O fraco desempenho da economia nos últimos meses de 2013, principalmente em dezembro, se somou ao ciclo de alta de juros e à confiança dos empresários em baixa e desenhou um cenário considerado desafiador para a atividade econômica em 2014. A expectativa é que janeiro tenha sido um mês positivo para a indústria de transformação, mas com alta insuficiente para recuperar o tombo de 3,5% da produção industrial em dezembro.
Como o otimismo dos empresários e consumidores também caiu no primeiro mês do ano, as expectativas são pouco favoráveis para os próximos meses e economistas afirmam que os riscos superam os fatores positivos, o que levou diversos bancos a revisar estimativas para o Produto Interno Bruto (PIB) para este ano para algo em torno de 1,5%.
Com a queda de 1,35% do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) em dezembro, o carregamento estatístico (variação esperada para o indicador, caso o nível de atividade econômica permanecesse estável durante todo o ano) ficou negativo em 1,2%. No ano passado, apenas esse fator garantiu crescimento de 1% ao PIB, mas neste ano essa ajuda deverá ser cortada pela metade. A Tendências Consultoria estima herança estatística de 0,4% em 2014, o que significa dizer que a economia terá que avançar mais por trimestre para chegar na mesma média anual.
José Márcio Camargo, economista da Opus Investimentos, estima que o PIB no último trimestre do ano passado tenha ficado próximo a zero e não descarta que no segundo semestre o Brasil tenha passado por uma recessão técnica (dois trimestres consecutivos de retração da atividade).
No primeiro trimestre deste ano, afirma, a economia deve voltar a crescer. O economista projeta alta de 0,3% do PIB entre janeiro e março deste ano e 0,5% nos trimestres subsequentes, sempre contra o período imediatamente anterior, feitos os ajustes sazonais. No entanto, por causa do carregamento estatístico fraco, ainda assim a economia brasileira deve desacelerar e encerrar 2014 com expansão de 1,4%.
Para Camargo, a queda da confiança dos empresários é relevante para explicar a deterioração da atividade no fim do ano passado e as expectativas modestas para este ano. Em janeiro, a confiança da indústria caiu 0,4%, para 99,5 pontos, o que indica empresários pessimistas, enquanto o otimismo do consumidor está no nível mais baixo desde junho de 2009. Os dados são da Fundação Getulio Vargas. “As expectativas no geral estão ruins, o que significa que certamente os investimentos não estão acontecendo.”
Flávio Serrano, economista-sênio do BES Investimentos, estima que a economia deve ter se recuperado no primeiro trimestre, depois de um semestre fraco. Com base em indicadores como produção de veículos, expedição de papel ondulado e fluxo de veículos pesados, o economista projeta alta de 2,5% da produção industrial em janeiro e alguma recuperação do comércio. Para o economista, o desempenho na abertura do ano pode ser mais positivo, com alta de 0,7%, o que levaria a um crescimento entre 1,5% e 2,0% neste ano.
Para o Itaú, que revisou a estimativa de crescimento para 2014 de 1,9% para 1,4%, os fortes sinais de recuperação da indústria em janeiro não alteram a tendência de arrefecimento para o setor. Além do acúmulo de estoques em alguns setores, a piora do cenário na Argentina atinge sobretudo a indústria, que depende da exportação de bens manufaturados para o país, o que vai contribuir para a que o segmento tenha um desempenho fraco no primeiro trimestre deste ano.
O Citi projeta que a indústria vai recuar 1,1% no primeiro trimestre, enquanto as vendas no varejo vão se recuperar e subir 1,3%. Para o superintendente do departamento econômico do Citi Brasil, Marcelo Kfoury, o fraco desempenho da atividade no fim de 2013 dificultou um avanço da indústria no primeiro trimestre deste ano.
Os efeitos defasados do ciclo de aperto monetário em curso adicionam uma restrição a mais ao potencial de desempenho para este ano e o Kfoury estima alta de 0,3% do PIB entre janeiro e março. O Citi reduziu de 1,8% para 1,3% a estimativa de expansão para este ano e avalia que os riscos ainda são negativos, já que para alcançar esse resultado o PIB terá que crescer a uma média de 0,5% por trimestre.
Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Fibra, afirma que um avanço de 1,5% do PIB neste ano é “teto”. Em sua avaliação, a economia patinou no fim do ano passado e deve voltar a mostrar crescimento moderado no primeiro trimestre deste ano, com alta de 0,4% do PIB entre janeiro e março. No entanto, os reflexos do aperto monetário iniciado em abril do ano passado devem se intensificar nos próximos meses e com a inflação persistentemente alta, as decisões de consumo e de investimentos são desestimuladas, afirma.
Os investimentos também não devem ser favorecidos pela necessidade de o governo de sinalizar maior comprometimento com austeridade fiscal, avalia Alessandra Ribeiro, economista da Tendências Consultoria. Em sua avaliação, os desembolsos do Banco Nacional de Desenvolvimento Social e Econômico (BNDES) devem desacelerar ao longo deste ano, após terem alcançado R$ 190 bilhões no ano passado.
A economista deve revisar sua estimativa de crescimento de 0,6% no PIB do primeiro trimestre de 2014. Segundo ela, há indícios de que a atividade econômica nas primeiras semanas deste ano ficou aquém do esperado e ainda há o risco de racionamento. “Se o clima não melhorar, poderemos ter perdas maiores”, afirma.