Sem ter o que comemorar em matéria de aprofundamento da integração, a reunião dos ministros do Mercosul foi palco ontem (23/07) de um enfrentamento entre o Paraguai e a Argentina. O chanceler do Paraguai, Hector Lacognata, denunciou o aumento da desilusão em torno do Mercosul por causa das medidas protecionistas adotadas, e declarou que o bloco vive um “momento muito grave” e está em “estado terminal”.
Ironicamente, o governo paraguaio foi o principal responsável pelo bloqueio de duas medidas consideradas essenciais para aprofundar a integração – a adoção do Código Aduaneiro Comum e a eliminação da dupla cobrança da Tarifa Externa Comum (TEC) – em dezembro passado. Sob a presidência temporária paraguaia do bloco, que termina hoje, a negociação de novas versões desses acordos não evoluiu.
A Argentina reagiu de forma dura ao Paraguai, enquanto o Brasil se manteve afastado dessa discussão.
O secretário de Relações Econômicas da chancelaria argentina, embaixador Alfredo Chiaradia, advertiu que declarações sobre fracassos tendem a se transformar em “profecias autorrealizadas” e responsabilizou, indiretamente, o Paraguai pelos atrasos na agenda do Mercosul.
“Nenhum país pode transferir a responsabilidade pela falta de avanço no Mercosul aos demais”, rebateu o embaixador argentino. “(Um país) não pode pretender que os demais sócios se acomodem às suas posições”, afirmou.
Coube ao Uruguai, que assume a presidência do Mercosul amanhã, acomodar a questão. Em sua lista de prioridades para este semestre, os uruguaios afirmaram que vão atacar os dois acordos pendentes e que, se não obtiver avanços, Montevidéu vai negociar bilateralmente com o Brasil o fim da dupla cobrança da TEC.
O Ministério da Fazenda brasileiro defende essa saída bilateral, como forma de superar aos obstáculos do Paraguai, e propõe que o Brasil comece essa negociação pela Argentina.
Essa alternativa bilateral, entretanto, embute a impossibilidade de o Mercosul reforçar, como bloco coeso, sua própria consistência.