Redação (14/06/07) – "As dívidas vão arrefecer, mas não impedirão o crescimento", afirmou Fernando Homem de Melo, professor titular da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA/USP). Para ele, a recuperação ocorrerá no setor de grãos e café, mas será em parte corroída pela valorização do real. Já o setor de carnes sofrerá o efeito do aumento nos preços dos grãos. "A fase de ajustes ainda não acabou e haverá substituições de áreas no país nos próximos anos", disse.
Conforme pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o PIB da agropecuária cresceu 2,1% no primeiro trimestre comparado a igual intervalo de 2006, para R$ 28,725 bilhões. O PIB brasileiro cresceu 4,3% no mesmo período. No entanto, nos últimos 12 meses, o PIB da agropecuária cresceu 5,5%, ante 3,8% do PIB brasileiro. Homem de Melo citou o estudo de José Garcia Gasques, coordenador de planejamento estratégico do Ministério da Agricultura, que prevê para este ano um crescimento do PIB agrícola de 13,8%, para R$ 113,778 bilhões.
Para Guilherme Dias, professor titular da FEA/USP, os produtores brasileiros só conseguirão tirar maior proveito do ciclo de expansão global dos preços das commodities agrícolas – impulsionado principalmente pela febre dos biocombustíveis – se houver uma grande intervenção do governo federal na renegociação de dívidas.
Dias observou que o grau de endividamento dos produtores junto ao setor bancário no fim de 2006 já correspondia a 54,8% do valor do PIB agrícola. Um ano antes, a relação era de 44,7%. "Se for considerado todo o endividamento, o valor chega a 80% do PIB. É um número temerário e que coloca em risco a sustentabilidade do setor."
O economista salientou que o nível de inadimplência das dívidas agrícolas refinanciadas na década de 1990 e que começaram a ser pagas em 2002 nunca foi inferior a 40%. "Existe um elevado nível de sonegação fiscal e de inadimplência, o que leva os bancos a adotar taxas de juros elevadas. É um círculo vicioso", acrescentou Dias. Além do alto grau de endividamento e risco de inadimplência, pesa contra os produtores o aumento nos preços de insumos – de 90% desde 2002 – superior à elevação dos preços recebidos pelos agricultores (de 60% no mesmo período).
"Houve queda na rentabilidade dos agricultores, que esticaram as dívidas no passado e provavelmente não conseguirão pagar a parcela que vence neste ano", afirmou Dias. Segundo cálculos da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), há R$ 14,4 bilhões em dívidas que vencem neste ano. Já o Ministério estima que o valor seja de R$ 8 bilhões, dos quais no máximo R$ 4 bilhões seriam passíveis de prorrogação.
Os economistas, que participaram de um seminário na FEA/USP ontem, apontaram outro ponto frágil no movimento de expansão agrícola do país: a recente ligação entre os mercados agrícola e de energia (quatro vezes maior que o primeiro), com uma relação de dependência econômica do agrícola em relação ao de energia.
Ambos observaram que os produtores pressionados pelos fornecedores de insumos (todos os setores são controlados por três ou 4 empresas que determinam os preços) e pelos compradores de biocombustíveis – no caso brasileiro, a venda fica à cargo da Petrobras, que definirá os preços que pagará pelo álcool e o biodiesel.
Para os economistas, os produtores têm perdido o poder de negociação e o histórico de inadimplência também tira o poder de negociação dos agricultores junto ao governo e ao setor privado. Na área do biodiesel, há mais um limitante: a alta do óleo da soja, principal matéria-prima, que pode inviabilizar a produção no país.