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Economia

Em alta, empresas do campo destoam na bolsa

Ações de 11 das 15 empresas ligadas ao agronegócio negociadas na BM&FBovespa encerram primeiro trimestre do ano em alta.

Em alta, empresas do campo destoam na bolsa

Na contramão do Ibovespa, que amargou em 2013 o pior primeiro trimestre desde 1995 (queda de 7,55%), as ações das empresas ligadas ao agronegócio resistiram ao azedume dos investidores e iniciaram o ano em alta. Das 15 companhias do setor listadas na BM&FBovespa, 11 se valorizaram e apenas três registraram perdas entre janeiro e março.

Entre as companhias com receita líquida superior a R$ 1 bilhão (linha de corte que exclui Agrenco, BrasilAgro, Nutriplant e Renar), a Vigor Alimentos foi o grande destaque, com valorização de 33,3%. A elevação foi, em grande parte, impulsionada pelo anúncio de compra de uma participação de 50% na Itambé S.A. Juntas, as duas companhias devem gerar uma receita estimada em R$ 4 bilhões. É preciso observar, entretanto, que a liquidez da Vigor na bolsa ainda é baixa.
 
As empresa de alimentos com foco em carnes também registraram bom desempenho. Entre janeiro e março, as ações da Minerva Foods subiram 16,5%, acompanhadas de perto pelos papéis da JBS, com alta de 13,3%. Um pouco atrás, a BRF registrou uma valorização de 6,22%.

As ações de JBS e Minerva, em particular, foram beneficiadas pelo cenário favorável para a produção de carne bovina no Brasil (reflexo da oferta mais equilibrada de boi gordo para abate), redução de seus índices de alavancagem e melhora do perfil da dívida depois das bem-sucedidas emissões externas realizadas no fim de janeiro – JBS e Minerva captaram US$ 500 milhões e US$ 850 milhões, respectivamente.

A JBS também foi beneficiada pela decisão do Japão de relaxar as restrições à importação de carne bovina dos Estados Unidos, assim como pelo fechamento de uma importante planta de abate da Cargill naquele país, em janeiro – em 2012, o abate de bovinos nos Estados Unidos foi a maior fonte de receita do frigorífico brasileiro. Diante do cenário positivo, a Moody’s elevou a nota de crédito da JBS no fim de março.

Em contrapartida, a Marfrig se manteve sob pressão dos investidores diante da preocupação com o endividamento elevado e os problemas de caixa da companhia. Após uma expressiva desvalorização no trimestre anterior, as ações até esboçaram uma reação em janeiro, mas não mantiveram o fôlego e encerraram o trimestre com desvalorização de 0,47%. Somente no dia 28 de março (último pregão do período) os papéis recuaram 5,1% em decorrência do balanço publicado na noite anterior, que revelou um prejuízo líquido de R$ 284,2 milhões no 4º trimestre de 2012.

Outra empresa que se destacou no 1º trimestre foi a Fertilizantes Heringer, com valorização de 15,16% na bolsa paulista. A alta reflete, em parte, a recuperação dos resultados da companhia nos últimos meses. Após três trimestres com resultados desfavoráveis, a Heringer fechou 2012 com aumento de 7,7% no lucro líquido e de 8,8% no Ebitda (lucro antes de juros, depreciação e amortizações) na comparação com o 4º trimestre de 2011, de acordo com balanço publicado em março.

As companhias do segmento sucroalcooleiro viram suas ações subirem no primeiro trimestre. A Cosan (que obtém a maior fatia de sua receita da distribuição de combustíveis) teve valorização de 8,6%, seguida por Tereos e São Martinho – que avançaram 2,91% e 1,61%, respectivamente.

De modo geral, as usinas ainda têm enfrentado dificuldades com os baixos preços do açúcar no mercado internacional – na bolsa de Nova York, a commodity é negociada no menor patamar desde meados de 2010.

No entanto, o mercado está otimista com a colheita da nova safra de cana-de-açúcar (2013/14), em virtude das condições climáticas excepcionalmente favoráveis no Centro-Sul do país nos últimos meses. Há, ainda, uma perspectiva favorável em relação à demanda doméstica por etanol, após a confirmação do aumento da mistura de etanol anidro na gasolina e do reajuste nos preços do combustível fóssil.

Entre as empresas produtoras de grãos, a Vanguarda Agro foi a que obteve o melhor desempenho no primeiro trimestre deste ano. As ações da companhia subiram 4,88% no período. A companhia, que cultiva uma área de 300 mil hectares em todo o país, deflagrou no fim de 2012 um processo de reestruturação bem recebido pelos mercado. Ainda no fim do ano passado, a empresa recebeu uma injeção de capital de R$ 350 milhões da Gávea Investimentos (que reduziu à quase metade seu endividamento líquido) e contratou um novo CEO – Arlindo Moura, ex-comandante da SLC Agrícola.

Em compensação, as ações da SLC recuaram 6,1% nos primeiros três meses do ano, o que reflete, ao menos em parte, os problemas com a estiagem na Bahia e no Piauí (onde a empresa concentra uma fatia relevante de sua área plantada) nos meses de dezembro e janeiro, que prejudicou o potencial produtivo de suas lavouras nesta safra 2012/13.

O resultado que mais chama atenção entre todas as empresas do setor é o da Agrenco, cujas ações subiram 141,67% no primeiro trimestre. Com dívidas da ordem de R$ 1,6 bilhão, a trading de soja, que entrou em um conturbado processo de recuperação judicial ainda em 2008 e interrompeu suas operações há um ano e meio, vem se movimentando para retomar suas atividades e sair do limbo.

No fim de março, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP) suspendeu o plano de recuperação judicial da Agrenco, que previa a venda das duas plantas da companhia, em Caarapó (MS) e Alto Araguaia (MT) – a decisão foi ao encontro dos interesses da empresa, que lutava para não ver seus dois únicos ativos relevantes liquidados. A Agrenco tem até o fim deste mês para apresentar à Justiça um novo plano, sob o risco de ter sua falência decretada.