Os preços dos alimentos ainda devem ter mostrado variações bem comportadas em setembro e vão contribuir para que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) tenha aceleração modesta na passagem mensal, apesar das pressões características do período e do fim do alívio dado pelo cancelamento dos reajustes das passagens de ônibus em meados do ano, avaliam economistas. Após a alta de 0,24% em agosto, a média das estimativas de 19 consultorias e instituições financeiras ouvidas pelo Valor Data apontam para avanço de 0,34% do índice em setembro. As estimativas para o indicador, que será divulgado hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), variam entre alta de 0,31% e 0,36% no período.
No acumulado em 12 meses, a tendência ainda é de desaceleração, principalmente porque saem da conta as variações mais intensas observadas no terceiro trimestre do ano passado. Com os efeitos da escalada de grãos por causa da seca nos Estados Unidos mais distantes, a inflação no acumulado em 12 meses, que atingiu o pico de 6,7% em junho, caiu para 6,09% em agosto e agora deve ceder para 5,85%, a menor variação nesta base de comparação desde dezembro do ano passado, quando o IPCA acumulava alta de 5,84%.
Para Flavio Serrano, economista do BES Investimento, os alimentos e bebidas, que ficaram praticamente estáveis em agosto, com alta de apenas 0,01%, devem ter alta apenas ligeiramente maior neste mês. “O grupo como um todo ainda vai mostrar inflação próxima a zero e a alimentação no domicílio deve seguir em deflação”, comenta. Para Serrano, esses itens estão devolvendo parte dos “excessos” observados nos primeiros meses do ano.
Fabio Romão, economista da LCA Consultores, projeta alta de 0,08% do grupo em setembro e afirma que os alimentos ainda vão subir pouco por causa da continuidade da deflação dos produtos in natura, como batata, tomate e legumes. Outros grupos serão mais importantes para explicar a aceleração esperada para o IPCA no período, afirma Romão, que estima alta de 0,33% do índice.
Os artigos de vestuário, por exemplo, devem acompanhar a sazonalidade, com a mudança de coleção nas lojas, e deixar avanço de 0,08% em agosto para subir 0,74% nesta leitura. No caso dos transportes, além do fim dos efeitos da revogação dos reajustes da tarifa de ônibus, Romão ressalta o comportamento dos preços das passagens aéreas, que subiram 16,08% no IPCA-15 de setembro, resultado que se repete na leitura para o mês fechado. Em conjunto, esses fatores devem levar o grupo a subir 0,34% em setembro, após retração de 0,06% no mês anterior.
Para o economista, apesar da surpresa positiva com a inflação no terceiro trimestre, a partir de outubro o IPCA deve voltar a ganhar força, já que este é um período em que os preços ficam mais pressionados.
Eduardo Velho, economista-chefe da economista-chefe da INVX Global Partners, ressalta ainda que neste mês os índices de preços no varejo devem começar a absorver o impacto da desvalorização do câmbio. “A inflação no atacado, de acordo com os IGPs, avançou mais do que 1% no mês passado, o que deve ter reflexos sobre o varejo em outubro”, afirma.
Nos documentos oficiais, o Banco Central sinalizou esperar que a inflação no último trimestre seja menor do que em igual período do ano passado. Uma alta superior a 0,59% do IPCA em outubro, portanto, poderia alimentar expectativas de que a Selic encerre este ano em dois dígitos, afirma Velho. Por enquanto, de acordo com o Boletim Focus, a expectativa é de alta de 0,5 ponto percentual hoje e de 0,25 ponto em novembro, o que levaria a Selic a encerrar o ano em 9,75%.
Para o último trimestre do ano, Romão projeta IPCA acumulado de 2,11%, ante 1,99% no ano passado. Embora a variação seja apenas um pouco mais elevada do que a observada no ano passado, será suficiente para levar o IPCA a encerrar o ano em 5,96%, acima da meta informal do BC para este ano. O cenário da LCA conta com reajuste de 8,5% da gasolina nas bombas ainda este ano. “Se não tivermos aumento do combustível, o IPCA poderia encerrar o ano em 5,7%, mas acho difícil que com aumento da gasolina a inflação neste ano não ultrapasse a de 2012”, afirma.
Serrano, do BES Investimento, não descarta que a inflação neste ano fique abaixo do índice observado em 2012, de 5,84%, caso não haja reajuste de combustíveis pela Petrobras. Ainda assim, comenta o economista, não há muito espaço para otimismo. A média das medidas de núcleo, que procuram suavizar ou expurgar as variações dos itens mais voláteis, deve subir 0,49% em setembro, sustentando patamar de 6% no acumulado em 12 meses. Já para 2014, Serrano estima alta de 6% do IPCA. Apesar do ciclo de aperto monetário em curso, a política fiscal atua em direção contrária, porque mantém a demanda aquecida, comenta, o que mitiga em parte o efeito da Selic mais alta sobre os preços.