Os próximos 30 dias serão decisivos para a suinocultura em Mato Grosso do Sul. Por causa do elevado preço do milho e do embargo para a carne suína brasileira em países como Rússia e Ucrânia, a atividade está ameaçada. O custo de produção já é maior que o valor pago pelo mercado. A ração para suínos é composta por farelo de soja, farinha de carnes e 70% de milho. Com a alta do cereal, a criação dos animais ficou bem mais cara.
Na propriedade de Elson Ladea em São Gabriel do Oeste, a 140 quilômetros de Campo Grande, nascem em média seis suínos por semana. Preocupado com o aumento nos custos de produção, ele faz as contas: para produzir um quilo de carne, o produtor precisa desembolsar R$ 2,30. Há um ano, o gasto era de R$ 1,60. O preço de venda ao frigorífico, segundo os criadores, não acompanhou o mesmo ritmo. Hoje, o quilo vivo sai por R$ 1,75. Em junho do ano passado o valor médio era R$ 2,10. Perdas de R$ 0,55 por quilo vivo. “Com essa diferença entre o preço do suíno e o preço da ração, você praticamente está dando R$ 80 para trabalhar com o suíno. É um prejuízo muito grande e está difícil de amargar”, diz o suinocultor.
São Gabriel do Oeste é o maior produtor de suínos de Mato Grosso do Sul. Mas os criadores estão apreensivos com a crise no setor, segundo eles, a pior dos últimos dez anos. Em uma cooperativa que reúne 58 suinocultores, são fabricadas 300 toneladas de ração por dia. Mas para atender todos os associados, é preciso comprar outras 200 toneladas nos estoques do governo. Segundo os cooperados, o problema é o preço. A saca de 60 quilos está sendo comprada a R$ 25, mais que o dobro da cotação do ano passado (R$ 12).
O produtor Osmar Pessato diz que as matrizes em sua fazenda produzem em média 500 leitões por semana. O consumo de ração passa de 20 toneladas por dia. Para reduzir os custos com a ração, o dono da propriedade planta milho em 800 hectares nos arredores das granjas. Mesmo assim, ele diz que os prejuízos com a criação de suínos passam de R$ 120 mil por mês. Se não houver mudanças no cenário de crise nos próximos 30 dias, Pessatto diz que vai começar a abater matrizes. “Essa medida vai ser tomada porque é o único fôlego que agente tem para continuar . Após isso, a única solução que nós temos é parar com a atividade”, relata.
E não foram apenas os insumos que elevaram os custos da produção. O fim das exportações de carne de porco para a Rússia e Ucrânia, principais compradores do Brasil, também contribuiu para desaquecer o setor. Sem contar a maior oferta do produto no mercado interno. O presidente da Cooperativa Agropecuária de São Gabriel do Oeste, Jair Borba, acredita que nos próximos dias o prejuízo deve começar a ser revertido. “Com a entrada do frio, a tendência é aumentar o consumo da carne suína. Temos também a entrada do milho safrinha, que a colheita deve estar começando em torno de 15 a 20 dias na região, e isso deve diminuir um pouco o custo de produção”, afirma.