A rápida recuperação da economia brasileira depois da crise deflagrada pela quebra do americano Lehman Brothers em 2008 não foi sorte nem casualidade, mas agora o País se vê à frente de alguns desafios a vencer, segundo o diretor-assistente do departamento do Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional (FMI), David Vergara. Forte atração de capitais, inflação e o impulso da demanda doméstica regido pelo crédito são alguns riscos mencionados pelo especialista, ex-secretário de Estado de Economia da Espanha, na apresentação “La década recuperada”, em Santander, cidade ao norte da Espanha.
Pelo comportamento diferenciado do Brasil, com perspectivas de exibir taxas de crescimento muito acima da média dos países desenvolvidos, combinadas à liquidez internacional, o país oferece uma porta de entrada franca aos investimentos estrangeiros e a tal fluxo caberia uma intervenção institucional. “Os controles de capital podem ter um papel, mas não são a única resposta. Isso deveria vir combinado de políticas monetárias, fiscais e prudenciais”, disse. Sem detalhar que modelo de controle seria mais eficiente ao mercado brasileiro, ele afirmou que uma evolução mais eficiente da taxa de câmbio auxiliaria nesse processo.
O crescimento do crédito, a taxas anualizadas de 17% até maio, à casa do R$ 1,5 trilhão, é outro fenômeno que mereceria atenção das autoridades monetárias. Vergara reconheceu, porém, que num momento de recuperação de renda e do emprego, a restrição pela via exclusiva dos juros pode ser insuficiente para conter a expansão do consumo privado. “A política monetária é apenas um dos passos de articulação, mas os fundamentos de metas de inflação devem ser perseguidos.”
Num momento de maior debilidade externa, o balanço de pagamentos também deve ser monitorado, pelo potencial de afetar as exportações brasileiras e, consequentemente, produzir mais déficits em conta corrente. O ex-presidente do Banco Central do Chile Vittorio Corbo espera, porém, pela recuperação dos preços das matérias-primas, associada à demanda chinesa. “A China ainda tem uma renda per capta muito baixa e está construindo 52 sistemas de Metrô. Não é possível que o país avance sem comprar mais ferro e outras commodities”.