O dólar apresentou uma queda expressiva nesta terça-feira, 9 de julho, fechando no menor valor em mais de dez dias e aproximando-se do piso de R$ 5,40. A sessão foi marcada por uma valorização das divisas emergentes latino-americanas, mesmo com o avanço moderado das taxas dos Treasuries de 10 e 30 anos. Durante uma audiência no Senado americano, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, evitou se comprometer com uma queda de juros nos próximos meses, mas os mais recentes indicadores americanos aumentaram as expectativas para uma redução da taxa básica em setembro. Powell mencionou que não é necessário esperar a inflação chegar à meta de 2%, mas as decisões do Fed dependerão de leituras positivas dos indicadores.
O real teve o segundo melhor desempenho entre as principais moedas emergentes e de países exportadores de commodities, ficando atrás apenas do peso chileno. Além do ambiente externo favorável, a moeda brasileira se beneficiou da diminuição da percepção de risco doméstico, com sinais do governo de cortar gastos para cumprir as metas fiscais e a ausência de novas críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
O dólar começou o dia em baixa, oscilando conforme o comportamento das taxas dos Treasuries. A cotação mínima, à tarde, foi de R$ 5,4135, quando o retorno da T-note de 10 anos se afastou das máximas. No fim do dia, o dólar à vista recuou 1,13%, fechando a R$ 5,4149, o menor valor desde 24 de junho (R$ 5,3904). A liquidez foi reduzida devido ao feriado da Revolução Constitucionalista em São Paulo, o que deixou a formação da taxa de câmbio mais suscetível a operações pontuais. Houve relatos de entrada de recursos de exportadores e desmonte parcial de posições cambiais defensivas no segmento futuro. O contrato de dólar futuro para agosto teve um giro fraco, abaixo de US$ 10 bilhões.
Marcos Weigt, head da Tesouraria do Travelex Bank, afirmou que o real está em um processo de recuperação iniciado em meados da semana passada, após uma desvalorização mais acentuada que outras moedas emergentes nas últimas semanas devido a tensões locais. “Agora, com a redução do risco, o dólar está voltando. Ainda tem espaço para devolver alguma coisa, para níveis perto de R$ 5,30”, afirmou Weigt. “As moedas desenvolvidas estão meio no zero a zero hoje em relação ao dólar, mas o peso mexicano e o chileno se valorizam, o que ajuda a gente”.
Pela manhã, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), apresentou um projeto de lei sobre novas regras das dívidas dos Estados, mas sinalizou que a apreciação do texto no Plenário deve ficar para agosto, após o recesso parlamentar, necessitando ainda de debates com senadores e governadores. À tarde, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o objetivo é que o PL da dívida dos Estados não impacte o resultado primário do governo federal. “Temos de assegurar isso de qualquer jeito ou isso vai gerar uma série de problemas nas contas nacionais”, disse Haddad, ponderando, contudo, que ainda vai analisar as diferenças entre o texto proposto pela Fazenda e o do Senado.
Caso não haja novos ruídos políticos ou retrocessos na agenda fiscal, a taxa de câmbio pode voltar a refletir mais de perto o comportamento do dólar em relação a divisas pares, observou Weigt. “Se os números lá fora forem em linha ou melhores, com atividade um pouco mais fraca e inflação comportada, o real deve se valorizar mais um pouco”, acrescentou. Amanhã, o mercado digerirá um novo discurso de Powell no Congresso americano. Na quinta-feira, 11 de julho, será divulgado o índice de preços ao consumidor (CPI) referente a junho, que pode reforçar a continuidade do processo de desinflação.
Em relatório, o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, reiterou a projeção de taxa de câmbio em R$ 5,30 no fim do ano, que já sustentava antes da recente degringolada do real. “O câmbio projetado para o fim de 2024 sempre esteve mais alto do que o previsto pelo mercado, devido à nossa perspectiva fiscal menos otimista do que a prometida pelo executivo”, afirmou Sanchez, que atribui o retorno do dólar ao nível de R$ 5,41 ao “apaziguamento das tensões” locais.