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Economia

Desaceleração suave na Ásia deve manter o preço de commodities

China e Índia vão desacelerar este ano, mas manterão crescimento robusto, o que manterá alto o preço das commodities, beneficiando o Brasil.

Desaceleração suave na Ásia deve manter o preço de commodities

China e Índia deverão crescer a taxas significativas em 2012, embora distantes da casa de dois dígitos, ajudando a segurar os preços de commodities em níveis elevados, ainda que provavelmente inferiores à média de 2011. Isso é uma boa notícia para o Brasil, que é um grande exportador de produtos primários.

A perspectiva mais favorável para os dois Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e, mais recentemente, pela África do Sul) mais dinâmicos tem como pano de fundo um quadro de crescimento modesto nos EUA e uma provável recessão na Europa, mas sem um evento traumático, como a saída de algum país do euro ou a quebra de algum grande banco europeu.

Essa foi a avaliação dominantes de economistas presentes ontem ao Encontro do Grupo de Pesquisa Econômica do Brics, realizado em Nova Déli, organizado pelo Instituto Nacional de Finanças e Políticas Públicas (NIPFP, na sigla em inglês) e pelo Ministério de Assuntos Exteriores da Índia.

Com a expectativa de um desempenho pouco robusto da economia americana e de contração da atividade na zona do euro, a demanda desses países por produtos chineses – e dos outros emergentes – vai diminuir. Isso não deve ser suficiente, contudo, para causar um pouso forçado da economia chinesa. O professor Wang Tongsan, da Academia Chinesa de Ciências Sociais, considera “quase impossível” a chance de uma desaceleração abrupta da China em 2012. “Um pouso forçado pode ocorrer no futuro, mas não nos próximos três anos.”

Para Tongsan, num cenário de demanda externa mais fraca pelas exportações chinesas, o investimento e, em menor medida, o consumo privado vão impulsionar a economia, tornando possível uma expansão do Produto Interno Bruto de 8,7% neste ano. É uma taxa inferior à de 9,2% de 2011, mas ainda assim um número robusto. Ele destacou, porém, que alguns analistas projetam um avanço do PIB menor, na casa de 8% a 8,5%. O Fundo Monetário Internacional (FMI), por exemplo, espera que a China cresça 8,25% este ano.

No caso da Índia, o rumo da atividade econômica é menos claro, não havendo consenso entre os analistas. No ano fiscal de 2011/2012 (que começa em abril e termina em março), o país deve registrar crescimento na casa de 7%, abaixo dos 8,8% do ano anterior. Houve uma desaceleração importante do investimento, como destaca o economista Shankar Acharya, do Conselho Indiano de Pesquisa sobre Relações Econômicas Internacionais, ex-conselheiro econômico-chefe do governo da Índia.

A piora da crise europeia na segunda metade de 2011 e o ciclo de alta dos juros promovido pelo BC indiano contribuíram para esse movimento, segundo analistas. Acharya acredita que o crescimento no ano fiscal de 2012/13 deve ficar próximo dos mesmos 7% deste ano, por não apostar numa recuperação tão forte do investimento.

Ulrich Bartsch, economista-sênior do Banco Mundial na Índia, considera possível uma expansão na casa de 7,5% ou um pouco mais, condicionada a uma retomada mais forte do investimento, que pode ocorrer num cenário global menos adverso do que há alguns meses. Também podem ajudar o bom desempenho da agricultura e o impacto de um eventual ciclo de queda dos juros, cujo início depende, para Bartsch, de mais notícias favoráveis no front inflacionário.

Diretor do NIPFP, M. Govinda Rao tem uma visão um pouco mais cautelosa, avaliando como mais provável uma expansão entre 6,5% e 7%. O alto déficit fiscal (cerca de 8% do PIB em 2011/12), o nível baixo de confiança dos empresários e os gargalos de infraestrutura complicam uma aceleração do crescimento, acredita ele. O quadro externo também pode atrapalhar um pouco.

Todas essas estimativas para a China e para a Índia têm como premissa um quadro em que não ocorra uma ruptura na Europa, ainda que a situação da zona do euro siga delicada, com o PIB podendo recuar de 0,5% a 1%, nas estimativas de Acharya. As ações tomadas recentemente pelas autoridades europeias parecem ter ao menos reduzido os riscos de um contágio da crise para países como Itália e Espanha, ainda que temporariamente. Nos EUA, a tendência é de perda de fôlego da atividade, pois deverá haver alguma reversão dos estímulos fiscais no curto prazo, mas é improvável uma recessão.

Nesse quadro, o volume de comércio dos Brics pode ter um crescimento moderado, enquanto os preços de commodities devem passar por alguma correção, ficando um pouco abaixo dos picos atingidos nos últimos dois anos, avalia Eustáquio Reis, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Rao tampouco vê um colapso dos preços de commodities. Na verdade, ele se preocupa com a possibilidade de o petróleo continuar pressionado, por causa das tensões geopolíticas relacionadas ao Irã.

Reis não fez previsão para o crescimento da economia brasileira em 2012, concentrando-se nas tendências de longo prazo. Ele destacou que a menor taxa de poupança do país em relação à chinesa e indiana aponta para um ritmo mais baixo de crescimento do Brasil nas próximas décadas – enquanto a China poupa o equivalente a 50% do PIB, o Brasil não poupa nem 20% do PIB. Além disso, o país já completou o processo de urbanização, fenômeno em curso na China e na Índia. A migração dos trabalhadores da agricultura para atividades urbanas gera aumentos expressivos de produtividade, elevando o ritmo de crescimento.