Da Redação 14/12/2004 – A disparada das cotações das carnes, diretamente influenciada pelo aquecimento da demanda para as festas de fim de ano, levou o índice de preços recebidos (IPR) pelos produtores agropecuários paulistas a registrar variação positiva de 5,34% na primeira quadrissemana de dezembro, a maior alta desde a segunda quadrissemana de fevereiro de 2003 (6,15%). O indicador, pesquisado pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA), vinculado à Secretaria de Agricultura de São Paulo, é um dos mais importantes termômetros do comportamento das cotações no campo na região Centro-Sul do país.
De acordo com o IEA, os produtos de origem animal alcançaram valorização média de 8,49% no início do mês, puxada por aves (28%), ovos (15,5%), suínos (12,66%) e boi gordo (2,13%). No grupo, só o leite registrou queda (1,82%). “Pesou para os ganhos a sazonalidade, principalmente no caso de aves e ovos, que tiveram boa demanda para o Natal. No caso dos suínos, houve influência das festas, mas a reabertura do mercado russo para as carnes catarinenses também foi importante”, afirmou Nelson Batista Martin, diretor do IEA.
Ele lembra que, historicamente, pode ser considerado normal um aquecimento da demanda doméstica por carnes nesta época, mas que em 2003 isso não ocorreu porque o mercado doméstico estava pressionado pela queda do poder aquisitivo da população, que começou a ser revertida no primeiro trimestre deste ano. Na primeira quadrissemana de dezembro de 2003, análise do IEA mostrou os produtos de origem animal em queda de 0,49%.
Martin acredita, contudo, que as carnes não manterão o ritmo de aumento até o fim do mês, com reflexos na formação do IPR, que deve encerrar dezembro, em sua avaliação, com variação positiva da ordem de 2,5%, ante 1,10% do mesmo mês de 2003. No levantamento do IEA, os produtos de origem vegetal iniciaram dezembro com alta de 3,59%, puxada por café (18,72%) e laranja (10,38%), dois produtos atualmente com patamar mais elevado de preços no mercado internacional.
No atacado paulista, os preços das carnes também vêm em alta nos últimos meses, apesar de na semana entre 2 e 9 de dezembro o boi ter caído 1,2% e o frango ter ficado estável. O suíno, por sua vez, subiu 3,3% e foi negociado, em média, por R$ 62 a arroba (15 quilos), ante R$ 62,70 a arroba do boi, conforme levantamento da MSConsult. “Os demais preços, exceto a laranja, não estão com elevações substanciais de preços, mas na média as cotações agrícolas pressionarão os índices inflacionários este mês, apesar de o câmbio estar evitando altas maiores”, afirmou Fabio Silveira, da MSConsult. O índice pesquisado pela consultoria, composto por 14 produtos, ficou estável entre os dias 2 e 9 de dezembro.
“Trata-se de fato do melhor Natal dos últimos anos”, observou Fernando Homem de Melo, professor titular da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA/USP). Conforme ele, o sazonal aumento da demanda reflete o crescimento da economia do país, com aumento de empregos e renda. Ainda assim, Melo acredita que as cotações agrícolas não serão motivo para preocupação do ponto de vista inflacionário no início do ano, quando a demanda normalmente se retrai em virtude das férias.
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