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Entrevista

Custos de produção na suinocultura deve manter-se elevado em 2011, diz presidente do Grupo Agroceres

Para Fernando Pereira, perspectivas são promissoras, mas produtor precisa ficar de olho no preço dos grãos. Milho foi o principal responsável pelo aumento do custo de produção neste início de ano.

A suinocultura brasileira tem tudo para continuar se consolidando em 2011, após o bom desempenho que registrou em 2010. A oferta está ajustada à demanda, o mercado interno forte mantém o consumo aquecido, os preços internacionais estão firmes e a expectativa é de que o Brasil volte a ampliar suas exportações de carne suína neste ano.

 O grande motivo de atenção, no entanto, fica por conta do custo da ração. A expressiva alta nos preços do milho no segundo semestre de 2010 e neste início de ano, por exemplo, colocou os produtores de sobreaviso. Somente entre dezembro de 2010 e janeiro de 2011 a cotação do milho registrou uma valorização de 17% no mercado nacional, segundo levantamento da Jox. Isso significa que embora os preços pagos pelo suíno tenham se mantido ainda bons, as margens encolheram. “Os custos de produção, por conta da valorização das commodities agrícolas, subiram bastante e não há indícios de que venham a recuar ao longo do ano, para níveis próximos daqueles de 2010.” afirma Fernando Pereira, presidente do Grupo Agroceres.

Segundo ele, todos os indicadores do setor apontam para um cenário de tranquilidade no que se refere ao equilíbrio entre oferta e demanda de carne suína no mercado interno, mas não necessariamente no tocante aos custos de produção. “Essa é a grande questão para o setor neste início de ano”, pondera o presidente da Agroceres.

Por outro lado, argumenta o executivo, a recente alta dos preços dos grãos no mercado internacional e o processo de consolidação das fusões entre as agroindústrias do setor, ainda em marcha no País, devem continuar postergando novos investimentos para o aumento da produção de suínos. “Diante desse cenário, é muito provável que esse ciclo favorável de preços para a suinocultura se mantenha por um período mais longo”, afirma. 

Na entrevista a seguir, o presidente do Grupo Agroceres fala sobre as perspectivas da suinocultura brasileira para os próximos anos, faz projeções para o abastecimento e preços do milho em 2011, comenta o aumento dos custos de produção na atividade e o que o produtor pode fazer para enfrentá-lo, e explica porque não há nenhum investimento expressivo em andamento para ampliação da produção, apesar do bom momento do setor nos últimos dois anos. Confira. 

A suinocultura brasileira registrou um bom desempenho em 2010. Na opinião do senhor quais são as perspectivas para o setor suinícola em 2011?

Fernando Pereira – No que se refere ao balanço entre oferta e demanda as perspectivas se mantém boas. Não existe um incremento de produção que justifique uma oferta adicional expressiva de carne suína no mercado. A carne bovina deve permanecer com preços elevados. Então, salvo ocorrência de algum fato inusitado, não esperamos nenhum problema de preços em 2011. A grande questão fica por conta dos custos de produção. Estes, por conta da valorização das commodities agrícolas, subiram bastante e não há indícios de que venham a recuar ao longo do ano, para valores próximos daqueles de 2010. Do lado da exportação, acredito que iremos recuperar pelo menos uma parte do espaço que perdemos em 2009, que foi relativamente expressivo em volume (cerca de 11%). Não há abastecimento adicional de carne suína no mercado externo e alguns países necessitam recompor suas disponibilidades. Esse quadro confere um cenário de tranquilidade no aspecto de oferta e demanda, mas não necessariamente no aspecto de custos.    

A expressiva valorização do preço do milho neste início de ano tem assustado os produtores. Como o senhor avalia as perspectivas de abastecimento e preço do milho para o este ano?

Fernando Pereira – No que se refere especificamente ao abastecimento de milho, salvo alguma frustração expressiva na produção da segunda safra desse cereal, também chamada de safrinha, não devemos ter problemas. Ou seja, não haverá falta de milho. Entretanto, parece certo que continuaremos com preços de milho elevados em 2011. Oscilações devem ocorrer durante o ano, mas o preço do milho deve continuar, em média, bem acima do preço praticado no ano passado. E, principalmente, o mercado de milho deve apresentar-se muito volátil neste ano.  

Nesse quadro de custos de produção mais elevados que cuidados os produtores precisam tomar?

Fernando Pereira – Os cuidados são clássicos, entretanto são muito mais visíveis neste momento. O produtor tem que ter muita atenção com aquilo que está sob seu controle. Ou seja, o desempenho de sua própria produção, o desempenho zootécnico de seu rebanho. E quando se tem alto custo de ração, o principal componente que demanda atenção é a conversão alimentar. Então são dois pontos: atenção ao desempenho zootécnico, principalmente via conversão alimentar, e à gestão de caixa. E para fazer isso ele tem que estar muito ligado nas informações de mercado para tomar a decisão correta na aquisição de insumos. 

Sabe-se que a oferta ajustada é um dos pilares para a rentabilidade do setor. O bom momento vivido pelo setor suinícola nos últimos dois anos está estimulando investimentos e consequentemente aumento da produção brasileira de carne suína? Que tipo de reflexos isso poderia trazer para o desempenho do setor, senão para 2011, para os próximos anos?

Fernando Pereira – Quando avaliamos o que está acontecendo nesse período, ao contrário de outros ciclos anteriores, nós não tivemos, e não estamos tendo ainda, um estímulo para ampliação da produção de suínos no Brasil. Em momentos passados, em outros ciclos como este, depois de alguns meses de rentabilidade favorável, já se iniciava a ampliação de granjas e a execução de novos projetos. Isto não está acontecendo. 

Não está acontecendo por quê?

Fernando Pereira –  Primeiro porque entre 2009 e 2010 vivemos um grande impacto gerado pelo movimento de consolidação de grandes empresas do setor. Essas empresas priorizaram a consolidação em detrimento de novas expansões. O segundo ponto é que o cenário macroeconômico mundial adverso dos últimos dois anos assustou os produtores independentes, inibindo investimentos em expansões expressivas. As expansões que ocorreram foram pontuais e muito pequenas. E agora, quando parecia que a confiança para novas expansões iria voltar, o aumento substancial nos preços dos grãos esfriou os ânimos novamente. Estamos vivendo, portanto, um cenário de oferta limitada em relação ao consumo, o que mantém os preços bons.

Mas não podemos confundir preço com margem. Os preços dos suínos seguem bons, mas a margem está, neste momento, muito mais estreita, devido ao aumento dos custos de produção. Isto está afugentando novos investimentos e os processos de consolidação ainda estão se concretizando. Portanto, é muito provável que esse ciclo favorável de preços para a suinocultura se mantenha por um período mais longo. 

O senhor acredita que o consumo no mercado interno continuará sendo o “motor” do bom desempenho da suinocultura nacional? 

 Fernando Pereira – Tudo indica que sim. Há sinais de que o mercado interno continuará, mais uma vez, sendo o principal fator de estabilidade de preços para a carne suína neste ano. Entretanto, quando comparamos o mercado interno com o externo, temos que olhar o lado mais estratégico, de longo prazo. Está sendo buscado, e devemos continuar buscando, oportunidades para colocar nossos produtos no mercado internacional, objetivando uma maior estabilidade e a ampliação de nossas capacidades no longo prazo. 

A Agroceres PIC está participando do Show Rural Coopavel 2011. O que o senhor poderia falar sobre essa participação?

Fernando Pereira – O Show Rural Coopavel é, sabidamente, uma referência para o agronegócio brasileiro. A difusão de tecnologia para as cadeias produtivas do agronegócio é o marco principal desse evento. E nós, que participamos das cadeias produtivas das carnes, não poderíamos deixar de estar ao lado da Coopavel partilhando de um momento tão marcante como este. Vale destacar também a nossa certeza de sucesso do evento que tem o aval, a liderança e o entusiasmo de Dilvo Grolli, presidente da Coopavel.