As exportações brasileiras de carne bovina devem ultrapassar US$ 5 bilhões este ano, estima Antônio Camardelli, presidente da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carnes (Abiec). O valor é cerca de 4% superior ao registrado no ano passado, quando as vendas externas do produto somaram US$ 4,8 bilhões.
Para os volumes exportados, porém, a estimativa é de uma queda expressiva, entre 15% e 20%, de acordo com Camardelli, que apresentou ontem os números das vendas externas do setor até setembro. No ano que passou, os embarques de carne bovina do Brasil alcançaram 1,8 milhão de toneladas.
A razão para a forte queda esperada nos volumes exportados são, segundo Camardelli, a oferta menor de matéria-prima, o cenário econômico internacional que afeta a demanda e a crise nos países árabes, que acabou impactando as vendas do Brasil.
Os números das exportações em setembro já refletem o cenário externo. As vendas somaram US$ 457,8 milhões no mês, 25% mais do que os US$ 366,4 milhões de igual mês de 2010. Em volume, as vendas recuaram 4,45% na mesma comparação, para 84,4 mil toneladas.
Da receita total registrada em setembro, US$ 393,2 milhões foram carne in natura e o restante, processada. Em volume, foram 74,6 mil toneladas de carne in natura (uma queda de 3,14%) e 9,8 mil toneladas de industrializada (recuo de 13,4%).
O aumento na receita com os embarques de carne pode ser explicado pela elevação dos preços médios na exportação, decorrentes da menor oferta, principalmente. Em setembro, o preço médio foi de US$ 5.423 por tonelada, alta de 30,76% sobre igual mês de 2010, segundo a Abiec.
De acordo com Camardelli, a oferta menor de carne bovina e a crise já levam a União Europeia a mudar a “configuração do cardápio”, com menos cortes de filé mignon e mais contra-filé.
Ele disse, porém, que as restrições da Rússia a estabelecimentos exportadores do Brasil não afetaram as vendas àquele país, já que as empresas conseguiram redirecionar as exportações para unidades não afetadas. Em setembro, o país comprou 20,2 mil toneladas de carne do Brasil.
Já as exportações de carne industrializada continuam pressionadas. O principal motivo é a queda das vendas ao mercado americano, ainda por influência do imbróglio da ivermectina, um vermífugo usado no rebanho bovino. No ano passado, os EUA detectaram níveis de resíduos do vermífugo acima do limite em carne industrializada do Brasil. Análises para detectar tais resíduos aumentaram os custos dos exportadores, desestimulando as vendas. “Isso nos tira a competitividade”, disse Camardelli.
Os números entre janeiro e setembro já refletem o esperado para todo o ano. No período, as exportações brasileiras de carne (in natura e industrializada) alcançaram US$ 3,563 bilhões, alta de 3,88% sobre o mesmo intervalo do ano passado. Em volume, foram 689,5 mil toneladas, um recuo de 21% em relação ao período entre janeiro e setembro do ano passado.