Em uma tentativa de aliviar os temores inflacionários domésticos, o Ministério da Agricultura informou ontem que calcula que a colheita de grãos nos Estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Goiás, São Paulo e Rio Grande do Sul deverá alcançar 119 milhões de toneladas até o fim de abril e que, com isso, fatalmente haverá uma desaceleração dos preços dos alimentos.
Nesses Estados, lembra o ministério, a colheita começou em janeiro. O grosso do volume previsto até o término do primeiro quadrimestre é formado por soja, milho, arroz e feijão, todos com reflexos diretos sobre os preços de alimentos vendidos no varejo, inclusive por causa dos efeitos nas rações animais.
No total, incluindo as safras de verão e de inverno, a colheita brasileira de grãos deverá somar 149,4 milhões de toneladas nesta safra 2010/11, praticamente o mesmo volume de 2009/10 (149, 087 milhões), conforme números divulgados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em janeiro. Na manhã de hoje a Conab divulga um novo levantamento.
Ainda que arroz e feijão tenham seus preços formados basicamente em função do quadro interno de oferta e demanda, os preços de grãos como soja e milho, que são exportados em volumes consideráveis pelo Brasil, também dependem do comportamento das cotações no mercado internacional. E estas seguem elevadas e deverão permanecer assim nos próximos meses, pelo menos até que emerjam sinais mais concretos dos tamanhos das safras no Hemisfério Norte, onde o plantio da safra 2011/12 ganhará força ainda neste primeiro trimestre. Hoje a expectativa é que essas safras serão maiores e menos prejudicadas pelo clima do que a anterior.
Conhecedor dos tradicionais ciclos de altas e baixas das commodities, o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues afirmou à agência Reuters que os agricultores do país não devem se iludir com a forte valorização das commodities. Apesar de mais longo que o normal, lembrou, o atual ciclo de altas também terá fim. Daí porque o Brasil já deveria se preparar estrategicamente, com políticas de Estado, para épocas de preços eventualmente não tão bons.
Rodrigues observou que a extraordinária demanda global puxada pelo países emergentes inexoravelmente motivará uma elevação da oferta, arrefecendo os mercados. Entretanto, ponderou, mesmo quando o abastecimento estiver regular a curva de queda de preços será mais suave, justamente pela demanda forte.