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Economia

Custos de produção pressionam produtores de suínos

Comparado ao mesmo período de 2015, o mês de fevereiro registrou alta de 57% no valor da saca de 60 kg. A variação pressiona produtores de aves e suínos, que contam com milho como base da ração animal

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Mesmo com o avanço da colheita do milho da safra de verão, os preços do cereal no mercado não têm baixado. Pelo contrário. Comparado ao mesmo período de 2015, o mês de fevereiro registrou alta de 57% no valor da saca de 60 kg. A variação pressiona produtores de aves e suínos, que contam com milho como base da ração animal.

Em 12 meses fechados em janeiro, o custo de produção de suínos teve aumento de 21,9%, enquanto o das aves subiu 22,6%. A explicação para a majoração do preço está na alimentação dos animais, que consome mais de 70% dos custos de produção.

Na última quarta-feira (2), as sacas de milho foram negociadas a R$ 44,69, segundo o Indicador Esalq/BM&FBovespa – referência para o mercado físico e para contratos negociados em bolsa. O valor é recorde histórico da série de levantamentos, iniciados em 2004.

Para os produtores, o preço fechou fevereiro em R$ 38,50, segundo pesquisa semanal da Associação Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs) realizada com indústrias e produtores gaúchos. No ano passado, fevereiro se encerrou com a saca de 60 kg do milho sendo negociada aos produtores em R$ 24,40.

Na propriedade de Irno (52) e Eliani Zart (50), em Linha Delfina, no interior de Estrela, o valor recebido pelo último lote de suínos vendidos assustou. A família, que cria 1,3 mil porcos na fase de terminação, costumava receber cerca de R$ 24 por animal, a cada lote. No entanto, na última entrega, há cerca de três semanas, o valor baixou para R$ 18, devido ao aumento no preço do milho. Como a produção é integrada a uma cooperativa, a ração é fornecida pela empresa e descontada do preço final.

A produção de leite e gado de corte ajuda a equilibrar o orçamento da propriedade. Mesmo assim, a família Zart aguarda uma melhora no preço dos suínos, inclusive, porque um terceiro chiqueiro para 650 porcos começará a ser construído na propriedade. A intenção é garantir que os filhos João Ortêncio Zart (18) e Irno Zart Júnior (19) possam permanecer trabalhando em casa. “É preciso uns R$ 25 por porco para valer a pena. Abaixo de R$ 20 não paga nem as despesas”, afirma Zart, suinocultor há quatro anos.

Alto custo, baixa margem

A situação dos Zart é confirmada pelo presidente da Acsurs, Valdecir Folador. De acordo com ele, o custo com insumos – dentre os quais o milho é o mais importante – está bem acima do preço pago pelos animais. Folador aponta que o criador gasta R$ 3,80 por quilo com os suínos, mas só consegue recuperar R$ 2,80 na venda aos frigoríficos. Por esta estimativa, com a venda de um animal de 110 quilos, o prejuízo seria de R$ 110, por exemplo.

“Não tem milagres a serem feitos dentro de uma cadeia produtiva quando um dos elos está pressionado por altos custos e baixas margens”, afirma Folador, que também é conselheiro de relações com o mercado da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos. “O início de 2016 teve uma alta muito forte no custo de produção, que já vinha desde o último trimestre do ano passado. Porém, até dezembro, nós tínhamos um preço interno do quilo do suíno vivo se mantendo, que cobria os custos, mesmo com o milho aumentando”, explica.

Para se manter com esse quadro, suinocultores como Zart estão queimando reservas acumuladas durante os anos de 2014 e 2015. “O produtor acaba lançando mão de algumas reservas e fica aguardando, porque não tem o que fazer. Ou ele faz isso ou pensa em reduzir ou desistir da produção”, lamenta Folador. “Por enquanto ainda vamos levando, mas se baixar mais fica difícil”, confirma Zart.

A expectativa é de que, a partir do segundo trimestre do ano, a entrada da safra da soja no mercado dê um fôlego a avicultores e suinocultores. Conforme o presidente da Acsurs, a safra de verão do Rio Grande do Sul que está sendo colhida já está, em sua maioria, comprometida com contratos, tanto no mercado interno como para exportações. “Não temos uma oferta que possa pressionar o preço para baixo”, diz.

Insuficiência de milho no RS

Conforme o diretor-executivo Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), José Eduardo dos Santos, as dificuldades para os avicultores são agravadas porque o Estado é obrigado a importar milho de outros estados. Na região, quase toda a produção é destinada à silagem.

“A insuficiência da produção do grão no Rio Grande do Sul nos obriga a importar anualmente quase 2 milhões de toneladas de milho de outros estados, fator que eleva mais ainda nosso custo de produção, principalmente por causa do preço dos fretes”, diz ele.

O abate anual de frangos no RS está em torno de 815 milhões de aves, com um volume produzido de aproximadamente 1,6 milhão de toneladas de carne. A região do Vale do Taquari é responsável por quase 25% da produção do RS.

Na avaliação do diretor-executivo da Asgav, uma melhoria para os produtores depende do cenário político e econômico. “O que temos de alento e base de sustentação é que nossos setores produzem alimentos cada vez mais demandados pela população brasileira e também para população de dezenas de países, o que nos dá um certo oxigênio para suportar crises como a que estamos vivendo”, explica.

“O produtor é o elo fraco da cadeia produtiva”

Zootecnista e assistente técnico regional da Emater/RS-Ascar, João Alfredo de Oliveira Sampaio observa que, historicamente, o aumento no custo do produto é repassado aos suinocultores. “É uma situação histórica a partir do sistema industrial de produção.”

Ele também comenta que, com o sistema integrado de produção, os suinocultores ficam dependentes das empresas, para as quais entregam o produto e das quais recebem os insumos utilizados na produção, o que impede uma flexibilidade de negociação. “Poucos produtores plantam e usam seu próprio milho. O Brasil hoje tem poucos produtores independentes, e eram eles que equilibravam o mercado. O produtor perdeu a independência, é o elo fraco da cadeia produtiva.”

Para Sampaio, a diversificação de culturas nas pequenas propriedades é o que garante o equilíbrio no orçamento dos agricultores. “Eles conseguem trabalhar no vermelho com alguma cultura, por algum tempo, porque têm outras que ajudam a manter. Já a indústria não consegue fazer isso.”