O Brasil está muito próximo de acumular um déficit comercial com a Ásia, e a culpa não é da China. Nos primeiros dez meses de 2009, o superávit do Brasil com todos os países da Ásia foi de US$ 5,2 bilhões. No mesmo período deste ano esse resultado encolheu para apenas US$ 386 milhões – queda de 93%. O saldo comercial do Brasil com a China também diminuiu de janeiro a outubro deste ano, mas a queda foi bem menor (15%) e inferior à queda do saldo total do país, que ficou em 35%, passando de US$ 22,5 bilhões em 2009 para US$ 14,6 bilhões em igual período de 2010.
A piora do superávit com a Ásia está diretamente relacionada ao aumento das importações provenientes da Coreia do Sul, que somaram US$ 7 bilhões até outubro, puxadas pela compra de automóveis, que representaram um quarto desse valor. Até setembro, último dado disponível também para importações, o déficit do Brasil com a Coreia triplicou, passando de US$ 1,2 bilhões em 2009 para US$ 3,7 bilhões nesse ano. Com o aumento de suas exportações, a Coreia se consolida como o quinto maior mercado fornecedor do Brasil, atrás apenas dos Estados Unidos, China, Argentina e Alemanha. Em relação a 2008, o país ultrapassou Japão e Nigéria nessa relação.
Fora da Ásia, proporcionalmente, o saldo comercial do Brasil também piorou muito com a África, passando de um superávit de US$ 270 milhões nos primeiros nove meses de 2009 para um déficit de US$ 2,1 bilhões esse ano. A principal razão é o forte aumento das importações de petróleo (especialmente da Nigéria), que representaram 43% de tudo o que o país comprou no continente africano esse ano. O Brasil, contudo, tem tradição de déficit comercial com a África, justamente pelo petróleo – 2009, quando o resultado do ano foi um superávit de US$ 230 milhões, foi exceção, pois em 2008 o saldo foi negativo em mais de US$ 5 bilhões.
Por blocos, o Brasil continua piorando seu déficit com o Estados Unidos e com a União Europeia. Para os EUA, o Brasil exportou 20% mais até outubro, mas as importações cresceram 34%, provocando um déficit comercial de US$ 6,8 bilhões, 78% maior que o do ano passado. Para a União Europeia, o saldo ainda é positivo em US$ 2,9 bilhões, com aumento de 23% nas exportações e de 35% nas importações.
No conjunto do saldo brasileiro, quem ajuda mesmo é a América Latina. Com a região (Argentina incluída), o Brasil aumentou seu saldo comercial em 35%, resultado do aumento proporcional de exportações e importações. Como o Brasil vende mais do que importa da região, esse resultado ajudou o superávit brasileiro. Além da América Latina, o Brasil só aumentou seu saldo com o Oriente Médio, entre os principais blocos regionais.