O mundo pode ter de ampliar em 175 milhões a 220 milhões de hectares a área disponível para a agricultura a fim de atender à demanda mundial por alimentos em 2030, uma expansão de 10% a 15% em relação às necessidades atuais.
A projeção faz parte do estudo “Resource Revolution: Meeting the world’s energy, materials, food and water needs” (Revolução dos Recursos Naturais: Atendendo à demanda mundial por energia, alimentos e água), publicado pela consultoria americana McKinsey.
Além do maior consumo de alimentos, a projeção leva em conta fatores como perdas de produtividade decorrentes da degradação do solo, falta d’água, mudanças climáticas, avanço das cidades e maior uso de biocombustíveis.
Considera, ainda, a projeção da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) segundo a qual a produtividade média agrícola deverá crescer a uma taxa anual de apenas 1% nos próximos anos – ritmo inferior à média das últimas décadas.
Atualmente, a área ocupada com a agricultura é estimada em 1,53 trilhão de hectares ao redor do globo. Considerando-se um cenário-base – sem investimentos relevantes em ganhos de eficiência nas fazendas, novas técnicas de irrigação, recuperação de solo e medidas contra o desperdício de alimentos -, seria necessária ampliá-la em 10% a 15%, para 1,71 trilhão a 1,75 trilhão de hectares.
Só o aumento da demanda por alimentos, em países como China e Índia, pode exigir uma expansão de 90 milhões de hectares. As perdas de produtividade provocadas pela degradação do solo, esgotamento dos recursos hídricos e outros efeitos das mudanças climáticas poderiam demandar mais 30 milhões a 75 milhões de hectares até 2030 como compensação. “A degradação acentuada do solo afeta 20% de toda a área arável no mundo”, aponta o estudo.
Cerca de 30 milhões de hectares agricultáveis seriam perdidos para a urbanização, exigindo a abertura de novas áreas e aumentando a pressão sobre as florestas. Por fim, o aumento da demanda por terras para a produção de energia exigiria outros 15 milhões de hectares. “Estimamos que a demanda por biocombustíveis de primeira geração vai dobrar nos próximos 20 anos, impulsionada por Brasil e EUA”.
O estudo conclui que 40% a 50% de toda a área remanescente disponível para a agricultura precisaria ser utilizada, especialmente em regiões pobres em infraestrutura, como América Latina e África, “o que deve aumentar de modo significativo os custos de oferta”. “Também é provável que, em um cenário de preços elevados (…), a maneira mais fácil de atender à demanda seria pela via do desmatamento.”
Por outro lado, seria possível até reduzir a área plantada nos próximos 20 anos se governos e empresas fossem capazes de “capturar” todas as oportunidades de investimento em ganhos de produtividade. Ao todo, calcula o estudo, entre 215 milhões e 325 milhões de hectares hoje utilizados poderiam ser “poupados” em duas décadas.
A McKinsey afirma que os governos precisam integrar as políticas relacionadas à gestão dos recursos naturais (água, florestas, terras), ao desenvolvimento rural e à segurança alimentar, sem o que o desafio de aumentar a eficiência pode fracassar. A consultoria diz ainda que os investimentos necessários seriam estimulados por cortes nos subsídios a setores ineficientes, desonerações e mecanismos que precifiquem as emissões de carbono.