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Exportação

Em ano de crise, o equilíbrio do agronegócio virá de fora

Agropecuária brasileira buscará compensar queda do consumo interno com aumento das exportações, valorizadas pela alta do dólar.

Em ano de crise, o equilíbrio do agronegócio virá de fora

Acostumado com a bonança trazida pelas recentes marés de safras cheias, crédito farto e consumo aquecido, o agronegócio brasileiro se prepara para navegar em águas turvas em 2016. Com a economia retraída e com custos maiores de produção, a agropecuária tentará driblar a crise com a ajuda de um aliado que ganhou força nos últimos anos: o mercado externo.

De 2010 a 2015, as cifras em reais das exportações do agronegócio mais do que dobraram no Brasil, puxadas pela recente valorização do dólar. Em 2016, os embarques devem crescer 15%, chegando a R$ 333 bilhões, conforme o Ministério da Agricultura. A projeção de alta vem especialmente das carnes, que em 2015 comemorou a reabertura e a conquista de novos mercados, como China, Japão, Arábia Saudita, Irã e Iraque.

Somente a China habilitou 16 frigoríficos, dois deles no Estado: unidades da Marfrig em Alegrete e Bagé. E, para o primeiro semestre de 2016, é esperada a autorização de embarques de carne bovina in natura para o mercado americano.

– A exportação será o fator de equilíbrio em 2016 – indica Antônio Camardelli, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec).

A conquista de mercados faz a entidade apostar em recorde das exportações em 2016, superando os cerca de US$ 7,2 bilhões de 2014, chegando a US$ 8 bilhões.

Hoje, 80% da carne bovina produzida no país é consumida pelos próprios brasileiros, percentual próximo da carne suína, de 85%. Já o mercado doméstico responde por 70% da produção de frango.

– Os brasileiros são os principais consumidores da produção primária – lembra Antonio da Luz, economista-chefe do Sistema Farsul, que projeta uma redução de 5,4% no Produto Interno Bruto da agropecuária gaúcha em 2016.

Conforme Luz, haverá redução do consumo por conta do aumento do desemprego e do endividamento das famílias, além da alta na inflação e do crédito restrito.

– Mas, diferentemente do Brasil, o mundo está crescendo, o que faz das exportações o melhor caminho – completa Luz.

As esperanças com as exportações são alimentadas também pela cotação do dólar no câmbio brasileiro, que chegou a ultrapassar a barreira dos R$ 4 neste ano.

– É moeda forte que trazemos para o país em um cenário de retração doméstica. Precisamos ter janelas bem abertas ao Exterior – diz Francisco Turra, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).

Operador do terminal de conteineres do porto de Rio Grande, por onde é exportada a produção de carnes industrializada do Estado, o Tecon registrou volumes maiores de embarques do agronegócio em 2015. O destaque foram as aves.

– O agro representou 40% das exportações via conteiner. Em 2016, a expectativa é que esse percentual seja ainda maior – indica Rodrigo Velho, gerente comercial do Tecon Rio Grande.

Apesar de ter fechado 2015 com aumento no consumo interno, os setores de aves e suínos não esperam repetir o resultado em 2016. Para Turra, o aumento deve ficar apenas com as exportações.

Em 2015, a China habilitou 32 unidades brasileiras de abates de aves e suínos. O potencial de aumento dosembarques da carne de frango in natura é de US$ 414 milhões ao ano e da suína de US$ 101 milhões, conforme o Ministério da Agricultura.

Também é esperado aumento dos negócios no setor de lácteos (US$ 78 milhões em 20 mil toneladas), que passou a acessar os maiores mercados mundiais: China, Rússia e Japão – responsáveis por 23,5% das importações do segmento em 2014.

Dependência do câmbio e do El Niño

Com crédito escasso e custos de produção 25% maiores em 2015, a agropecuária brasileira dependerá em grande parte da variação do dólar e da intensidade do El Niño no verão.

– Os outros fatores (crédito e custos de produção) já estão definidos. O que irá determinar o desempenho do agro em 2016 será o clima e a variação do câmbio daqui para frente – aponta Roberto Rodrigues, coordenador do Centro de Agronegócios da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Caracterizado por chuvas intensas no Sul e estiagens prolongadas no Norte, o fenômeno já provocou transtornos no início da safra de grãos no país. Enquanto o Rio Grande do Sul sofreu com excesso de umidade na primavera, prejudicando as lavouras de trigo e de arroz, Estados como o Mato Grosso tiveram de replantar as lavouras de soja por falta de precipitação. Na área contábil, o produtor vem arcando com custos de produção 25% maiores, por conta da alta da moeda americana e de reajuste nas tarifas de energia elétrica e dos combustíveis.

Mesmo não sendo o mais animador dos cenários, o agronegócio está longe de passar por crise. Há chances de o país bater novo recorde na safra de grãos. Conforme o último levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção brasileira poderá chegar a 210 millhões de toneladas. No Rio Grande do Sul, a estimativa é de que a colheita chegue a 30,2 milhões de toneladas, a segunda maior da história – com a soja responsável por quase metade desse volume.

– O agropecuária continuará sendo a locomotiva da economia em 2016, salvando a balança comercial e contribuindo para segurar a queda do PIB novamente – completa Rodrigues.

Quando comparado aos demais setores da economia, a agropecuária tem a vantagem de depender menos do mercado doméstico.

– Claro que o agronegócio também é afetado por um crise nacional, mas numa proporção bem menor do que a indústria e os serviços – compara Alexandre Englert Barbosa, superintendente de riscos e economia do Banco Cooperativo Sicredi.

Embora já tenha vivido anos melhores, a produção agropecuária ainda é fortemente beneficiada pela demanda de países asiáticos, como a China, que segue ampliando as importações de alimentos.

– Os mercados voltados à exportação deverão sentir menos. O dólar alto tem ajudado a manter o preço de commodities elevado, representando margens positivas aos produtores – completa o economista.

Quanto aos investimentos, Barbosa estima que será um ano de cautela, pela limitação de financiamentos públicos.