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Entressafra e câmbio guiam cotações no campo em julho

<p>"Duelo" definirá tendências do mês, principalmente para grãos.</p>

Da Redação 05/07/2005 – O resultado da queda-de-braço entre entressafra de grãos e câmbio será fundamental para o comportamento dos preços agrícolas no mercado doméstico em julho. Segundo especialistas, neste mês também farão parte da equação as variações das cotações internacionais dos produtos de exportação e a intensidade do inverno brasileiro, que pode reduzir ou engordar a demanda por produtos como café e carnes.

Em maio, como economistas consultados pelo Valor previam inicialmente e como os principais índices inflacionários do país já acusaram, o campo colaborou para a queda do custo de vida. Pode ser que tal influência perca fôlego nas próximas semanas, mas, em princípio, também não é de se esperar pressão altista significativa, exceto em casos isolados como o da carne suína e do feijão.

“O feijão deverá continuar sustentado por conta da queda de entre 10% e 15% da segunda safra, enquanto as temperaturas mais baixas costumam elevar o consumo de carne suína, que, portanto, poderá subir mais”, afirmou Nelson Martin, do Instituto de Economia Agrícola (IEA), vinculado à Secretaria de Agricultura de São Paulo.

Em maio, tanto o feijão como a carne suína colaboraram para “segurar” o índice de preços recebidos (IPR) pelos produtores agropecuários paulistas, pesquisado pelo IEA. O indicador fechou o mês com variação negativa de 0,2% (terceira queda mensal seguida), mas o feijão subiu 14,75% e os suínos, 11,11%. A alta dos dois só perdeu, no mês, para o salto de 21,05% do amendoim, motivado pela quebra de 50% da safra da seca.

Apesar dessas valorizações, as fortes retrações da batata (50,98%), cujos preços estavam em elevado patamar, e do arroz (12,90%), que vive período de boa oferta, prevaleceram e determinaram a pequena variação negativa do IPR no mês. Na média ponderada, o grupo de produtos de origem vegetal caiu 1,39% em maio, ao passo que o grupo de produtos animais subiu 1,93%

Apesar do recuo, no acumulado deste ano a variação positiva do IPR, de 4,99%, supera a dos principais termômetros da inflação no país. Também no primeiro semestre, o IGP-M subiu 2,71% e o IPC-Fipe, 2,71% (conforme estimativa do IEA). A vantagem mostra ganho no poder de troca dos produtores agropecuários de São Paulo.

Para julho, Martin acredita que a entressafra de grãos prevalecerá sobre o câmbio e que o IPR deverá fechar o mês com pequena variação positiva, de até 0,5%. Mas a opinião do pesquisador não é consensual. Fabio Silveira, da MSConsult, por exemplo, aposta que o câmbio terá efeito mais pronunciado e estima leve retração dos preços agrícolas no atacado paulista neste mês.

Em junho, o índice de preços agrícolas pesquisado pela consultoria, formado por 14 produtos (soja, café, algodão, carnes, açúcar, arroz, feijão, milho, tomate, batata, trigo, leite, ovos e laranja), subiu 0,1% na comparação com a média de maio. Como no caso do IPR, feijão e carne suína já subiram no mês passado.

Tanto Nelson Martin quanto Fabio Silveira notaram o recente aumento da pressão sobre as cotações internacionais do café, com prováveis reflexos no mercado doméstico nas próximas semanas.

Para a soja, junho foi de altos e baixos e o mercado doméstico respondeu quase que instantaneamente à gangorra. Na primeira quinzena, quando as cotações dispararam na bolsa de Chicago em razão de previsões climáticas desfavoráveis às lavouras americanas, foi acelerado o ritmo da fase final de comercialização da safra 2004/05. Depois disso, quando os preços despencaram com novas previsões meteorológicas e vendas de fundos, as vendas domésticas também perderam ímpeto, conforme destacou Renato Sayeg, da Tetras Corretora, em recente entrevista. E, conforme Silveira, julho começou com as cotações ainda sem força.

No caso do milho, Chicago seguiu o script da soja em junho, mas agora deverá haver um descolamento maior do que o normal entre os mercados externo e interno, devido aos reflexos da entressafra depois de uma colheita magra.