A vida dos exportadores brasileiros está cada vez mais tumultuada com a perda de competitividade frente ao mercado internacional. A valorização do real nos últimos meses tem causado redução na quantidade de cargas enviadas ao exterior. No caso dos produtores de carne suína – segmento no qual o Brasil é o quarto maior exportador do mundo -, a queda dos preços internacionais e as exportações praticamente estacionadas desde 2005 agravam ainda mais o atual panorama. Segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), Pedro de Camargo Neto, o trabalho da entidade está focado na abertura de novos mercados e na esperança de que o Mercosul comece, de fato, a funcionar.
Entre os países do continente sul-americano, somente a Argentina compra quantidades razoáveis de carne de porco brasileira. Em 2009, os “hermanos” ocuparam o quinto posto entre os principais compradores do Brasil – atrás de Rússia, Hong Kong, Ucrânia e Angola -, com 28.57 mil toneladas. Entretanto, a mera existência do Mercosul não auxilia em nada os exportadores, opina Camargo Neto. “O Mercosul enfrenta crise existencial. A região é promissora, porém o Mercosul, como instituição, atualmente não deve ser levado a sério”.
Abrir mercados ainda fechados para o Brasil, como Japão e Coreia do Sul, também podem ajudar a elevar o preço internacional da carne brasileira. De acordo com o presidente da Abipecs, não é possível fazer negócios com esses países basicamente por causa do fator sanidade animal. Muitas outras nações ainda não confiam no tratamento sanitário dado pela produção nacional e o Governo Federal, explica Camargo Neto, precisa se empenhar em reverter a situação. “Conseguindo isto as exportações podem triplicar”.
Além da crise internacional, os exportadores de carne de porco enfrentaram o surto da gripe A H1N1 em 2009, popularmente chamada de carne suína e que afastou momentaneamente os compradores. Ainda assim, o Brasil exportou 607,49 mil toneladas de janeiro a dezembro do ano passado, um crescimento de 14,75% em volume em relação ao mesmo período de 2008. No entanto, o valor arrecadado caiu 17,09%, passando de US$ 1,48 bilhão para US$ 1,23 bilhão. As exportações brasileiras permanecem em torno de 600 mil toneladas desde 2005 e essa é a barreira que a Abipecs busca superar em 2010.
Para isso, observa Camargo Neto, a valorização do real precisa ser enfrentada com política monetária e reformas estruturais, como a tributária. O aperfeiçoamento da infraestrutura nacional, especialmente no acesso aos portos e no transporte interno das cargas, também não é esquecido pelo presidente da entidade. Tantos obstáculos têm desestimulado produtores a entrar ou seguir participando do comércio internacional, mas ele espera que os produtores não se rendam diante das dificuldades. “Certamente é um desestímulo, porém é preciso pensar mais longe, no longo prazo, onde o Brasil tem grande futuro”.