Não é tão comum as oito principais commodities agrícolas negociadas pelo Brasil no exterior apresentarem mais ou menos o mesmo comportamento de preços ao longo de um mês no mercado internacional. Quando isso acontece, dificilmente a explicação deixa de ter alguma relação com as variações do dólar. Pois em outubro a erosão da moeda americana se aprofundou e ofereceu sustentação às cotações de açúcar, café, cacau, suco de laranja, algodão, soja, milho e trigo nas bolsas de Nova York e Chicago.
Segundo levantamento do Valor Data baseado nas médias mensais nos contratos futuros de segunda posição de entrega (normalmente a de maior liquidez), a única das oito que não subiu em relação à média de setembro foi o açúcar, que já estava em seu maior patamar em quase três décadas. Todas as demais registraram valorizações, que variaram de 3,82% (soja) a 15,68% (suco de laranja). Houve fundamentos “altistas” ligados aos quadros de oferta e demanda em boa parte dos casos, mas não foram esses fundamentos que determinaram os resultados.
Com a relativa estabilidade do açúcar e as altas observadas, todas as commodities pesquisadas, exceto o trigo, passaram a apresentar variações positivas em relação às médias de dezembro. Na comparação com as médias de outubro de 2008, quando houve quedas significativas por causa do aprofundamento da crise financeira irradiada a partir dos Estados Unidos, a maioria dos produtos já está em um patamar superior de cotações, menos o milho e o trigo.
“Digam adeus aos fundamentos”, afirmavam na semana passada especialistas radicados nos Estados Unidos. Com o enfraquecimento do dólar – em relação ao euro, o valor médio da moeda foi 1,61% menor em outubro do que em setembro -, informou Vinícius Ito, analista da Newedge em Nova York, fundos de investimentos voltaram a “montar” posições em produtos agrícolas como soja e milho ou mesmo em commodities metálicas ou ligadas à energia, como o petróleo.
O script não é novo. A queda do dólar e a busca de opções com risco menor voltaram a ganhar força a partir do recrudescimento da crise financeira irradiada dos EUA, em setembro de 2008, e os movimentos dos grandes fundos de investimentos especulativos passaram, em alguns períodos, a guiar os preços das commodities independentemente dos fundamentos ou com alguma ligação com eles, ainda que tênue.
Se os fundamentos sugerem uma direção e as necessidades dos investidores também, melhor ainda. Em Chicago, a conjunção aconteceu em outubro para soja e milho. Vinculadas à alimentação, ambas são as commodities agrícolas de maior liquidez, fator importante para os fundos, e a colheita das duas sofreu com o excesso de chuvas nos Estados Unidos no mês passado, problema já amenizado mas que serviu para justificar apostas financeiras.
Resultado: a cotação média da soja subiu 3,82% em relação à média de setembro e a do milho, 15,53%. O trigo, apesar de apresentar estoques relativamente confortáveis nos EUA, registrou salto de 8,63%. O atraso na colheita não deverá significar danos significativos sobre a produtividade das lavouras americanas, assim a tendência é que esse fator atue na contramão em novembro em Chicago. “A colheita de soja passou agora de 40% da área prevista nos EUA, quando deveria estar no fim, mas ganhou ritmo e poderá superar 60% esta semana”, disse Renato Sayeg, da Tetras Corretora, de São Paulo.
Em Nova York, fundamentos ajudaram a sustentar o café (chuvas no Brasil), o cacau (problemas na Costa do Marfim), o suco de laranja e o algodão (adversidades climáticas nos EUA). Mas ali essas “soft commodities” têm menor liquidez e a influência financeira também foi grande.