europa, o crescimento da dívida pública na Europa sugere que o spread entre juros de longo prazo e de curto prazo pode aumentar com o tempo e implicar maior custo de financiamento e redução nos prazos de maturação de novos empréstimos.

“Todo mundo poderá aumentar os juros para financiar sua dívida pública e os países em desenvolvimento serão atingidos pelo aumento do custo de capital para suas empresas”, disse ele ao Valor. “E quando vier aumento de juros nas grandes economias no médio prazo, também afetará a capacidade de os países em desenvolvimento se financiar.”

Sobre a situação das nações em desenvolvimento em geral, o diretor do Bird na Europa se diz em todo caso “otimista, pois não enfrentam o problema de dívida soberana”. Mas o monitoramento é forte em relação a economias mais frágeis. Equador e Jamaica procuram renegociar seu endividamento no mercado internacional.

Outros cinco estão em situação de calamidade total da dívida, como Sudão, Guiné, Somália e Comores. Dezesseis nações têm alta probabilidade de enfrentar problemas da dívida, 20 representam risco moderado e 15 de risco baixo. A proporção é idêntica à da pré-crise de 2008.

Na Europa, os 27 países-membros ainda não completaram o mecanismo permanente para lidar com os riscos da dívida soberana, que será dotado de capital próprio de € 700 bilhoes. Detalhes técnicos serão negociados até junho. Somente a partir de 2013 é que o novo mecanismo funcionará. Portugal receberá assistência com base no plano de socorro atual.

Enquanto isso, o fragilizado setor bancário na periferia da Europa aumentou sua exposição aos títulos dos governos, dificultando mais sua própria situação. Em Portugal, as entidades domésticas aumentaram em 70% sua exposição aos papéis do governo. Na Espanha, a alta foi de 30%, na Grécia de 45% e na Irlanda quase dobrou desde o fim de 2009. Ou seja, enquanto os governos precisam maciçamente de dinheiro para 2011, o risco persiste sobre o balanço dos bancos, com a concentração dos papéis dos governos aumentando sua vulnerabilidade.