O Brasil é o quarto país que mais vai contribuir para o crescimento do consumo global entre 2010 e 2020, de acordo com o estudo “Riqueza e Gastos dos Consumidores”, elaborado pela consultoria americana A.T. Kearney a partir de dados da Euromonitor. A estimativa é que em 2020 a população mundial desembolse US$ 40 trilhões em produtos e serviços. O valor representa um acréscimo de gastos de US$ 12 trilhões em uma década, o dobro do verificado entre 2000 e 2010.
Segundo a pesquisa, o Brasil deve responder por 5% dessa injeção de consumo. Isso significa que o brasileiro vai gastar US$ 1,7 bilhão em 2020, tirando do bolso US$ 591,4 milhões ou 55% a mais do que dez anos antes. Nesse período, a categoria de gastos que mais vai crescer é a de comunicações (internet, telefonia, etc), com alta de 70%, seguida por educação, serviços médicos e transportes. Por outro lado, o consumidor não vai aumentar tanto os desembolsos com vestuário e calçados, cujo crescimento está estimado em apenas 25% (ver arte).
Não é por acaso que tais tipos de despesas são os que mais devem crescer no Brasil. O estudo identificou quatro grupos de consumidores no mundo (básico, emergente, em ascensão e estabelecido), e o Brasil foi classificado como um país de consumidores emergentes. Nesse grupo, os alimentos e outros produtos básicos ainda impulsionam boa parte dos gastos, mas, conforme a renda aumenta, o mesmo ocorre com as despesas com produtos de cuidados pessoais, serviços de comunicação e educação.
“Os gastos com educação vão crescer muito mais que alguns produtos no Brasil nos próximos anos. O desenvolvimento das classes D e E passa pela educação, e a população brasileira sabe disso”, diz Pietro Gandolfi, diretor de prática de bens de consumo e varejo da A.T. Kearney no Brasil.
Como comparação, nos Estados Unidos – classificado como país de consumidores estabelecidos e de luxo, orientados para serviços – os gastos com comunicações também devem liderar o crescimento, avançando 59%, mas as despesas com educação devem aumentar apenas 35% no período (contra 62% no Brasil).
O incremento de US$ 12 trilhões no consumo global até 2020 será impulsionado pelos gastos dos americanos, que responderão por 25% desse valor, seguidos pelos chineses (19%) e indianos (8%).
“Apesar do momento de crise que o mundo está passando, principalmente na Europa, a perspectiva de crescimento de consumo ainda é muito positiva”, afirma Carlos Higo, gerente sênior de prática de bens de consumo e varejo da A.T. Kearney no Brasil. “O papel dos presidentes das companhias será desenvolver estratégias para capturar essa oportunidade de crescimento em outros países fora da Europa”, conclui Gandolfi.
Em relação ao padrão de gastos, os brasileiros se classificam como “gastadores equilibrados”, “aqueles que gastam cerca da mesma quantia com itens básicos (alimentos e roupas) e com itens não essenciais”. Também pertencem a esse grupo China, Equador, Israel, África do Sul, Coreia do Sul e Taiwan, entre outros países. A Índia deve entrar no grupo em 2017. Os indianos eram considerados consumidores básicos em 2010, e se enquadravam no perfil de “baixa renda e diligente”, no qual os maiores gastos são com comida.
O estudo da A.T. Kearney foi feito a partir de uma análise estatística e econômica de 70 categorias de consumo em 86 países, para um período de 30 anos (1990 – 2020) e observando mais de 3 mil variáveis socioeconômicas. Todos os dados para o levantamento foram obtidos pela consultoria Euromonitor.