Ao lançar ontem (08/10) o Programa Brasileiro GHG Protocol — um padrão nacional para realização de inventários de emissões de gases responsáveis pelo efeito estufa, como o dióxido de carbono — o País começou a dar os primeiros passos, ainda que tímidos, em direção a uma economia de baixo carbono, o que significa crescer economicamente jogando menos gás carbônico na atmosfera.
Sob coordenação do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (FGV), 22 grandes empresas e instituições aderiram à iniciativa, divulgando seus inventários de emissões. Nenhuma delas, porém, se comprometeu no evento com metas voluntárias de redução.
Isso será feito em uma segunda etapa.
Algumas empresas, contudo, já possuíam metas voluntárias.
Apenas dez companhias (Alcoa, Ambev, Anglo American, Cesp, CNEC, Embraer, Ford, Natura, Suzano Papel e Celulose e Votorantim) preencheram todos os quesitos do inventário, ou seja, mensuram as emissões diretas e indiretas de gases, incluindo toda a cadeia produtiva, como a poluição de seus fornecedores, por exemplo.
Estas empresas que aderiram ao GHG Protocol emitiram em 2008, juntas, 85,2 milhões de toneladas de gás carbônico equivalente (CO2e), medida que soma outros gases poluentes, como o metano. A poluição gerada pela elite das empresas instaladas no país representou 3,8% daquilo que o Brasil jogou na atmosfera em 2005 ou 8,5% do que foi emitido no mesmo período, excluindo desmatamento e degradação do solo, segundo projeções.
EUA e Europa adotam barreiras não-tarifárias
A Petrobras liderou o ranking das 22 empresas com 51 milhões de toneladas de CO2e. Caso fossem incluídas as emissões provenientes de toda a cadeia produtiva da petrolífera, o volume de suas emissões poderia triplicar.
O segundo lugar ficou com a Votorantim, que emitiu 19,4 milhões de toneladas de CO2e.
“Pretendemos entregar ao novo presidente da República, eleito em 2010, uma proposta do empresariado nacional com as diretrizes para uma economia de baixo carbono”, disse Mário Monzoni, da FGV, comentando que essas empresas se comprometeram, a partir de agora, a fazerem inventários anuais. “Precisamos ter no País uma cultura permanente de inventários de emissões, caso contrário vamos perder competitividade no mercado internacional”.
Barreiras não tarifárias já começam a ser levantadas nos Estados Unidos e na Europa. O governo Obama aprovou na Câmara dos Representantes uma emenda que penaliza produtos de países que não adotaram medidas de combate à mudança do clima. Falta agora o Senado referendar.
A Europa, por sua vez, pretende adotar a política apelidada de “Três 20”: corte de 20% nas emissões, incremento de 20% da eficiência energética e aumento de 20% no uso de energia renovável até 2020.
“São emendas de cunho protecionista. Estamos junto com outros países propondo que o texto legal que emane destas negociações repudie medida protecionista na área comercial que venha a ser adotada a pretexto de proteção dita ambiental” avalia o embaixador extraordinário de Mudanças Climáticas do Itamaraty, Sérgio Serra.
Questões desta natureza devem ser dirigidas ao foro apropriado, que é a Organização Mundial do Comércio (OMC).
Goldemberg: Brasil na contramão do mundo
Protecionismo ou não, o fato é que, para o físico José Goldemberg, do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP, o “Brasil está se carbonizando, o que vai na contramão do mundo”.
Guilherme Freire, diretor de estratégias e tecnologias para o meio ambiente da Embraer, acredita que o protocolo brasileiro dará um salto na discussão ambiental: “A Embraer faz inventários desde 2006, mas a partir de agora vamos trocar nossas metas ambientais, que antes eram reduções de consumo de água, energia e combustível, para uma meta única de redução de CO2e”.
Se os cálculos preliminares estiverem corretos, as emissões brasileiras são cada vez mais oriundas das indústrias.
Em 1994, 70% das emissões eram causadas pelo desmatamento.
Hoje, a indústria pode ser responsável por 50% dos gases do efeito estufa.
Num discurso afinado com os europeus, o presidente Lula defendeu, no meio da semana, num encontro em Estocolmo, que é fundamental chegar à Conferência das Partes (COP15) da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, no fim deste ano em Copenhague, “sabendo concretamente quanto cada país emite”.
Só que, faltando 58 dias para a COP-15, o inventário brasileiro de emissões não ficou pronto. O primeiro e único documento data de 1994.