Quando os analistas de tendências do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial apresentaram em janeiro suas expectativas para a economia mundial neste ano, elas poderiam ter sido facilmente resumidas: de volta ao normal.
Pela primeira vez desde o pior momento da crise financeira de 2008, eles previram que os Estados Unidos, a Europa e o resto do mundo rico estariam puxando o crescimento mundial.
A boa e velha globalização estaria no coração da recuperação. Os consumidores no mundo rico exibiriam crescente apetite por produtos feitos na China e em outras economias em desenvolvimento, ampliando as exportações desses países e impulsionando o crescimento extremamente necessário.
Os animadores números referentes ao comércio chinês divulgados na semana passada teriam reforçado a previsão, se janeiro não tivesse sido um mês de turbulência para os mercados emergentes.
Em vez disso, a maioria dos analistas recebeu com desconfiança os dados anunciados na quarta-feira, segundo os quais tanto as exportações como as importações chinesas haviam crescido à saudável taxa de dois dígitos em janeiro, atribuindo as distorções ao ano novo lunar, cuja data muda anualmente.
Mas havia outra razão para a suspeita. O medo cada vez mais manifestado em quase toda parte fora da China de que, depois de dois anos indiferentes, 2014 poderá muito bem ser mais um ano de fraco comércio mundial.
A Organização Mundial do Comércio (OMC) espera que o volume de comércio mundial e doméstico cresça 4,5% neste ano, mas já há sinais de que essas expectativas também poderão ser revistas para baixo quando o próximo conjunto de números for divulgado, no início de abril. “Isso ainda soa muito otimista”, disse Andrew Kenningham, economista sênior mundial na Capital Economics, que prevê um crescimento relativamente anêmico de 3% para o comércio mundial neste ano.
Além disso, esse cenário vem na esteira de um 2013 decepcionante. A OMC ainda não completou a compilação de seus números para 2013, mas Roberto Azevêdo, o brasileiro que assumiu sua direção em setembro, disse em entrevista ao “Financial Times” no mês passado esperar que o crescimento do comércio mundial fique ligeiramente abaixo da previsão oficial de 2,5% formulada pela OMC.
Até mesmo a China, que no ano passado ultrapassou os EUA, passando a ser o país com maior fluxo comercial no mundo, pode estar ficando nervosa. A Bloomberg noticiou na quinta-feira que Pequim rebaixou sua meta para o crescimento das exportações neste ano para 7,5%, em vez do crescimento de 7,9% visto no ano passado.
Embora a China e os mercados emergentes tenham ficado bastante em foco, neste ano, “o determinante real no fim das contas [para 2014 ] é em que medida será bom o desempenho das economias desenvolvidas”, disse Coleman Nee, economista da OMC. E os sinais provenientes dos mais recentes anúncios de dados sobre o comércio têm sido, até agora, muito conflitantes.
As exportações tenderam a apresentar um quadro relativamente róseo. Os EUA exportaram US$ 2,272 trilhões em bens e serviços em 2013 – um recorde e um aumento de 2,7% sobre 2012, um resultado em parte impulsionado pelo boom de gás de xisto. No Japão, onde o iene desvalorizou-se substancialmente em resposta aos esforços do governo de Shinzo Abe, as exportações cresceram 9% no ano passado. No Reino Unido, elas subiram 1,3% e, embora as exportações alemãs em verdade tenham caído 0,2% em 2013, elas registraram alta em cada um dos últimos três meses do ano passado.
Entretanto, no que diz respeito a importações, o quadro foi menos positivo. As importações da Alemanha caíram 1,2% em 2013 e 0,6% em dezembro em relação ao mês anterior. Os EUA importaram US$ 1,4 bilhão a menos em bens e serviços no ano passado, em comparação com 2012. E embora as importações japonesas tenham exibido substancial alta nos últimos anos, isso teve mais a ver com as demandas de energia pós-Fukushima do que com o crescente apetite de seus consumidores, pois a posição japonesa como potência exportadora foi prejudicada por três déficits comerciais anuais consecutivos.
Ainda há algumas razões para otimismo. Nee disse que as melhorias nas exportações alemãs no período final do ano passado e sinais de otimismo detectados por recentes pesquisas com gerentes de compras são, em parte, o que está motivando a continuada expectativa da OMC de que este ano deverá assinalar uma melhoria em relação a 2013. “A maior fatia do comércio mundial, de nosso ponto de vista contábil, é a União Europeia, [e] a UE parece ter, ao menos, saído do fundo do poço”, disse.
Embora muitos economistas desconfiem dos números sobre o comércio da China, alguns viram, efetivamente, sinais animadores. Ao analisar os dados da China na semana passada, economistas do UBS disseram ter visto também razões para esperanças quanto a Coreia do Sul e Taiwan. Nessas duas economias dependentes de exportações, as vendas para o exterior recuaram, ano sobre ano, em janeiro. Esses dois países também registraram um crescimento exportador mais forte do que a China em dezembro.
“Com efeito, se agregarmos os dados do comércio de dezembro e janeiro, o desempenho comercial da China revela-se bem mais alinhado com os da Coreia e de Taiwan”, escreveram os analistas do UBS. Em parte por essa razão, eles acrescentaram esperar que as exportações da China cresçam 10% neste ano. Um resultado assim seria coerente com os números que na quarta-feira surpreenderam o mercado e muito bem-vindo para o comércio global.