O mercado doméstico de carnes já registra os impactos causados pelo embargo russo a produtos agropecuários de países como Estados Unidos e da União Europeia. O suíno teve o maior destaque, com alta de 20% nos preços do atacado, e deve embarcar até 100 mil toneladas para a Rússia só nos próximos quatro meses.
O presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra, conta que a notícia sobre o posicionamento do Brasil como um dos principais países que irá suprir a demanda russa – amplamente divulgada no início deste mês – foi o suficiente para um aumento progressivo nos preços, apesar das exportações ainda estarem no processo burocrático.
“Imaginamos que nos próximos 30 dias poderemos dar início aos embarques, de fato, que devem ir até o mês de dezembro”, afirma Turra. Inicialmente, o prazo para envio de carnes ia até meados de novembro.
Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) mostram que, além da valorização no suíno, os preços do frango resfriado subiram 16% no decorrer de agosto. Já a chamada “carcaça casada” do bovino (partes que efetivamente têm carne – traseira, dianteira e ponta de agulha) teve alta de 6% no período avaliado.
Com esses reajustes, os preços atuais da carcaça bovina no atacado tiveram ganhos de 26% em relação ao valor médio de agosto do ano passado. No caso do suíno, a carcaça está 23% mais valorizada e o frango inteiro resfriado, 5%.
“Vale destacar que os preços já vêm elevados desde início do ano, agora eles só despontaram de uma maneira geral”, lembra o analista de mercado do Cepea, Augusto Maia.
No bovino, a oferta vem mais restrita em função da estiagem entre os meses de janeiro e março deste ano. Porém, a Rússia já é a maior importadora do setor. Maia explica que nos suínos o movimento foi mais expressivo. A restrição na oferta de animais aparece tanto no mercado interno como externo.
“Entre os anos de 2012 e 2013 muitos pecuaristas deixaram de criar animais por conta da crise no setor. Eu mesmo tive que buscar auxílio no banco para manter a produção”, conta o produtor de suínos da região de Seara, em Santa Catarina, Francisco Canossa, que mantém cerca de 1.400 leitões em sua propriedade.
No cenário internacional, o rebanho de países como Estados Unidos, Canada e México diminuiu por problemas de sanidade, como a diarreia suína, abrindo espaço para o Brasil.
“Por enquanto não pretendo aumentar a produção, mas temos a expectativa de que a demanda suína deva aumentar”, estima o pecuarista. Turra enfatiza que a as exportações do suíno só não crescem ainda mais pela capacidade produtiva do País, principalmente após a crise.
Para o presidente da ABPA, o frango foi o maior beneficiado pela abertura da Rússia. “As aves já são as carnes mais exportadas do Brasil. Só nesse ano, foram cerca de US$ 8,5 bilhões em negócios. Para os russos, podemos embarcar mais 50 mil toneladas nos próximos quatro meses”, diz.
O analista do Cepea completa enfatizando que as aves levam vantagem sobre as demais proteínas por terem um ajuste de produção mais rápido.
“Se os bovinos e suínos demoram muitos meses para ajustar a oferta, o frango leva entre 40 e 50 dias. O potencial para consumo de aves é muito maior do que das outras carnes, tanto que os produtores estão até contidos para não baixarem demais os preços”, afirma Maia.