Redação (17/11/2008)- A safra de verão brasileira foi delineada um pouco antes da crise que provocou turbulência na economia mundial. Produtores contrataram pacotes tecnológicos para soja e milho, que sofreram alterações em função do resultado da safra anterior, sobretudo do milho. Porém, a crise mundial deve respingar no desempenho agrícola brasileiro.
A opinião é de Anderson Galvão, diretor de uma empresa de análise de mercado de Uberlândia (MG). Segundo ele, embora a safra tenha sido definida anteriormente com a compra do pacote tecnológico, o produtor pode reduzir a utilização de tecnologias. ””Apesar do pacote, o agricultor precisa de novos investimentos no decorrer da safra. E como não tem o capital de giro necessário, acaba gastando menos””, afirma.
De acordo com Galvão, uma das formas utilizadas pelo agricultor para reduzir custos é a diminuição da aplicação de fertilizantes. Mesmo a soja, que tem um custo menor quando comparada ao milho, recebe menos fertilizantes. ””No controle de doenças e pragas, o produtor pode optar por um genérico no lugar de um produto de primeira linha””. exemplifica.
Analistas afirmam que os efeitos da crise serão sentidos de fato na safra 2010. A crise agora tem um efeito psicólogico e deverá interferir mais diretamente na safra de inverno. ””A dificuldade neste momento é com a escassez de crédito, que vai prejudicar a cultura do algodão””, diz Galvão. Ele acrescenta que a situação não é exclusividade do Brasil e atinge países como Ucrânia, Rússia, Polônia e Argentina.
Certamente a crise vai mudar a rentabilidade do agronegócio. Para o analista o bushel da soja dificilmente alcançará novamente os US$ 16,00. Na última quarta-feira, a Bolsa de Chicago registrou US$ 9,50 o bushel. Porém, Galvão acredita que após três ou quatro meses haverá uma acomodação no mercado internacional e o preço deve passar dos US$ 10,00. Ele lembra que apesar da recuperação de área nos Estados Unidos, os estoques mundiais de soja continuam baixos.
Segundo Galvão, as commodities tiveram queda acentuada nos últimos meses. Mas ele considera que as commodities agrícolas têm particularidades. Numa crise há retração na compra de bens duráveis e pode haver queda na demanda por aço ou petróleo. ””Mas as pessoas não deixam de comer””, afirma, acrescentando que não acredita numa redução drástica no consumo de produtos agrícolas.