O primeiro canal pelo qual o Brasil pode ser atingido com uma piora da crise no cenário externo é o da balança comercial, já que o País é fortemente dependente das exportações de commodities e deve sofrer com uma possível queda de preços e demanda externa por esses itens. Nesse cenário o superávit da balança comercial brasileira poderia ser reduzido, com possibilidade até de um resultado negativo no ano que vem, elevando ainda o déficit das transações correntes. Este material faz parte da “Perspectiva Macro” exclusiva da Agência Leia.
Segundo José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), só com a queda dos preços das commodities nos últimos dias, em função da piora do cenário externo, o valor exportado pelo Brasil teve uma redução de quase US$ 3 bilhões.
Para Castro, se a queda dos preços das commodities continuar o impacto será principalmente a partir do quarto trimestre deste ano, o que não deve impedir um superávit da balança em 2011, mas traz dúvidas sobre o saldo da balança no ano que vem. Neste ano até o dia 7 de agosto, o saldo comercial já está positivo em US$ 17,140 bilhões e analistas tinham projetado, em média, que o superávit poderia chegar aos US$ 25 bilhões até o final do ano.
“Estamos acompanhando a situação, o Brasil está mais protegido hoje, tem um nível de reservas elevado, mas dependemos altamente da commodities, o que pode trazer mudanças na balança em 2012 e o déficit em conta corrente aumentaria, sendo que o investimento estrangeiro direito também pode diminuir”, ressaltou Castro.
Roberto Giannetti da Fonseca, economista e diretor titular do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), também prevê que podem ocorrer impactos no saldo comercial em 2012. “A situação vai se agravar para a balança no ano que vem. Este ano já está ganho, podemos ainda ter um superávit de US$ 25 bilhões, mas se os preços de commodities recuarem podemos ter um desequilíbrio e até déficit em 2012”, disse.
Além do impacto das commodities, Giannetti acredita que o déficit das exportações de produtos manufaturados também pode ampliar, já que exportamos esses produtos principalmente para os Estados Unidos e países da América Latina, que devem sofrer com a crise e importar menos. Segundo o diretor, os Estados Unidos que, cerca de três anos atrás, era o primeiro destino das exportações brasileiras pode cair até para o quinto destino.
Já o economista Bruno Lavieri, da Tendências Consultoria, acredita que ainda é cedo para falar que ocorrerá um impacto no comércio exterior e é o mais otimista, ao ressaltar que o período pode ser passageiro. O economista ainda afirmou que já era esperada uma redução dos preços das commodities, assim como algum arrefecimento da economia chinesa, mas nada que seja capaz de afetar significativamente a sua demanda.
“Não enxergamos um aprofundamento da situação e não vemos as commodities recuando muito mais do que já recuariam, a perspectiva para as exportações de commodities ainda são boas já que é baseada principalmente na demanda da China e da India. É esperado um arrefecimento na China, mas não é nada muito brusco, o governo chinês tem muitas ferramentas para estimular o consumo”, argumentou.
Segundo Lavieri, a Tendências por enquanto está mantendo a sua projeção de um superávit da balança comercial de US$ 28 bilhões este ano, com exportações de cerca de US$ 240 bilhões, considerando ainda que o câmbio deve se manter no patamar de R$ 1,60. A previsão é semelhante a previsão do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), que em maio revisou para US$ 245 bilhões a sua previsão de exportações para 2011. O ministério não faz projeções para importações e saldo comercial.