Redação AI 09/02/2005 – Paraná e Rio Grande do Sul serão os Estados mais beneficiados pelo fim do embargo russo às exportações de carne de frango brasileiro. A avaliação é de Cláudio Martins, secretário executivo da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frango (ABEF).
Alegando que um foco de febre aftosa no rebanho bovino do Amazonas poria em risco as exportações de todos os tipos de carne brasileira, a Rússia barrou a entrada do produto brasileiro em 22 de setembro. Contudo, a decisão abriu brechas para que os embarques prosseguissem. Toda a produção anterior ao dia 22 de setembro pode ser embarcada para a Rússia. “O resultado disso foi que até meados de novembro, o Brasil continuou exportando”, explica Martins.
O secretário executivo da Abef disse que, exatamente quando o cenário parecia se complicar, Moscou liberou a entrada das carnes produzidas em Santa Catarina, o único Estado brasileiro livre de aftosa sem vacinação. Por coincidência, Santa Catarina também é o maior exportador de frango do Brasil.
O resultado foi que as exportações para a Rússia foram todas canalizadas para as empresas catarinenses. “O Paraná e Rio Grande do Sul cobriram o vácuo catarinense no mercado interno”, explica o executivo.
A reabertura da Rússia para outros Estados vai permitir maior flexibilidade para as empresas paranaenses e gaúchas em 2005. Em 2003, sem o embargo sanitário, Santa Catarina respondia por 31,9% do total das exportações brasileiras, o Rio Grande do Sul tinha uma fatia de 28,5% e o Paraná tinha 25,8%.
Cláudio Martins disse que a resolução da crise sanitária com a Rússia era uma questão de honra para o setor. Segundo ele, o país é o maior exportador mundial da carne justamente devido à excelência sanitária da produção. Este capital estava sendo posto em risco pela decisão de Moscou.
“Foi fundamental o trabalho dos técnicos do Ministério da Agricultura, que mostraram cientificamente aos russos que não havia qualquer embasamento para associar a febre aftosa à produção de frango brasileira”, diz Martins. O secretário executivo da Abef também destacou as gestões do ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues e a carta enviada pelo chanceler Celso Amorim a seu colega, semana passada. “Foi uma carta dura, em que o chanceler mostrou que a postura da Rússia não condizia com a relação comercial dos dois países”, disse Martins.
Para o executivo da Abef, a decisão dos russos também pode ser encarada de forma positiva para as exportações de carne suína e de carne bovina, ainda barradas por Moscou. “Faltam apenas formalidades técnicas para que o Brasil resolva também estes problemas sanitários com a Rússia.”
Na opinião de Martins, o fim das barreiras sanitárias russas abre uma brecha diplomática. Com o aceno, Moscou sinaliza que quer retomar as negociações entre os dois países para a entrada russa na OMC.
O comércio bilateral na área de carnes é um grande entrave para que o Brasil permita a entrada dos russos. Desde o ano passado, aquele país impõe quotas de importação de carne por origem. Como resultado, o Brasil é preterido em favor de “fornecedores tradicionais”. Em 2004, a Rússia decidiu importar 1,050 milhão de toneladas, e destinou grandes volumes aos EUA, União Européia e China. Ao Brasil, coube disputar uma quota reduzida de 68 mil toneladas destinada a “outros países”. O País acabou se saindo muito melhor do que o que se esperava porque os fornecedores com quota não tiveram capacidade de cumpri-la e o volume foi redirecionado para quem fosse mais competitivo.
As exportações totais brasileiras de frango somaram US$ 2,6 bilhões em 2004, uma alta de 44% sobre o ano anterior. Em volume, as vendas externas atingiram 2,469 milhões de toneladas, alta de 26%. O Brasil fechou o ano como maior exportador em receita cambial e em volume.