Depois de amargar neste ano o pior desempenho desde 2003 em função da freada nos investimentos provocada pela crise econômica global, os fabricantes de vagões ferroviários esperam receber um novo fôlego em 2010. “Empresas como ALL, MRS e Vale devem ir às compras”, comenta o diretor executivo do Sindicato Interestadual da Indústria de Materiais e Equipamentos Ferroviários e Rodoviários (Simefre), Francisco Petrini, que prevê um mercado total de 3,5 mil a 4 mil unidades anuais no país nos próximos quatro a cinco anos, ante não mais do que 1 mil em 2009.
Conforme Petrini, a projeção não inclui a demanda por carros de passageiros. Um pouco mais conservador, o grupo gaúcho Randon prevê uma produção total de 2,5 mil a 3 mil vagões de carga por ano no país pelo menos até 2013, mas no mês passado já fechou um contrato para fornecer 300 graneleiros para a japonesa Mitsui Rail Capital Participações até março do ano que vem. O negócio alcança R$ 55 milhões e os equipamentos serão alugados para a Multigrain, que vai utilizá-los na Ferrovia Centro-Atlântica.
“Nossa meta é participação de 30% do mercado”, afirma o diretor industrial da Randon Implementos, Celso Santa Catarina. A fatia deve ser alcançada já neste ano, se a empresa atingir a produção prevista de 300 vagões, incluindo as primeiras entregas para a Mitsui em dezembro, ante as 82 unidades vendidas em 2008. De acordo com o Simefre, o recorde da indústria nacional é de 2005, quando foram produzidos quase 7 mil vagões. Em 2003 foram pouco mais de 2 mil equipamentos. O pior ano foi 2002 (ver ilustração ao lado).
Mesmo com a esperada expansão da demanda, as indústrias não terão dificuldade em atender as encomendas nos próximos anos porque têm uma capacidade instalada de 12 mil unidades por ano, afirma Petrini. Segundo Santa Catarina, a Randon pode fabricar dez vagões por dia ou “um pouco mais”. Os equipamentos são produzidos na mesma unidade onde a empresa fabrica reboques e semirreboques rodoviários e a troca de uma linha para outra leva apenas uma semana. “Nosso processo industrial é flexível”, afirma o executivo.
As expectativas otimistas ainda não se transformaram em contratos assinados, mas já existem muitas cotações em andamento, afirma Santa Catarina. A Santa Fé Vagões, controlada pela América latina Logística (ALL), também está em fase de negociação com os clientes, mas informou, por intermédio de sua assessoria, que os volumes não são divulgados porque ainda se trata de um dado “confidencial”. Neste ano a empresa prevê uma produção de 870 unidades, mas o número inclui vagões novos, adaptados e reformados.
A Santa Fé entrou em operação em dezembro de 2005 na cidade de Santa Maria (RS) a partir de uma sociedade entre a ALL e a Millinium Investimentos, subsidiária da indiana Besco Engenharia e Serviços. Em maio os indianos saíram do negócio e a administração da empresa foi transferida para Curitiba, na sede da ALL. A capacidade instalada chega a 1 mil unidades por ano, incluindo uma fábrica em Campinas (SP) dedicada à reforma de equipamentos, além da produção de material rodante.
Na demonstração de resultados referente ao segundo trimestre deste ano, a ALL informa que a Santa Fé teve receita bruta de R$ 20,5 milhões no primeiro semestre, ante R$ 10,7 milhões em igual período do ano passado. Mesmo assim, a elevação dos custos de produção e das despesas operacionais e financeiras aumentou o prejuízo de R$ 800 mil para R$ 4,1 milhões no mesmo intervalo. Em 2008 ela obteve receita bruta de R$ 30,1 milhões e prejuízo de R$ 5,5 milhões. Com fábricas em São Paulo, a Amsted Maxion foi procurada, mas até o fechamento da edição não indicou um representante para ser entrevistado.