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Economia

Emergentes investem como nunca no exterior

Aquisições por empresas dos Bric alcançaram US$ 144,4 bilhões em 2010. Agência da ONU destaca o Brasil.

Os países em desenvolvimento e em transição bateram recorde de investimentos no exterior em 2010, em termos absolutos e na sua fatia no total global, e essa tendência deve continuar em 2011, segundo a Agência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad).

Além de terem recebido US$ 713,3 bilhões de Investimentos Diretos Estrangeiros (IDE), representando 53% do total, esses países se tornaram cada vez mais investidores no exterior, com suas multinacionais aplicando US$ 316 bilhões para aproveitar oportunidades sobretudo nos próprios mercados emergentes.

As aquisições por empresas de Brasil, China, Rússia e Índia alcançaram US$ 144,4 bilhões, numa agilidade que contrasta com a relutância de muitas multinacionais de países desenvolvidos em meio a persistentes incertezas na economia global.

A agência da ONU destaca o caso do Brasil, que passou de fluxo negativo em 2009 (- US$ 10 bilhões) para US$ 11,5 bilhões de aquisições externas em 2010. Companhias da América Latina e Caribe registraram o maior crescimento nesse fluxo, com US$ 83,9 bilhões, numa alta de 76,4%.

No total, o crescimento do fluxo de IDE por países em desenvolvimento e em transição foi de 23%, totalizando US$ 316 bilhões. Isso representou 28% do fluxo global, numa enorme alta em comparação aos 15% em 2007. A parte do leão (70%) desses investimentos foi feita em outros países em desenvolvimento, com recuperação forte e melhores perspectivas econômicas.

Por sua vez, grandes multinacionais de países desenvolvidos, apesar de terem muita liquidez, graças a bons lucros recentemente, diminuíram o ritmo de investimentos externos. Mas a fatia de seus recursos aplicados nas economias em desenvolvimento continuou crescendo significativamente, para 50% do total de US$ 970 bilhões em 2010, comparada a 30% antes da crise global.

Os investimentos das empresas da Europa no exterior só cresceram 3%, comparados a 31% no caso das companhias dos Estados Unidos, o que ilustra a diferente situação das duas economias. Já o fluxo de IDE do Japão caiu 24% e deve continuar declinando este ano, agora por causa do tsunami e crise nuclear no país.

Em 2010, o fluxo de IDE ocorreu sobretudo com ganhos reinvestidos pelas empresas graças a um melhor desempenho de economias emergentes e mais ganho de suas filiais. Também aumentaram as operações de empréstimos intrafirmas, compensando a queda nos investimentos novos.

Até agora, a Unctad fazia a avaliação trimestral dos Investimentos Diretos Estrangeiros (IDE) pelo lado de entrada do capital nos países. Desta vez, resolveu examinar o fluxo pela saída, para identificar os que mais estão investindo fora.

A agência da ONU confirma um fluxo de IDE de US$ 1,346 trilhão, com crescimento de 13%, mas inferior em 40% ao pico de 2007, antes da crise financeira global. As aquisições e fusões transfronteiras continuam voláteis. Subiram em 2010, mas caíram de novo no primeiro trimestre deste ano.

James Zhan, diretor da área de investimentos da Unctad, reitera a projeção de US$ 1,5 trilhão para este ano. Ele vê muitas oportunidades numa nova onda de privatizações em países onde os cofres públicos estão vazios. Mas constata que a relutância ainda é forte entre muitas empresas, diante dos crescentes riscos na economia global.

“Os riscos de os fluxos descarrilarem existem”, diz ele. Exemplifica com problemas na governança global, como o fiasco da Rodada Doha de liberalização comercial, além da crise da divida soberana na Europa, alta nos preços do petróleo, riscos de inflação e volatilidade no câmbio.

Para Zhan, em todo caso o realinhamento das moedas terá impacto misto no fluxo de IDE. De um lado, muitas empresas não serão tentadas a investir num país para exportar, por causa da moeda local forte. Mas, com a economia interna crescendo, essas empresas vão querer ampliar sua fatia no mercado, já que seus lucros tendem a crescer localmente e com a moeda forte.